A quem achar que liberalismo econômico extremo, como quer o tal “mercado”, pode conviver com democracia, recomendo a leitura da reportagem de Thais Carrança, da BBC : “5 dados que mostram como brasileiros ricos passam bem pela pandemia“.
Do texto, quase rescende o perfume de Maria Antonieta:
Em meio à pandemia, enquanto a maior parte do país sofria com perda de renda, em meio ao avanço do desemprego e da inflação, os brasileiros mais ricos se viram impedidos de gastar em viagens internacionais e em compras nas principais capitais do consumo do mundo.
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Com uma “poupança forçada” pela mudança de hábitos, eles gastaram em luxos no mercado nacional e investiram volume recorde de dinheiro no exterior.
Assim, enquanto parte da população fazia fila para receber ossos no açougue, em meio aos preços recordes da carne e ao avanço da fome, outra parcela — bem menor — aguardava na fila para comprar um helicóptero.
Segundo um fabricante ouvido pela BBC News Brasil, a espera por uma aeronave nova chegou a 20 meses, dependendo do modelo, em meio a um salto de demanda.
Daí, Thais passa aos jatos executivos, aos Porsches, aos apartamentos de luxo e superluxo, aos investimentos de brasileiros no exterior, todos dando saltos para cima: brioches num país às voltas com a fome de quase 20 milhões de pessoas devolvidas ao mais completo desamparo.
Discutimos a elevação, mais que necessária, da isenção do Imposto de Renda, mas jamais a compensação deste alívio taxando quem tem renda para estes arroubos consumistas ou para aqueles que recebem dividendos, isentos de tributação, seja lá qual for o valor.
E a classe média e média baixa, taxada impiedosamente, entra na conversa de que “mais imposto, não” e, com isso, defende a turma que, ao contrário dela, pode desfrutar de lanchas, jatos, coberturas imensas e carros “de status”.
Pobre país que, no século que ainda não aprendeu que luxo para milhares não esconde o lixo para milhões.