Papel de Haddad é ser o antípoda de Guedes

Definir numa frase de fácil compreensão sobre a missão confiada por Lula a Fernando Haddad, ao entregar-lhe o Ministério da Fazenda talvez pudesse ser algo satisfeito pela expressão “fazer sem chacoalhar”, exatamente o contrário do papel que teve Paulo Guedes que tinha como missão exatamente chacoalhar mais do que propriamente modificar a dinâmica econômica herdada de Henrique Meirelles e do governo Temer (ou até de antes, se lembrarmos do período Joaquim Levy).

Ao contrário do “Posto Ipiranga”, não se esperem de Haddad falas bombásticas, como aquelas do “um trilhão” que Guedes prometia com tudo, desde privatizações e reforma da Previdência. Não será assim nem mesmo na única reforma no radar do novo governo, a tributária, vai cuidar mais da simplificação dos impostos, da farra de desonerações e de algum ganho tributário na questão de lucros e dividendos.

Está claríssimo para Lula que é preciso criar algum clima de otimismo econômico para propor mudanças maiores e começar a descolar as vozes do setor produtivo das da especulação financeira para criar certa estabilidade de ânimo na economia, que hoje só “fala” pelo mercado de capitais.

A outra missão também é inversa ao política guedista: injetar recursos de forma permanente na economia, em lugar do “arranja algum aí” que marcou aquela gestão, com liberações de FGTS, antecipações de 13° e outras “novalginas” que ajudavam a conter a queda de consumo (e de produção, claro) provocada pela perda de renda do trabalho (salários e rendas informais). E, claro, isso implica na continuidade necessária das políticas de transferência de renda que, a contragosto de Guedes, acabaram sendo adotadas por razões eleitorais.

Um desafio quase imediato será a formulação da chamada “nova âncora fiscal”, que deve ser enviada ao Congresso ainda no primeiro semestre e o mais provável é que ela, em lugar de guardar relação apenas com a inflação – como faz o “teto de gastos” atual, passe a ter relação com a arrecadação e numa relação não-mecânica, que pare de engessar a administração pública e possa, em caso de necessidade, ser flexibilizada pela variação seletiva das alíquotas de impostos.

De todas as diferenças que tornam Haddad o antípoda de Guedes, porém, nenhuma é maior do que o fato de que o novo ministro seguirá um rumo econômico definido pelo presidente, enquanto o atual tem um chefe absolutamente sem rumo na economia e sua função, nos últimos tempos, passou a ser apenas arranjar, mal e mal, dinheiro para manobras eleitorais ditadas pelo Planalto.

Ainda assim, não surpreende que parte do empresariado prefira Guedes a Haddad. É quem numa economia sem governo, quem governa é só o dinheiro.

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