Bolsonaro em Moscou: lugar certo, hora certa, homem errado

Poucas ocasiões mostram a perda de importância do Brasil no cenário mundial quanto a visita de Jair Bolsonaro à Rússia em meio à crise com a OTAN, que deseja fazer da Ucrânia uma ponta de lança a apenas poucos quilômetros de Moscou.

Vai, como é sabido, para tirar fotos com um sorriso idiota, ao lado de Vladimir Putin para usar para mostrar-se um “estadista” e, talvez, para alguma piada machista e sem graça ao lado do russo, que não deve estar com humor para isso.

Nem sequer pautas comerciais pendentes temos, neste momento, com os russos, como temos com os chineses e os europeus e, apesar de um renque de militares que compõe a comitiva, nenhum assunto que possa progredir em matéria de tecnologia de Defesa, menos por oportunidades que por ideologia.

O governante de um país do tamanho do Brasil, a esta altura, não pode ir para a capital russa como uma agenda do presidente de uma ilha de Tonga, para fazer “selfies” com Putin.

Teria, por óbvio, de preparar a visita com uma série de diálogos e consultas aos seus pares na Europa e nos EUA, além de sondagens com os chineses que, semana passada, subscreveram um manifesto de “amizade sem limites” com os russos.

Estaria fazendo o que fez ontem, na Globonews, o embaixador brasileiro na Ucrânia, Norton Rapesta, que, mesmo sob contínua provocação da entrevistadora do G1, dizia que não havia uma situação de pânico no país eslavo.

Ou argumentando com os líderes ocidentais sobre como receberiam uma aliança militar entre russos e mexicanos, ali na sua fronteira, que é o equivalente a colocar mísseis da Otan nas fronteiras ucranianas.

Em qualquer caso, colocando-se como país distante daquele conflito, como muitos, mas preocupado por hazões humanitárias e econômicas em fazer que ele não vá adiante, porque prejudica a todos. Não faltaria, no mundo inteiro, apoio para isso, partindo de um país que tem como ser uma voz de outros, o que Tonga, positivamente, não teria.

Mas a insignificância do presidente brasileiro torna estas conversas inviáveis: ninguém reconhece Jair Bolsonaro como interlocutor.

Portanto, a viagem de Bolsonaro é tão significante para nossa diplomacia e para o recuo nas tensões mundiais quanto a de Mário Frias ao ex-lutador Renzo Gracie é para a indústria do audiovisual.

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