A intimação dos apresentadores do Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcellos para explicarem como obtiveram supostas informações sigilosas a respeito das “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj ( que, em tese, estão sob segredo de Justiça) é, sob todos os aspectos, uma vergonha, uma ignomínia, um abuso inaceitável contra a liberdade de imprensa.
O dever de sigilo – sigilo já por si inexplicável – é dos advogados, dos promotores, do juiz, dos policiais. Não de jornalistas – e nem foram os dois que, evidentemente, obtiveram informações, mas leram textos preparados com elas.
Como leram, nos últimos anos, centenas de textos com “vazamentos” da Lava Jato sem que, em nenhum momento, recebessem convites para depor sobre como os obtiveram.
E as mensagens da Vaza Jato do The Intercept mostram como foi que as obtiveram.
Nada disso, porém, serve de atenuante para justificar o cerceamento da liberdade de imprensa, por mais que a Globo, desde sempre, seja a favor de uma liberdade que é sua, mas que não é de seus desafetos.
Primeiro, por excluir. Brizola, certa vez, disse que a Globo, além de detratar seus inimigos, tinha o poder de colocá-los na “Sibéria do esquecimento”, por excluir de sua então avassaladora “cobertura” de partido único, os que não lhe agradavam.
Fez ainda pior – e o confessou – em eleições.
William Bonner e Renata Vasconcellos precisam ser defendidos do fascismo que ajudaram a construir e defendidos incondicionalmente pela ótica da liberdade de imprensa e cobrados, com o mesmo vigor, pela ética da liberdade de imprensa.
Foram porta-vozes de quem era algoz e amordaçadores de quem era vítima.
Não seremos nós que aplaudiremos os algozes por, quando lhes interessa, amordaçarem qualquer voz.