A mensagem do general

O general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército, lançou ontem, nas redes sociais, um vídeo onde pede “muita cautela com o que circula nas mídias sociais” e exorta os militares a que “façam a correta interpretação das informações que acessam ou recebem”, mantendo a confiança “em seus comandantes e chefes, em todos os escalões hierárquicos”.

—Reforçando a fé inabalável na missão do Exército Brasileiro, concito a todos a manter o foco em suas atribuições, desempenhar, com a dedicação de sempre, as suas tarefas diárias e preservar a união e a coesão, tendo sempre como base sólida a hierarquia e a disciplina, verdadeiros apanágios [ condição inerente] de nossa vocação militar.

A escassez de manifestações do general – bom sinal, ressalvo – torna mais difícil a interpretação de suas razões para estar alertando sobre a influência das redes sociais pelo Exército e ressaltando os valores da disciplina à oficialidade e à tropa.

O general esperou, isso é evidente, que se amainasse a agitação bolsonarista do Sete de Setembro, do qual só relembra as comemorações dentro de organizações militares. Sua fala é, como deveria ser, despolitizada, exceto por usar, ao final, algo que passou a ter evidente conotação bolsonarista, o “Brasil, acima de tudo”.

Há, certamente, no repertório brados militares, alternativas tão patrióticas quanto a que acabou manchada pelo fanatismo bolsonarista.

A questão mais importante é qual a razão para o general para decidir-se a deixar o silêncio de seis meses que mantinha. É uma preocupação – tardia, e muito – com os efeitos deletérios dos “grupos de Zap” dentro das Forças Armadas ou uma demarcação, para os bons entendedores, de que o caminho da atuação da instituição não pode ser traçado por elas.

Não é preciso ser adivinho para saber que simpatias têm os grupos de oficiais da reserva e da ativa que, juntos e misturados, palpitam sobre o cenário político brasileiro. Uma advertência sobre seu papel, portanto, é inseparável de uma interpretação sobre a quem ela se dirige.

Como é natural que se interprete o uso da expressão que ele usa para referir-se à cúpula do Exército: chama-a de “meu” Alto Comando. Depois de tantas insatisfações, engolidas disciplinadamente por seus pares, em vários episódios, como a não-punição a Eduardo Pazuello por ter ido a um comício de Bolsonaro, afinal todo o colégio de generais de Exército conseguiu firmar uma só posição quanto ao afastamento da Força de aventuras golpistas?

Se for isso, melhor para o Brasil. Acima de tudo não pode ser abaixo de coturnos.

 

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