Faz algum tempo que o país submergiu numa onda maniqueísta, e Jair Bolsonaro serve-se dela – ainda que tenha se reduzido nos dias de hoje – para tentar surfar o que resta deste movimento.
Ele não faz política, manobra um facão que quer extirpar tudo o que não possa chamar de “seu”.
Basta um olhar retrospectivo para que se veja que o fenômeno que se expressou dos 58% de votos de 2018 passou estes dois anos e meio “podando” tudo o que não era exatamente como ele gostaria que fosse: auxiliares, órgãos públicos, sistema de saúde, seu próprio ex-partido (o PSL), a hierarquia militar e agora, como se vê, a tentativa aloprada de cooptar a seleção de futebol para seu projeto eleitoral.
E, claro, tudo misturado num mexidão que reúne ameaça comunista (até o técnico Tite é chamado assim no Twitter), perseguição religiosa, charlatanismo e incompetência por gerir o país e, até, que ele se autogerencie, pelas suas instituições.
O resultado é um Brasil completamente avacalhado, reduzido à condição de república bananeira – com bananas de soja e minério de ferro, claro – que mal consegue se mover diante dos caprichos do capitão, onde as prioridades, frequentemente são o que ele enxerga vá lhe dar nichos eleitorais: isentar o pedágio para motocicletas, subsidiar caminhoneiros (e frotistas, também), garimpeiros, madeireiros e sabe mais o que esteja em seu radar para amealhar votos.
É tão simples prever o que resulta deste tipo de clientelismo que rege as ações de Jair Bolsonaro que, daqui a dias, vamos ter de novo as imagens chocantes de queimadas, estrangulamento do setor elétrico e novas ondas da pandemia.
O homem que ia trazer de volta o “progresso” dos tempos da ditadura militar – ralo, escasso e torto, que só é exuberante na memória de seus donos – bem poderia usar como slogan o inverso daquele “este é um país que vai para a frente” dos tempos dos militares.
Pois, definitivamente, é para trás.
Portanto, tudo o que se fizer agora para frear o governo, seja lá no que for, é positivo.
Bolsonaro escolheu o radicalismo da “sua” direita. Do lado de cá, fica a estratégia da ampliação de todos os que desejam ver o Brasil reorganizar-se.
Não é que não haja lugar para “identitarismos”, “lugares de fala” ou outros movimentos segmentados. Há, mas todos estão dentro de uma causa maior: salvar o Brasil da selvageria.
O que não é o mesmo, mas é igual.