A guerra não tem razões, tem só interesses

A Folha publica hoje um artigo dos professores Dawisson Lopes e Mário Schettino Valente, da Universidade Federal de Minas Gerais, onde relatam os esforços do diplomata brasileiro José Bustani que, entre 1997 e 2002, dirigiu a Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas), órgão da ONU.

O título do artigo já deixa claro o que vão narrar: “Não fossem os EUA, brasileiro poderia ter barrado uso de gás sarin por Damasco”. Nele se conta que Bustani tinha planos de que, hoje, já estivesse universalizada a adesão do tratado que proíbe as armas químicas e estas, destruídas.

Mas…leiam:

Contudo, quando buscava convencer o ditador Saddam Hussein a promover a entrada do Iraque na Opaq, submeter o país às inspeções e evitar o iminente conflito com Washington, Bustani passou a sofrer achincalhes sistemáticos dos EUA.

A Casa Branca temia que a tentativa da Opaq de investigar Saddam atrapalhasse o plano de invasão do Iraque, pois a constatação pública de que não existiam armas químicas no território iraquiano retiraria um importante argumento de legitimidade.

O golpe de misericórdia em Bustani ocorreu em abril de 2002, quando 48 membros da Opaq decidiram por sua demissão. Alegou-se descontrole financeiro na administração. Nos bastidores, sabia-se que a razão era outra.

A diplomacia americana, sob a batuta do subsecretário do Departamento de Estado John Bolton, ameaçava abandonar a Opaq, o que reduziria muito sua relevância.

À época, prevaleceu no Itamaraty o entendimento de que faltou disposição ao governo FHC para fazer frente à campanha de descrédito movida pelos EUA.”

Quem dá pouca importância ao comportamento diplomático de nosso país, ou aqueles que acham que a postura do Governo brasileiro “não altera nada” as relações políticas de poder no mundo, lembre-se dos mortos por gás na Síria, um crime, tenham sido os rebeldes ou o governo que o cometeu.

E recorde-se da guerra que isso quase iniciou.

A guerra, já se disse, é a continuação da política por outros meios.

Se não usamos a política  externa pela lei, pela soberania das nações, pelo convívio respeitoso seremos, como de certa forma fomos naquela ocasião, cúmplices, por omissão, de monstruosidades.

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13 respostas

  1. No Brasil, todo mundo é culpado até que se prove o contrário.
    E quem tem dinheiro nunca é investigado ou punido.
    Muitos brasileiros se acostumaram com esta idéia, de acusar sem provas, condenar no campo moral, colocar todos no mesmo saco.
    É uma infelicidade, é sinal da ignorância crescente.
    E só tende a piorar.

  2. Ha um pequeno-grande erro no titulo “Não fossem os EUA, brasileiro poderia ter barrado uso de gás sarin por Damasco”, comum a mídia brasileira. O ” por Damasco” sugere ação de governo constituído quando tudo indica que seu uso se deu pelos rebeldes e fornecido pela Arabia Saudita.

    1. Essa é a visão deles, não a minha. De toda forma, fosse quem fosse, isso não teria acontecido se os EUA não sabotassem o programa, de olho no Iraque

  3. Carmem Lúcia disse (quando no auge das tentativas de reduzir a credibilidade da política no Brasil):
    – Devemos sempre ter fé na política, pois a outra alternativa é a guerra.

  4. Esta na hora de adotarmos eleições diretas para juízes e desembargadores. Essa tentativa de linchamento promovido por J Batman e sua trupe só foi possível porque o poder judiciário não se submete ao voto popular.

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