A censura é o esboço do fascismo

O Centro Cultural Banco do Brasil está apresentando a mostra “Paul Klee – Equilíbrio instável”, beneficiada pela Lei de Incentivo à Cultura, incompreendida por muitos. Trata-se da reunião inédita na América Latina de mais de 100 obras do pintor suíço (1879-1940), um dos artistas mais influentes do século 20. A visita vale a pena para conhecer a trajetória e as obras de Paul Klee, mas, sobretudo, para refletir sobre como a ascensão da extrema direita ao poder afeta artistas e a cultura.

Nascido na Suíça, Klee se mudou para Munique, aos 19 anos, para estudar na Academia de Belas Artes. A partir dai sua carreira foi evoluindo, com vários percalços, inclusive a Primeira Guerra Mundial, mas por não estar na linha de frente pode prosseguir com seu trabalho artístico. Na efervescência da República de Weimar, quando a arte de vanguarda explodia na Alemanha, Klee foi convidado para lecionar na Bauhaus, a revolucionária escola fundada por Walter Gropius, unindo arquitetura e arte. Deu aulas de pintura livre e teoria do design.

A Bauhaus, por seu método pedagógico avançado, estímulo à livre criação e caráter inovador, sempre foi vista como de esquerda pelos conservadores, que defendiam sua dissolução. Com a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha, a escola foi fechada em 1933, por ser considerada uma frente comunista.

Klee já a havia deixado em 1930, mudando-se para Dusseldorf, mas também foi vítima de primeira hora da chegada dos nazistas ao poder. Seu ateliê foi revistado em março de 1933, sob a alegação de ser um artista judeu, e em abril do mesmo ano foi demitido do cargo de professor da Academia de Artes de Dusseldorf, acusado de incompetente. Para um regime que considerava toda arte moderna “degenerada”, outro destino não poderia ser o de Paul Klee.

Sem espaço no país, foi para a Suíça, onde continuou desenvolvendo sua arte até morrer, em 1940. A história de Klee, exibida na mostra do CCBB também em um filme, não tem como não nos remeter ao momento do Brasil, em que a cultura é atacada sistematicamente por governantes que desprezam o conhecimento.

Não bastasse o fim do ministério _ o que nas sábias palavras de Chico Buarque talvez tenha sido até melhor, pois podemos imaginar o que seria ter à frente do mesmo figuras similares aos ministros da Educação e das Relações Exteriores, apenas para dar dois exemplos _, as leis de incentivo à cultura também são combatidas, e agora o presidente quer acabar com a Ancine, a agência que fomenta e regula o mercado de cinema no Brasil, que com o fim do ministério da Cultura foi transformada em secretaria ligada ao ministério da Cidadania.

Bolsonaro quer criar “filtros” para a aprovação de projetos audiovisuais, ameaçando extinguir ou privatizar a Ancine, que não pode, em sua opinião e profundo conhecimento de causa, financiar “filme pornográfico” com dinheiro público. O presidente deve considerar “La maja desnuda”, de Goya, arte pornográfica e não surpreenderia até que a censurasse caso uma exposição do célebre pintor espanhol viesse um dia a terras brasileiras.

O drama de Paul Klee repete-se aqui, e a História está aí para nos mostrar o que veio depois de 1933 na Alemanha.

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9 respostas

  1. Amigos, descobri uma coisa realmente terrível e fantástica! O Bolsonaro não é como o Moro, que não acredita em porcaria nenhuma daquilo que diz e faz. O Bolsonaro realmente acredita em tudo o que diz e faz. Ele acredita MESMO que o PT destruiu o Brasil. Ele acredita MESMO que há uma caixa preta no BNDES. Ele acredita MESMO que o Olavinho de Carvalho é um sábio, e que o Steve Bannon é o vanguardista mais proeminente do pensamento político universal. Ele acredita MESMO que o Lula deva apodrecer na prisão, embora não saiba dizer por qual razão. Ele acredita MESMO que o Guedes é um notável economista. Ele acredita MESMO que a Damares viu Jesus na goiabeira. Ele acredita MESMO que não se deve abastecer de combustível o navio iraniano que veio ao Brasil comprar nosso milho, porque isso desagradaria os Estados Unidos. Ele acredita mesmo que não há fome e pobreza no Brasil, acredita mesmo que o IBGE não é sério, que nem a ONU nem ninguém, a não ser os sagrados americanos, têm o direito de dar pitacos sobre o que ele e sua turma fazem no Brasil. Uma pessoa que acredita em coisas assim, é mil vezes mais perigosa do quem faz alguma coisa criminosa sabendo que a coisa é mesmo criminosa. Felizmente, a imprevisibilidade do Bolsonaro é tão rasa e bruta que pode ser prevista em todos os sentidos.

    1. Não acreditam em nada os FALSISTAS brasileiros e brasileiras, só querem faturar e não melindrar seus “patrões”, seu projeto de mais longo prazo é amanhã, talvez hoje, são só “caçadores”. O problema são seus donos.

      1. Os falsistas, tipo Moro e Dalagnol, não acreditam em nada. Mas o Bolsonaro acredita mesmo em tudo o que diz e faz. Inclusive acredita que seu filhinho é um gênio diplomático, porque foi ele quem o apresentou à funcionária do Clube Bilderberg (ela quase não acreditou no que ele dizia, porque era uma esmola grande demais e louca demais para o cego não desconfiar), e foi ele a quem o Trump elogiou nos jardins da Casa Branca, reconhecendo certamente que seu filho foi a porta através da qual os EUA conseguiram fazer o Brasil cair de joelhos.

    2. Sim, Jair não sabe ser hipócrita, ele vive dessas verdades mentirosas. Um franguinho que cresceu dentro do quartel é um galo que acredita MESMO nessas coisas. Suas crenças são anacrônicas mas refletem o galinheiro. O universo está cheio de fraudes, mas esse pessoal brincando de governo com o aval da imprensa, que não soube dar um pouco de respaldo pro petê por puro ranço ideológico, está tornando o noticiário surreal.

  2. Todas as almas do Céu e dos circulos do Inferno agradecem ao Senhor nosso Pai por Jair Messias Bolsonaro n?o ser o zelador da Capela Sistina…

    1. Se o zelador fosse o Doria, tinha mandado apagar aqueles “grafites” da Capela Sistina.

  3. Bonossauro poria tangas na imagem de Adão e Deus na Capela Cistina. Onde já se viu homem pelado se encostando?

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