A betesga de Paulo Guedes

Não há o que defina melhor as desventuras de Paulo Guedes, hoje, que uma velha expressão portuguesa, com sabor de Eça de Queiroz – não, presidente, o Queiroz do Eça não é provocação – que chama de “meter o Rocio na Betesga” às impossibilidades, às tarefas inviáveis e desastrosas. Pois o Rocio é um enorme largo de Lisboa e a Rua da Betesga, um beco, o que a própria palavra betesga, por si, já significa: ruazinha, viela.

Pois Jair Bolsonaro exige-lhe um programa de impacto como o tal Renda Brasil, que ao menos lembre o atual auxílio-emergencial, sem que possa aumentar impostos ou eliminar os atuais programas sociais.

Está o sr. Guedes, para continuar no clima da terrinha, feito aqueles portugueses donos de armazéns, com o lápis metido atrás da orelha, a olhar para as contas públicas e a colecionar ideias politicamente estapafúrdias, para “dar à malta tirando à malta”.

E lá vai o ministro “experimentando”: tira-se o abono salarial, tira-se o salário-família, escama-se os pescadores de seu seguro-defeso, liquida-se a Farmácia Popular e, a nova de agora, retiram-se os descontos de médicos e escolas nas declarações de Imposto de Renda.

Mas além de inventar de onde o dinheiro sai – e não pode sair dos bancos ou do mercado financeiro – deve por nos cálculos o quanto hão de chiar os prejudicados.

No caso das deduções, justo a classe média tão essencial ao bolsonarismo, aliás receberia em cheio este castigo, pois os planos de saúde, pesados como andam, só dão alívio na hora da declaração de renda.

Claro está que as chances de fazer tal banzé nas estrutura fiscais e nos programas assistenciais já consolidados há décadas não é simples e exige uma sustentação parlamentar que, convenhamos, mesmo que existisse, dificilmente aceitaria a antipatia num ano eleitoral.

Se isso fora pouco, está lá o “seu” Guedes às voltas com o problema de como gastar dinheiro sem estourar o sacrossanto “teto de gastos”, que substituiu o antigo “tripé macroeconômico” (lembram-se dele?) como santo do altar neoliberal.

E mais herege será ainda se ousar mexer em outro dogma da Sagrada Congregação da Doutrina da Fé Neoliberal: a criação de um novo imposto, com cara de CPMF.

Ah, sim, ainda se tem, porém, de arranjar um “troco”, coisa aí de R$ 5 bilhões, para os ministros Rogério Marinho – o novo “queridinho” do presidente – e Tarcísio Gomes de Freitas tocarem obras que permitam repetir o hino de Garrastazu Médici: “este é um país que vai a frente, ô, ô, ô…”

Quem achou que foi “brincadeirinha” Bolsonaro chamar o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, da PG-2, ontem, conhece muito pouco os métodos de Bolsonaro.

Quem está metido na betesga é o ex-Posto Ypiranga.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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