A direita se disfarça. E a esquerda vai se mostrar mais?

Passadas as primeiras horas da rearrumação – ainda não concluída – do campo conservador para as eleições de 2014, seria bom que a esquerda popular também olhasse para si e avaliasse seus próprios comportamentos e erros.

Porque, a rigor, as coisas só não são promissoras para a direita brasileira por três fatores essenciais.

O primeiro, claro, é Lula, cuja empatia popular e a memória dos avanços que produziu, no Governo, permanecem e funcionam assim como uma espécie de “bomba atômica”  diante dos assanhos do conservadorismo, que sabe e teme o que ele vá representar quando se colocar como referencial de voto.

O segundo, a respeitabilidade da figura de Dilma Rousseff, que tem austeridade e autoridade, e sobre quem, até hoje, não se conseguiu tisnar a imagem séria que ela transpira. Isso, em parte, ajuda a compensar o silêncio e a invisibilidade de seu Governo, que só aparece para o combate político quando ela própria toma a iniciativa. O “Mais Médicos” e a reação à espionagem americana são os mais recentes – e evidentes – exemplos disso. No resto do tempo, o silêncio e a falta de definições compreensíveis para as políticas de Governo, que não são – ou quando são, envergonham-se em dizer –

O terceiro fator é externo: a incapacidade da direita de ter produzido quadros novos e, com isso, apresentar faces diferentes para suas velhas idéias. Aécio Neves não tem carisma algum e construiu-se como candidato mais pelo esgotamento de José Serra que por suas virtudes políticas. Em matéria de alianças, pouco ou nada foi além daqueles locais, onde o poder do governo de Minas e os “rachas” e equívocos do PT mineiro, que de alguma forma o legitimou com o apoio da seus indicados em Belo Horizonte. Além do mais, pela disputa interna em que se viu envolvido e por sua própria falta de discurso, Aécio passou meses “dependurado” em Fernando Henrique Cardoso, o que dispensa maiores comentários sobre representar “o novo”.

Comecemos, então, por este último fator.

Ainda é cedo para dizer com todas as letras, mas fica claro que a direita (a que manda, a turma da bufunfa, na genial expressão de Paulo Nogueira Batista Júnior) está construindo um caminho que exclui Aécio e que, talvez, exclua o próprio PSDB como alternativa eleitoral, ainda que não de poder. Eduardo Campos tem algumas coisas que, em geral, faltam aos pretendentes a “enfant gâté”, menino mimado da direita.

Uma origem nordestina, de esquerda hereditária, mas apoiada em uma capacidade de convívio e relacionamento com as oligarquias conservadoras e livre da pecha de anti-Lula, não apenas porque apoiado por ele em duas eleições como, também, pela renitente esperança do ex-presidente de trazê-lo, num segundo turno, para as forças de apoio a Dilma.

O que, para mim, torna-se mais difícil pelas alianças à direita que construiu para sua candidatura e, agora mais ainda, pela presença rancorosa de Marina Silva em sua composição.

Como é cedo para dizer o rumo que a sucessão tomará com as “novidades” do final desta semana, manda a prudência política que o governo e o PT se conservem num certo “resguardo” pessoal de Lula e de Dilma nesta questão.

Mas, ao mesmo tempo, parece ter chegada a hora de reavivar o significado e os projetos deste projeto de governo que, não se pode negar, perdeu parte de suas forças de apoio partidárias, embora isso não queira dizer, neste momento, perda eleitoral.

Tanto Lula quanto Dilma, que por diversas razões vinham, até pouco tempo atrás, se poupando de exposição, estão chamados, imediatamente, a expor-se mais e, sobretudo, a expor mais direta e claramente compromissos, realizações e objetivos de seu governo.

A reforma ministerial pré-eleitoral deve sofrer uma antecipação, não apenas em busca de recomposição política mas, sobretudo, para tirar a máquina pública do marasmo comunicativo em que se encontra, ausente como se percebe (salvo raras exceções, como o Ministro Alexandre Padilha) da polêmica.

O “núcleo mole” do Governo – um lote generoso, no qual se destacam Paulo Bernardo e José Eduardo Cardoso – também precisa ser substituído por pessoas que possam, ao lado de tirar a administração do marasmo e da “pomada” lubrificante que marca estes personagens travar a polêmica com a ofensiva conservadora que certamente virá.

Será um enorme engano contar que a mídia – e as armações que, sob sua batuta, a direita produzir –  são incapazes de produzir novidades na disputa eleitoral.

É verdade que a direita brasileira está, ainda, sem cara. Mas também é verdade que, como de outras vezes, ela pode produzir uma cara nova e palatável para suas ideias. Ou ir buscar no estoque de velharias, sua cara hoje mais velha, a de José Serra, retomando, com Eduardo Campos, o papel divisionista que se esperava de Marina Silva.

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8 respostas

  1. Não me preocupa a reeleição da Dilma, preocupante é a composição de forças no Congresso. Qual será o tamanho do PSDB+PSB e partidos a eles aliados. Lula deve centrar todas as energias na eleição para deputados e senadores, mais importante que eleger governadores é ter uma correlação força favoravel no congresso.

  2. Claro que e preciso ficar atento, mas acho que o povo vai dar risada dessa gente. “Mudar governo pra botar isso ai?”

  3. O povo ja percebeu que a direita fora do poder, trabalha mais. No poder eles roubam mais e trabalham menos. A palavra de ordem nas proximas eleicoes sera: vai trabalhar vagabundo.

  4. Acho que botar um dinheiro na seguranca publica, com projetos de qualidade, seria uma providencia importante.

  5. Fernando, gosto muito de suas análises, inclusive esta, mas sugiro que você leia o artigo do Embaixador Samuel Guimarães (CartaMaior), sobre o golpe no Chile, em que ele aponta o que o “sistema internacional” (seja lá o que isto seja) permite e o que não permite aos países periféricos fazer. Dentre as ações não-permitidas está a “democratização da mídia”.
    PS: Pt e aliados mais à esquerda devem se preocupar em se fortalecer no Congresso. Precisamos derrotar o PMDB e sua “politica predatória” o mais rápido possível ou então não sairemos desse reme-reme atual.

  6. Triste ver que o PSB, da velha frente Brasil Popular (PT-PSB-PC do B), meu primeiro voto para presidente em 1989, agora está formando a frente ladra e sonegadora do Brasil.

  7. Eu quero que a direitona dance sapateado, maracatu, samba do crioulo doido e, no fim, se perca direitinho na avenida percorrida. Cambada de traíras sem discurso, sem proposta e sem vergonha na cara!

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