A volta da intriga "Lula x Dilma"

À parte a arrogância com que se arvora a julgamentos definitivos sobre a “incompetência” da Presidenta Dilma Rousseff, o editorial de Ricardo Noblat  hoje, em O Globo, nos traz algumas lições.

Os ataques a Dilma na mídia recrudesceram depois que os “estrategistas” aconselharam a Presidenta a mostrar-se “sensível” às exigências do “mercado”.

Idem os da “base aliada”, naturalmente ávida por “espaços”no Governo – com todas as licenças”poéticas” que alguns parlamentares dão ao termo  .

Nenhum destes fatores é inesperado ou definitivo. Ambos são contingências de um governo democrático num país onde os partidos são fracos e as práticas políticas ainda  mais que isso.

Articulação política exige flexibilidade na forma e clareza no conteúdo. Numa palavra, visão estratégica.

As visões mídio-marqueteiras ao contrário, em geral,  miram na tática e esquecem o longo prazo.

Pode dar certo, como quando estimularam a Presidenta a surfar a “onda” da faxina. Mas não é possível mensurar com exatidão o que isso representou de abalo na base parlamentar de que ela necessita, embora se saiba que não foi pouco.

Lula, mais velho e experiente, jamais “embarcou” nessa.

Agora, e por isso, também não vai embarcar na “onda” proposta por Noblat – e que,vocês verão, se espraiará por muitos comentaristas políticos,  de um suposto “Volta,Lula”.

Só um tolo não perceberia que um movimento assim seria uma declaração de fracasso – que não existe – da administração Dilma.

E a maior prova de que não existe é o índice confortável de aprovação que as próprias pesquisas de opinião confessam que a Presidenta tem, depois de dois anos e meio de Governo.

Lula, óbvio, não é um tolo. Não é alguém que  vá se deixar levar por cantos de sereia dos quais ele conhece a partitura de cor e salteado.

Lula sabe – e Dilma também – que desde antes de 2010, se busca separá-los.

E evitar que juntos possam demonstrar que significam o desejo de libertação e progresso deste país.

Os versos de Rimbaud que Noblat cita para metaforizar um suposto descarte de Dilma – descartar alguém com 57% de aprovação e 51% das intenções de votos! – devem ser lidos por inteiro, e não pinçados, porque são um incentivo à esperança, não a uma capitulação:

Inútil beleza/A tudo rendida,/Por delicadeza/Perdi minha vida./Ah! que venha o instante/Que as almas encante.

Ceder para avançar é sabedoria política.

Ceder por vassalagem é apenas tornar-se inútil e descartável.

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