Aqui não, mão amiga?

No dia 31 de março de 2008, quando o Rio de Janeiro sofria uma epidemia de dengue e as mortes chegavam a 240 mortes em um ano, Exército, Marinha e Aeronáutica montaram hospitais de campanhas no Estado para ajudar a enfrentar aquela emergência sanitária. A tendas militares, muito bem organizadas – como devem ser, aliás, como equipamento permanente de uso militar.

Ninguém entende como não se fez o mesmo no Amazonas, diante do drama de Manaus, que “exporta pacientes” às centenas até para a outra ponta do Brasil, o Rio Grande do Sul, a mesma mobilização militar, sobretudo num estado onde é tão forte a presença das Forças Armadas, inclusive a do general da Saúde, Eduardo Pazuello.

É menos compreensível ainda que se leia hoje, no UOL que os “Hospitais militares fazem reserva e 72% de leitos de covid ficam vagos” , com a informação de que dos 116 leitos disponíveis para o tratamento da doença no Hospital Militar da Área de Manaus e do Hospital da Aeronáutica, 82 estavam vagos, reservados para a eventualidade de militares ou de suas famílias precisarem de atendimento.

Na reportagem, uma nota do Ministério da Defesa dá a explicação pífia de que os leitos estão reservados para “garantir a saúde do pessoal militar e, assim, assegurar a possibilidade de seu restabelecimento para o pleno e pronto emprego das Forças Armadas” e que eles não são exatamente públicos, pois seriam parcialmente custeados pelas contribuições descontadas pelos militares.

Ora, centenas de hospitais privados de todo o país estão realizando atendimentos a pacientes encaminhados pela rede pública, e o SUS paga por ele. O Sistema de Atendimento Médico-Hospitalar aos Militares do Exército, Pensionistas Militares e seus Dependentes (SAMMED) de fato tem uma parte de seu funcionamento custeada pelas contribuições (com um desconto de 3,5% para o titular e todos os seus dependentes) mas é sustentado basicamente por recursos orçamentários da União.

Não se concebe, portanto, que numa situação dramática, com gente morrendo em macas nos corredores dos poucos hospitais amazonenses, que o “braço forte” e a “mão amiga” façam para seus compatriotas agonizantes o gesto de “aqui não, violão”.

 

 

 

 

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