Helena Chagas, n’Os Divergentes, traça o retrato da unanimidade que as provocações bolsonaristas conseguiram nos meios políticos e institucionais da República.
Quem surge alguém a a apoia-lo, quando surge, é figura detraquê, gente com a mente visivelmente avariada em sua fúria golpista, situação da qual, de forma alguma, já se pode excluir o atual presidente.
O problema é que há – e como há – gente assim nas polícias e nas Forças Armadas e a parte sã das instituições militares, de tanto silêncio que acumulou, já não consegue falar nem o óbvio: sobre sua fidelidade à ordem constitucional.
Correm o risco de serem surpreendidas por ações do bolsonarismo-raiz armado e não terem como reagir serenamente por terem perdido a chance de fazê-lo enquanto havia – e ainda há – condições de fazê-lo pela força.
Bastaria, por exemplo, um pronunciamento óbvio para que se cumpram os regulamentos castrenses que proíbem manifestação políticas e partidárias e o recado estaria dado.
Mas a mensagem que foi enviada, ao não coagir à disciplina um general, aquele Eduardo Pazuello, é exatamente o contrário.
Bolsonaro une todos contra ensaio golpista
Helena Chagas
“O presidente da República precisa ser contido”, ouvimos agora pela manhã o governador do Maranhão, Flavio Dino, dizer em entrevista à GloboNews. Uma afirmação pública surreal na boca de qualquer governador, em qualquer dos governos republicanos desde o fim da ditadura militar. Mas lamentavelmente real sob Jair Bolsonaro. Dino se preparava para entrar na reunião de governadores marcada para hoje, mais um gesto institucional de aviso ao navegante Bolsonaro de que, se ele quer golpe, que o faça sozinho.
Conseguirá? O ensaio de golpe para o Sete de Setembro vem encontrado obstáculos. Roberto Jefferson foi preso por ordem de Alexandre de Moraes – gesto que inclusive está na origem do pedido de impeachment que o ministro sofreu do presidente da República. O sertanejo Sergio Reis e outros bolsonaristas estão proibidos de aparecer na Praça dos Três Poderes.
O comandante da PM do interior de SP que convocou seus companheiros e subordinados para o ato bolsonarista do Sete de Setembro na Paulista acaba de ser destituído por João Doria – e outros governadores se preparam para fazer o mesmo com seus rebeldes.
A pergunta que não quer calar é se os bolsominions vão conseguir criar a confusão que o presidente espera no aniversário da Independência, a ponto de dar a ele o desejado pretexto para convocar uma hipotética intervenção dos militares para conter uma suposta quebra da ordem. Difícil. Por mais que coloque a militância barulhenta nas ruas, fazendo e acontecendo, todo mundo sabe que ali não se trata de povo – são extremistas de direita que têm até direito de ir às ruas, mas não de defender golpes contra a democracia.
Estranhamente, Bolsonaro anunciou que estará na manifestação da Paulista no Sete de Setembro – até porque não haverá parada em Brasília. Tanto pode ser um jeito de evitar confronto na capital, onde estão o STF e o Congresso, quanto de botar lenha na fogueira no lugar onde há mais chances de haver gente.
O mais importante, porém, é que no plano político-institucional, vai estar sozinho: já ficou claro que o presidente da República conseguiu unir todo mundo contra ele.