Descontrole é total e mil mortes/dia virão esta semana

Aqui já se alertou há dias: a redução do número de casos e de mortes nos finais de semana – como aconteceu hoje, com os 500 óbitos frente aos 750 de ontem, e com os 6.760 novos contaminados, ante os 10.611 anteriores – não é um progresso, mas um testemunho, que se repete há oito semanas, da incapacidade de registro e notificação do que está acontecendo, que se paralisa, burocraticamente, nos finais de semana.

Em outro post já assinalei e atualizo agora, o que se passa com o “recesso de final de semana” das estruturas de notificação de casos e de óbitos. É só olhar.

Como a adoção de providências do Ministério da Saúde, de envio de meios e equipamentos e, até, de reforço de pessoal, depende destes números, é óbvio que, a cada sete dias, dois, ao menos, têm estatísticas imprestáveis, em meio a uma pandemia que, em 24 horas, pode explodir em qualquer localidade.

Basta olhar os saltos que, depois de cada final de semana, o registro de casos dá para saber que é assim e assim será na semana que vem, quando o número de casos e de mortes saltará perto de 50%, passando a perto de 15 mil e um milhar por dia, possivelmente nos colocando como país de maior aumento da pandemia no mundo.

Isso é a ponta do iceberg de nossas deficiências: a incapacidade de monitorar, com rapidez, os movimentos do vírus inimigo, pela simples razão de que não se conseguiram estabelecer, até agora, protocolos de diagnóstico e de registro minimamente confiáveis.

O novo coronavírus, porém, está se lixando para calendários e formulários e avança sem considerar fins de semana, feriados ou dias santos.

A história de que serão abertos centos ou milhares de novos leitos de UTI é, de forma resumida, mentira.

Não há pessoal capacitado para guarnecê-los. Se houver, será por abnegados que, de uma hora para outra, encararão o desafio de assumir práticas de intubação, sedação e de intensivismo com as quais não têm nenhuma intimidade de prática médica, porque não há mobilização obrigatória de quase duas dezenas milhares de médicos a elas acostumados, como os anestesiologistas, em geral “fora” dos SUS e, até, dos quadros permanentes dos hospitais privados.

O SUS é um grande esqueleto, que ainda para de pé pela abnegação do que resta de compreensão da saúde como um direito público, continuamente descarnado pela visão empresarial da medicina, num fenômeno semelhante ao que provocou tanta rejeição ao “Mais Médicos”, mesmo quando se tratava de ocupar lugares que eram recusados pela categoria.

É preciso aplaudir, e de pé, os médicos – de vínculo público e de emprego privado – que estão se atirando nesta luta, tanto quanto é preciso compreender que a saúde publica não pode ser assegurada, em espasmos, nas horas em que uma epidemia se instala, sem que as estruturas profissionais sejam aptas a isso.

O National Health System da Inglaterra – que não admitia, salvo em raríssimas exceções, a medicina privada – nasceu da impossibilidade de levar os ingleses estropiados pelas bombas nazistas a um hospital e perguntar, antes, se tinham com o que arcar as cirurgias de emergência, amputações em geral, com seu dinheiro.

Não foi obra de comunistas, nem mesmo dos trabalhistas. Foram os conservadores que o formulou, primeiramente e, após a guerra, a ideia do Welfare State, o Estado do Bem Estar Social que o impulsionou.

Sairemos com muitas mortes desta desgraça pandêmica, mas deveríamos ter uma chance, se o Ministério da Saúde cumprisse seu papel de coordenação, em lugar de portar-se como um impávido urubu, de olho apenas nos mortos.

 

 

 

 

 

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