Auxilío nasce frouxo e cheio de “ainda não sabemos”

Deveria ter pompa e solenidade. Afinal, trata-se de um programa que, em tese, pagará R$ 400 para cada uma das 17 milhões de famílias que estão no Bolsa Família ou esperando na fila para terem direito ao programa.

Só que foi uma mera entrevista, com muitas promessas e poucas repostas, do Ministro da Cidadania, João Roma, que fez uma fala confusa, falando em um aumento de 20% nos valores do Bolsa Família e o restante do benefício, temporário, sendo realizado até dezembro do ano que vem, sem especificar de onde viriam os recursos.

Mais tarde, o derrotado Paulo Guedes disse que seria obtida a diferença, de R$ 30 bilhões, com uma “licença no teto de gastos”, que continuaria valendo.

R$ 30 bilhões, claro, contando com a “pedalada” de R$ 50 bilhões nos precatórios, ainda não votada sequer na Câmara – onde o “trator” de Arthur Lira engasgou hoje, na votação das mudanças no controle externo do MP – e com dificuldades cada vez maiores no Senado, onde a reforma do Imposto de Renda parece caminhar para a morte.

Em viagem ao Nordeste, Jair Bolsonaro confirmou o auxílio de 400 reais e assegurou que o teto de gastos continuará virgem e intocado.

É evidente que o país vive uma situação emergencial, com a fome grassando por toda a parte e precisa que se faça uma transferência de renda para os mais pobres e que, até para isso, o tal “Auxílio Brasil” é insuficiente, em valor e em número de famílias atingidas.

Mas não há, com ele, nenhuma política social ou econômica estruturante e a sua concepção, claramente eleitoreira, vai aumentar a instabilidade de uma economia que anda aos chacoalhões, com câmbio e inflação em disparada.

Ao contrário, anunciada desta forma vaga, sem a definição de onde virão os recursos, o abalo vai se intensificar e não é improvável que, amanhã, a Bolsa caia abaixo dos 110 mil pontos e o dólar passe fácil dos R$ 5,60.

E ninguém se espantará se, na terça-feira próxima, o Copom aumentar em 1,25% os juros, a 7,5% ao ano, para tentar conter a desvalorização do real.

A única meta de inflação que, hoje, está em vigor, é mantê-la abaixo de 10% ao ano e mesmo isso está em perigo.

O modelo de economia que se apoiou num fanatismo fiscal que tem sido atropelado pela realidade já não consegue agir nem na sua lógica intrínseca de corte do déficit público. Nem os “adoradores do teto” têm coragem de recusar a necessidade de usar o gasto público para aliviar a situação de agonia de um povão posto a catar ossos”, mas exigem que isso se faça, de forma impossível, sem cortar os gastos.

Ideologia, política ou econômica, que não se encaixa à realidade, é mera tolice. E é por isso que este governo não pode acertar, porque está fadado, por eleição ou necessidade, a romper suas próprias regras.

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