A história é feita pelos homens e fica, mesmo que os ratinhos a tentem roer

 

bombas1

Optei por não publicar diretamente o instigante relato pessoal de Nilson Lage sobre a tentativa de golpe de estado abortada pela posição corajosa de Leonel Brizola – e seguida por outros, lembra Lage, como o então governador de Goiás, Mauro Borges.

Fiz assim porque quero assumir a responsabilidade pessoal de registrar a exploração barata da Folha ao dizer que “Dilma altera lei para tornar Brizola, seu inspirador político, ‘herói da pátria’; regra anterior previa que homenagem seria somente 50 anos após morte“.

Ao sabujismo da Folha que fez isso, quero informar – se o seu problema é de ignorância e não de caráter, concedo – que Presidente da República não “altera lei”. Porque quem faz lei é o Congresso, exceto as medidas provisórias, que têm valor legal temporário, embora caduquem se o Legislativo não as transformar em lei.

Presidente (ou Presidenta) propõe lei, sanciona lei aprovada no Congresso ou, por razões de inconstitucionalidade, oportunidade ou conveniência as veta, justificadamente, ainda assim podendo o veto ser derrubado pelos parlamentares.

A lei que mudou prazos e inscreveu o nome de Leonel Brizola no livro dos herói da Pátria foi originária da Câmara, apresentada em 2013 e aprovada em junho de 2014. Depois, passou um ano no Senado e foi aprovado a 9 deste mês, a partir de parecer da Senador Ana Amélia, que é do PP, foi casada com um Senador da Arena (Otávio Omar Cardoso), mas teve a dignidade de reconhecer que até ela, com uma bolsa de estudos, foi beneficiária dos programas de educação do então governador gaúcho. Dilma, apenas, a sancionou, sem vetos, que não teriam sentido algum.

Mas o melhor castigo para esta pequenez é o relato de um jornalista que viveu aqueles dias impensáveis,  para sempre um professor de jornalismo, o que muita gente confunde com ser ratinho da História.

Estava em Brasília.

Viajei para lá, saindo do Rio de Janeiro, convocado por Carlos Castello Branco, secretário de imprensa de Jânio Quadros, para informar o presidente sobre uma licitação fraudada para compra de trens da Central do Brasil – falcatrua comum no Brasil – de que eu tinha conhecimento.

Já na escala do C-47 da FAB em Belo Horizonte, o agente do Conselho de Segurança Nacional que me acompanhava notou que algo estranho acontecia: jatos que deveriam estar em Santos pousavam ali, a caminho da capital.

Fui dos primeiros a saber da renúncia de Jânio. O repórter do Jornal do Brasil que cobria o Palácio do Planalto ouviu, na manhã do mesmo dia 24 de agosto, numa extensão, por acaso, Laudo Natel dar a notícia, pelo telefone, e me disse, em primeira mão. Eu estava na casa do chefe da sucursal, Raimundo Brito, e, também por acaso, atendi o telefonema.
Foram dias tensos. Não tinha como sair de Brasília. No roteiro de sua habitual paranoia, oficiais operativos invadiam com contingentes militares as casas onde funcionavam sucursais de jornais, na Avenida W3, procurando imaginárias estações de rádio amador.

No aeroporto fechado e às escuras, metralhadoras apontavam para supostos aviões que trariam do Oriente o vice-presidente João Goulart. Eu estava lá quando um piloto da Cruzeiro do Sul, que tentara inutilmente pousar em aeroportos alternativos, ameaçou pelo rádio lançar-se, com os passageiros, contra os prédios da Praça dos Três Poderes, aproveitando o pouco combustível que sobrava nos tanques. As luzes se acenderam e foi engraçado ver de longe a invasão do avião pelos soldados que esperavam prender Jango.
Dias sem dormir, com a mesma roupa, subi à sobreloja da sucursal e deitei-me em um sofá. Estava tenso, não dormia. Liguei o rádio e zapeei fugindo da animada música candangueira. Encontrei uma estação que tocava melodias suaves entre ruídos de estática, e cochilei.

De repente, o som elevou-se. Aumentaram a potência dos transmissores. E o locutor: “Rádio Brasil Central, emissora do governo do Estado de Goiás, passa a transmitir, nesse momento, em cadeia com a Rede da Legalidade, liderada pela Rádio Guaíba, de Porto Alegre”. Soaram os primeiros acordes do hino de Pereio. O Governador Mauro Borges convocava reservistas goianos para que se apresentassem nos quartéis ada Polícia Militar.

Nos dias seguintes, ouvi muito falar de Brizola, o agora herói da Pátria.”

PS. Quem acha que estas histórias têm exageros, leia o relato, publicado em 2011, do suboficial Caetano Angelo Vasto, publicado pelo jornalista Juremir Machado, onde ele conta em detalhes como se impediu o bombardeio do Palácio Piratini, inclusive a cena em que comunica que os aviões não decolarão armados ao Comandante da Base Aérea de Canoas e é ameaçado com um metralhadora no rosto. E não recua. Estes são, com Brizola, os heróis da Pátria.  Figuras que a história – cujos momentos de coragem não contam aos brasileiros –  fez grandes e  que ratinho algum irá roer.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

15 respostas

  1. Brito, essa matéria ridícula da Folha apenas comprova o que eu disse ontem. A direita está inconformada com essa homenagem ao velho Brizola, que pelo visto ainda incomoda os entreguistas de ontem, hoje e sempre. Como eles não têm ninguém para homenagear, afinal a direita é composta por canalhas, golpistas e entreguistas, então eles tentam desqualificar o homem que peitou os militares e garantiu a posse do Jango. E, para desespero e ódio dos coxinhas, no futuro ainda veremos o nome do Lula no livro. Aí teremos um suicídio coletivo dos coxinhas, vai ser cômico.

  2. convenhamos.. Lula nasce para que todos esses virassem lixo históricos, velharia para gente decente esquecer

  3. Eu colocaria o nome do Lula ainda em vida, pois ele já fez História. Sendo quase analfabeto e não Sociólogo, como afirma os opositores, fez o melhor governo de todos os tempos, merecendo reconhecimento mundial pelo seu trabalho.

  4. É lamentável vivenciar uma situação assim. Os golpistas/entreguistas não aceitam de forma alguma que os Heróis do Brasil possam ser reconhecidos. Lula, mesmo que seja alcançado pelos entreguistas/golpistas nessa avassaladora cassação, jamais será esquecido pelo POVO BRASILEIRO. O nome dele já está escrito na história do Brasil e isso ninguém mais vai tirar.

  5. Fernando Bito, tenho 35 anos e mal sei sobre estes acontecimentos. Fiquei arrepiado só de imaginar essas cenas e me dou conta que não valorizamos o que ocorreu. Temos falta de memória e desprezo pela história. Eu que tive educação de qualidade, não fui apresentado da devida forma a esta parte de nossa história, imagine o restante da população. Parabéns pelo texto.

    1. Ouvir falar que você é um finório. Será que é verdade? Irei aguardar a veja se posicionar sobre o assunto. Se ela confirmar acredito.

  6. Brito, é reprovável essa manipulação barata da Folha, mas tentemos entender… Como todo jornal que faz parte do PIG, eles estão em franco desespero!
    Afinal, esse fim de ano não tem sido nada fácil para os coxinhas reaças e para esse elite podre, leitora do referido jornal, senão vejamos:
    1 – O STF entuba o GOLPE
    2 – A esperança deles, o Dudu CUnha, prestes a perder o mandato e quiçá, ser preso…
    3 – O herói dos coxinhas imbecis, Aébrio Never, pego com a boca na botija, através de delação onde se afirma q o dito cujo embolsou 300 mil.
    4 – A presidenta presta justa homenagem ao GRANDE HERÓI DA PÁTRIA LEONEL DE MOURA BRIZOLA.
    Kkkkkkkkkkkk

  7. A atitude da Folha é do pior nível de jornalismo, desinformar propositalmente o supra sumo da incompetência e da falta de pudor político.
    Em contrapartida que tenso, forte e heroico o depoimento do SO Vasto no Blog do Juremir Machado !
    Mais uma joia da história que merece ser ser preservada num livro de história, deus salve os mini-radinhos do Sg Lorenzoni que através da rede da Legalidade puderam informar aos ouvidos certos e impulsiona-los a AGIR.
    As atitudes dos oficiais de 61 mais uma vez me lembram das histórias que aprendi quando estudei na Escola Naval de 1981-84, vinte anos antes dos fatos de 1961, os oficiais-generais da Aeronáutica e das demais forças estavam em formação ou na Escola Naval ou na Escola do Realengo do Exército, e por quase toda a década de 30 e início da de 40 até o Brasil entrar na Segunda Grande Guerra ao lado dos Aliados a formação dos oficiais da Marinha e do Exército se deu sob moldes nazi-fachistas inclusive com a separação de batalhão “étnicos” de catarinas e onde se incluíram mais tarde os filhos das oligarquias não anteriormente classificados. Criados sob uma orientação de liderança e de culto ao Estado como supremacia de direita. Estas gerações de oficiais permaneceram em parte foram redistribuídos para a FAB quando da sua criação e moldaram politicamente o comportamento dos militares em geral de 1945 até o fim da ditadura. A sua SOMBRA ideológica entre os OFICIAIS somente se desvanece com mais força nos últimos 20 anos. Até 1993, ano que deixei a Marinha do Brasil, a força desta influência política ainda era muito forte entre os oficiais das três forças. Espero que hoje PELO MENOS esta fortça nesfasta e anti-democrática tenha se diluído nas novas gerações o suficiente para inviabilizar qualquer episódio desta natureza. O que olhando de fora, os fatos deste 2015 parecem corroborar, pelo eco mínimo nos quartéis da histeria golpista do PIG nosso de todo dia…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *