A carapuça de Bolsonaro

Jair Bolsonaro nem deu tempo para que se apontasse que, apesar do cargo e do fato de ter tido, durante mais de seis meses, ter se beneficiado com o fato de sua popularidade contar com o “auxílio emergencial” dos subsídios – necessários, aliás – dados durante a pandemia, saiu avariado das eleições municipais.

Ele próprio foi às redes sociais dizer que “a esquerda sofreu uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar” e projetar uma vitória (sua) em 2022 com base em “DEUS, PÁTRIA e FAMÍLIA”, assim mesmo, gritando em maiúsculas.

É vestir a carapuça de um pífio resultado eleitoral e dos sinais de que a normalização do processo político está fazendo seu caminho de volta em nosso país.

Os candidatos bolsonaristas – verdade que com resultados na casa dos 10% ou pouco acima que lhe deram os fanáticos que ainda remanescem – foram, em várias capitais, mais prejudicados que beneficiados pela sua presença na campanha.

Mesmo no Rio, onde logrou disputar o 2° turno nos braços de Marcelo Crivella (o que só ocorreu pela ausência do psolista Marcelo Freixo da disputa), boa parte dos votos que obteve vieram das máquinas da Igreja Universal e da prefeitura da que o ex-bispo ocupa até janeiro.

Até Carlos Bolsonaro, o enfant terrible do pai teve um resultado pífio para quem de tanta notoriedade gozava: um terço dos votos a menos do que teve em 2016.

A maior prova do seu desgaste pode ser respondida com uma única pergunta: quais candidatos conservadores que passaram à disputa de 2° turno querem o apoio explícito de Jair Bolsonaro na veloz segunda rodada eleitoral?

O fraco desempenho eleitoral do PT * – se é a isso que se refere Bolsonaro – não se confunde com o desempenho político da esquerda e, aliás, nem do próprio Partido dos Trabalhadores, que vai se fundir politicamente ao PSOL na campanha de Guilherme Boulos.

Se terão ou não chances de vencer eleitoralmente – acho até que serão muito maiores do que indicavam as pesquisas sobre segundo turno – já têm uma vitória política inegável e transformaram uma eleição que seria uma disputa entre forças de direita em um confronto entre conservadores e progressistas, com os primeiros encalacrados pelos ódios da briga entre Doria e Bolsonaro.

O fenômeno Boulos, até aqui, parece que vai atrair a atenção do país e dar a leitura nacional deste processo eleitoral, leitura que, independente do resultado formal do 2° turno, é o de uma vitória inacreditável.

*PS. Usei a expressão “fraco” para falar do desempenho do PT e não frisei que isso se referia a São Paulo. Para avaliação do quadro nacional a expressão é um exagero injusto, pois o partido está disputando o segundo turno em 15 das 100 maiores cidades com candidatos próprios, o dobro dos sete em que concorreu nos cem maiores colégios eleitorais em 2016.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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