BC dá mais carne para os leões

Como se esperava, o Comitê de Política Monetária aumentou em mais meio ponto a taxa pública de juros, a Selic.

Passou, agora, a 9,5% ao ano,  frente aos 9% anteriores.

É, certamente, ainda muito baixa frente à história de juros monstruosos pagos por este sofrido país. Mas é muito alta – e agora mais ainda, como o declínio da inflação – seja qual for o critério de comparação internacional que se utilize.

Voltamos à deprimente situação de sermos o país que maiores juros reais, descontada a inflação, pagamos no mundo.

Em parte, porque somos vítimas de uma “Síndrome de Estocolmo” financeira. A expressão, criada para definir a paradoxal adoção, pelos sequestrados, da lógica e dos  parâmetros de seus sequestradores, se aplica a um país que passa se se considerar dependente dos fluxos de capital especulativo que vem irrigando, mas parasitando, a circulação de dinheiro em sua economia.

Também as sanguessugas ajudavam a irrigar as veias dos pacientes em tempos antigos, mas cobravam um preço em sangue para fazê-lo.

De outra parte, vivemos o “perigo” da recuperação da economia americana – e de seus inimagináveis impasses entre o calote e a retomada de seu progresso, que levaria  ao “enxugamento” da liquidez  mundial e, por isso, a um refluxo dos capitais aplicados nos países emergentes, que teriam, então, de elevar os juros para deter a fuga destes recursos para a “segurança” – que ironia! – dos títulos do Tesouro americano.

Sei que o raciocínio técnico do Banco Central aponta a elevação da taxa de juros como um dos “diques” que se pode erguer contra isso.

E também que o rentismo nacional – temos bancos pra lá do “padrão Fifa”, ora pois – está de boca aberta esperando esse aumento do botim que faz dos recursos públicos.

Apenas me pergunto se a “prudência” do Banco Central em relação a um desequilíbrio cambial que possa vir de uma eventual fuga de capitais funciona mesmo pela via da taxa de juros.

O surto altista do dólar ocorrido recentemente mostra que o “colchão” das reservas cambiais jogou um papel muito mais importante na descida – até demasiada – da taxa de câmbio, que tem “efeito-manada” muito mais evidente sobre o fluxo de capitais.

Enfim, nunca há dignidade na escravidão, salvo quando se acumula forças para romper grilhões.

Duvido muito que a tecnocracia econômica brasileira maneje as correntes que nos atam de forma que só deseje que elas se estiquem para podermos serrá-las.

Estamos supondo mover as peças para um 2014 “mais tranquilo”, dando agora aos leões a carne que achamos que eles nos vão avançar para ter, amanhã.

Como se os seus apetites não crescessem à medida em que comem.

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13 respostas

  1. Na minha modesta opinião, o que o governo está fazendo, através do BC, é garantir que não teremos inflação até as eleições, mesmo que isto custe uma freada no crescimento. Estes aumentos vão refletir até meados do ano que vem e o governo sabe que a inflação talvez seja o maior risco para a reeleição de Dilma.

  2. Não sou economista, mas, pra mim, aumentar juros diminui inflação no curto prazo, mas aumenta no médio, longo prazo. Eu pergunto: quantos empresários deixaram de investir na economia real, com esse ciclo de aumentos de juros? Como os preços vão cair se a oferta não aumentar?
    Esse medinho da inflação chega a dar raiva. Cada vez que o PIB cresce um pouco mais rápido, aumenta-se os juros, pra conter a inflação. Aí, ao invés de deixar a inflação rolar sola 1 ou 2 anos e depois cair pelo aumento da oferta, a gente esfria um pouco a inflação, matando o crescimento. Assim nós vamos continuar engatinhando a 3% ao ano.

  3. Apostem acabou a greve dos bancarios. Era so o que faltava, os privados queriam juros , injeçao na veia. Para darem o que os trabalhadores pediam , um misera parte dos lucros..

  4. Entendo que aumentando deixa o Leão quieto, satisfeito, de barriga cheia.

    Conforme dito em vários blogs, por vários analistas políticos, Dilma está bem nas pesquisas, e tende a continuar assim, com chance de arrematar no 1º turno.

    Contudo, se a “catástrofe” (alardeada todas manhãs pelo Bom dia Brasil) financeira ocorrer, o jogo muda.
    Aumentando os juros a profetizada catástrofe não ocorreria, eis que o animal financeiro com a barriga cheia assim continua, e não simula uma fugida para causar pânico e, consequentemente eleger alguém mais “amigo”.

  5. Quem puxa a inflação é o governo!
    Diminua impostos! de incentivos! abaixe barreiras alfandegárias! modernize a CLT!
    Assim se combate a inflação. Com inflação baixa, o BC não precisa aumentar juros.
    Agora vem dizer que a culpa é do BC ? o que tu quer, inflação de 100% ao ano como na época do Collor…
    claro…

  6. Fernando, essa turma do “jurão” é igual a viciado. Não dá pra tirar a “droga” do “jurão” pra esses rentistas assim tão rápido. A “larica” é imensa.
    Detesto esse “jurão”. É um atraso pro brasil. Lamento não haver uma auditoria séria nessa dívida interna. O PT nos deve isso. Infelizmente.
    Todavia, reconheço que quando o PT assumiu a bagaça, após o caos demo-tucano – os black blocs do patrimônio nacional – o “jurão” era de 25% ao ano. Ao cabo de 2013 estará ainda abaixo de 10% ao ano. Parece pouco, mas não foi pouco. Sei que Dilma resolveu fazer concessões à turma do “jurão”, mas eles querem mais (é a “larica”). Mas podes crer, estaremos nos desfazendo dessas amarras. Quando? Receitas com o aumento da produção de petróleo em 2014, redução da importação de combustíveis com a entrada de refinarias em operação em 2014, pagamento de dívidas privadas contraídas em dólar com vencimento acumulado em 2014.
    Eia então a data pra queda do juros. Meados de 2014. Antes da eleição. Com inflação na meta. O PIG chorará, dirá que é eleitoreiro, mas será maravilhoso e impagável (sem trocadilhos).

  7. só banqueiros ganham com isso e depois financiam campanhas eleitorais das quadrilhas políticas.

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