‘Armadilha evangélica’ pode custar caro ao Brasil

Ninguém se espante se Jair Bolsonaro sair de Bíblia na mão em seus comícios.

É aquilo a que se agarra e só o que tem para propagandear-se: o salvador da “moral” no Brasil, embora sob uma saraivada de evidências de que o “não roubarás” não é exatamente um mandamento em seu governo.

O resultado da pesquisa PoderData, que baixou a cinco pontos a vantagem de Lula no primeiro turno e a nove a mais no segundo é o primeiro depois do final de semana.

Insuflados pelos bolsonaristas, milhares de cultos neopentecostais exploraram no domingo passado a desastrada forma com que Lula expressou a sua preocupação com a questão do sistema de saúde frente ao aborto. Foi justamente a partir do domingo que a pesquisa foi aplicada.

Insano? Sim, certamente. Mas o bolsonarismo e os fanáticos que o acompanham não estão nem aí para a sensatez.

Diz a pesquisa que, em 15 dias, Bolsonaro teria passado de 43% para 53% entre os eleitores evangélicos, enquanto Lula teria caído de 31% para 24%.

Considerando que Lula manteve os 40% no total de eleitores, é possível afirmar que o ex-presidente cresceu nos demais segmentos. Bolsonaro, com três pontos a mais que na rodada anterior, cresceu os 3 pontos que correspondem justamente aos evangélicos, perto de um terço do eleitorado.

Tenho dúvidas de que os números sejam exatamente estes, como tenho em qualquer pesquisa aplicada por entrevistas telefônicas, mas acho que, sim, o movimento é plausível.

E é justamente o que busca o fariseu Jair Bolsonaro, que pretende se apropriar da imagem de “candidato de Deus”, agora apelando para uma deturpação da Bíblia (Mateus 10, versículo 28: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.”) expresso em seu novo bordão: “nada temeis (sic), nem mesmo a morte, a não ser a morte eterna.’

Embora não se possa crer que possa ser cristão quem promove o “milagre da multiplicação das pistolas”, é preciso focar no que é o martírio do povo – desemprego, pobreza, fome – e não no que não é ponto de discussão, porque está Constituição, como cláusula pétrea.

Quem não entende isso e aceita discutir eleição como religião (e seus dogmas morais, ainda que com a sabida hipocrisia de muitos) arrisca que o pleito seja levado a se desenhar como uma armadilha.

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