A Folha vai virar “tchutchuca do Jair”?

A Folha publica editorial reclamando da “Chantagem golpista” de Jair Bolsonaro, ao ameaçar mudar a composição do Supremo Tribunal Federal e, depois, dizendo que poderia reconsiderar este projeto se a corte “baixar a temperatura”.

Mas esta chiadeira, ao contrário do que a levou a estampar em primeira página a exigência que Lula indicasse logo o Ministro da Fazenda e a afirmação de que não havia, no rastro do período Bolsonaro, uma “terra arrasada”, é só um murmúrio, como que para “treinar” para tempos escuros.

Enfurnou seu editorial antichantagem sem destaque, como que com vergonha de sua própria incoerência. Ou, talvez, da coerência do “deus-mercado acima de tudo”.

Não, não é a confiança de que “as instituições vão conter os arroubos do presidente”, com que, em 2018, Merval Pereira supunha que não haveria perigos à democracia com a eleição do nauseabundo ex-capitão e o que importava era “sepultar” a esquerda.

É o retrato lamentável de boa parte da elite empresarial do país (e da mídia) que, com sua “modernidade” supérflua, não se incomoda que, por fora do vidro fumê e ao redor de suas grades acumulem-se trapos humanos e sua prole desde que a “ordem” seja mantida e a democracia formal se construa sob seu comando.

É triste que um jornal seja desprezado até por quem o lê – observe a revolta dos assinantes, nos comentários – e até por quem nele escreve, como faz, na edição de hoje, Cristina Serra:

É lamentável que este jornal assuma papel de porta-voz da insensatez, ao cobrar de Lula o reconhecimento de que “a agenda liberal dos últimos anos trouxe avanços duradouros” e ao exigir que o candidato indique quem será seu ministro da Economia.
“Avanços duradouros” para quem? Para os alunos que dividem um ovo por quatro na merenda escolar? Para Miguel, de 11 anos, que ligou para a polícia, em Minas Gerais, pedindo comida para a mãe e os irmãos? Para os que estão na fila da carcaça? Para os que só conseguem comprar soro de leite para alimentar os filhos? Para as crianças que desmaiam de fome em sala de aula?

Cuidado com a soberba e talvez um pouco de memória para lembrar que, embora já não sejam quase de papel, o jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã.

A Folha, que se tornou um jornal de relevo nacional com a democracia, aceita que que se destrua o ambiente que a fez crescer.

As democracias morrem, mas os jornais também.

 

 

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