Água no feijão da vacina é loucura sanitária

A BBC publica hoje reportagem dizendo que, a continuar no ritmo atual de vacinação, o “Brasil demoraria mais de quatro anos para alcançar imunidade de rebanho“.

Usando os números do fim do dia de hoje e baixando de 90% para 70% a parcela da população que deverá estar imunizada, chega-se a um resultado um pouco menor, mas igualmente assustador: “apenas” dois anos e sete meses, ou agosto de 2023.

É claro que, mesmo com a incompetência da dupla Jair Bolsonaro & Eduardo Pazuello não será tanto, mas ainda assim muito longe dos já absurdos 16 meses (um ano e quatro meses) oficialmente previstos no Plano Nacional de Imunização.

Isso é inaceitável para um país que todo ano vacina 80 milhões de pessoas em três meses, nas campanhas contra a gripe e, ainda pior, é algo trágico quando se considera que o país, segundo métricas internacionais, alcançará mais de 250 mil mortes antes do final de fevereiro.

E nesta conta não se considera a disseminação de cepas mais transmissíveis e, eventualmente, mais letais,

O que está acontecendo – e ouvi-o hoje de dois sanitaristas com experiência em vacinação – é uma completa descoordenação, inclusive quanto aos critérios de prioridades que ordenem o calendário de vacinação.

O Rio adotou um critério que é o de vacinar, a cada dia, pessoas de um único ano de idade a cada dia: 99 anos, um dia, 98 no dia seguinte e assim por diante. Mas A vizinha Duque de Caxias anuncia que, a partir de quarta-feira, vacinará quem tem mais de 80, que na capital só receberão vacina, segundo o calendário oficial, no dia 26 de fevereiro. Ou seja, 500 metros de distância entre um idoso e outro significam 24 dias de espera pela vacina.

Já São Paulo, maior estado do país, começa a vacinar os idosos de 90 anos no dia 8 e os de 85 no dia 15, com uma semana de antecedência sobre o Rio.

É óbvio que isso não vai funcionar direito e nada explica a diferença se receberam doses proporcionais à população, enceto o fato que se quer por “água no feijão” da pouca vacina que há, vacinando em quantidades menores, para que elas durem como se estivéssemos mesmo em um processo de vacinação em massa, o que não é verdade.

Os critérios – e passada a etapa inicial de vacinar os trabalhadores hospitalares, eles só poderão – têm de ser únicos e estrategicamente definidos, nas exceções, em áreas de descontrole epidêmico, como é a de Manaus e em locais onde a vigilância indicasse estar havendo potencial perda de controle da epidemia.

Esta maluquice de critérios só está acontecendo porque, com ela, encobre-se o fato de que faltam vacinas para imunizar o primeiro grupo de prioridades, os idosos de 75 anos que, junto com o pessoal da saúde, têm uma demanda de 31 milhões de doses, das quais o pais tem apenas um terço e, com sorte, terá metade o fim de fevereiro.

Só haverá vacina com pressão política e isso ficou claro quando o Governo Federal recuou, hoje, de sua vergonhosa indefinição sobre as 54 milhões de doses do Butantan e admitiu assinar o contrato de compra, o que queria deixar para maio.

 

 

 

 

 

 

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