Bolsonaro finge oposição a seu próprio governo caótico

Jair Bolsonaro, a cada dia, tem mais razão ao dizer que o que virá no Brasil é um cenário de caos e de fome.

Falta, é claro, dizer que caos e fome virão num país que é governado por ele mesmo, que adota um discurso onde a miragem do “estão prendendo o povo em casa” e figura um “poder opressor” dos governadores e prefeitos seria o responsável pelas desgraças do país.

Em suas palavras e em sua prática, não são importantes as medidas sanitárias que podem nos levar à superação dos problemas trazidos pela pandemia – não há vacinas, não há testes e identificação dos focos de propagação do vírus, não há campanhas públicas de esclarecimento – mas há de sobra acusações ao “comunismo” dos lockdowns que – afora aqui e ali e por poucos dias – inexiste.

Ataca governantes, nos estados e prefeituras, que foram eleitos, em sua maioria, na esteira do bolsonarismo prevalente em 2018 e 2020, que estariam mantendo a população em uma espécie de “cárcere privado”.

E nessa pantomima, vale tudo, desde as acusações de uma perseguição religiosa pela suspensão de cultos presenciais (o que se fez até no Vaticano) até a invocação do “direito” a raves e festas em boate, naquilo que chamei ontem de estranha aliança entre senhoras fundamentalistas e marombados microcéfalos.

Isto seria “impedir o povo de ir às ruas ganhar o pão de seus filhos”.

O que, basta sair de casa e ver, não está acontecendo: o povo mais pobre, mais desvalido, está indo às ruas, em quantidades apavorantes. Está indo, sim, mas para pedir, para esmolar, para vender bugigangas que, afinal, lhe possam dar o dicumê incerto e escasso.

Aliás, o gênero de primeira necessidade que do qual o povo precisa, no agir de Bolsonaro, é o ódio. É dele que o ex-capitão quer alimentar a população, para nutri-lo a derrubar a democracia, afundar as instituições que se desmoralizaram ao levá-lo ao poder e fazer de si próprio o “chefe militar” de um Exército que parece ter coroado aquele que, há 30 anos, considerou indigno de estar em seus quadros e o excretou.

Mas a mediocridade tacanha de seus quadros, onde muitos desistiram da missão de defesa do país para aplicarem-se a “boquinhas” governamentais e à “missão” de se tornarem guarda pretoriana de um imbecil levaram a instituição ao ponto de aceitar que se expurguem os generais que não concordam em vê-la submetida a ser sacudida como uma ameaça a quem insistir em preservar vidas dos brasileiros.

Bolsonaro só tem um plano para o país e este não é nem a garantia da sobrevivência dos brasileiros e a recuperação da economia nacional. É o de permanecer no poder, ampliar a natureza imperial e impune do seu clã e evitar a cada vez mais previsível derrota eleitoral.

É para isso que deseja as Forças Armadas e, nela, calou, sem maiores insatisfações, os que lhe diziam “não”. A ver se a nova nata dos oficiais-generais trairão seus próprios antecessores degolados pelo seu execrável comandante.

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