Caó se vai, sua lei e sua luta ficam

cao

Outro dia, lembrei dele aqui, ao falar da reconquista do Sindicato dos Jornalistas, em 1978, aos pelegos que dele tomaram conta durante a ditadura. Hoje, o tempo nos levou, aos 76 anos, Carlos Alberto de Oliveira Santos, para sempre Caó, como através dos anos seguirá sendo o nome da Lei que elaborou e fez aprovar, tornando o racismo crime – crime tão praticado! – em nosso país.

É, jovens, não era não, e não faz tanto tempo assim, apenas o tempo de uma geração. Antes, por três décadas, havia apenas a Lei Afonso Arinos, que proibia a discriminação, no comércio, por preconceito racial. Que, ao que eu me lembre, nunca levou ninguém à cadeia por isso. A lei Caó foi o que deu efetividade, e ampliou muito, aquele texto vindo do segundo governo Vargas.

Antes, na Constituinte, tinha feito do racismo um crime inafiançável e imprescritível.

Das agitadas assembleias do Teatro Casa Grande, onde se organizava – mas nem tanto – a oposição sindical, voltei a conviver com ele no milagre de 82, onde a campanha de Leonel Brizola ao governo do Estado fez o milagre de eleger jornalistas, com ideias e sem dinheiro, como ele e Maurício Azêdo contra os afilhados da máquina de Chagas Freitas, que dominava o MDB-PMDB.

Baiano, atrevido, empertigado, até fisicamente Caó era o contrário do estereótipo do negro submisso. Por incrível que pareça hoje, “movimento negro” era algo ainda maldito nos anos 70 e 80, e só o PDT tinha, então, um espaço para ele em sua estrutura. Caó sempre foi um de seus líderes, e, duas vezes Secretário do Trabalho dos governos de Leonel Brizola, seguiu dando sua contribuição à luta dos trabalhadores.

Há muitos anos não o via, mas a notícia de sua morte é um atropelamento emocional. Mas é dor que se cura, assim que saír à rua e olhar homens e mulheres negras andando de cabeça erguida, como ele andava.

Os jornais trarão notinhas falando se seus 76 anos, de sua trajetória profissional brilhante nas redaçoes, das perseguições que o trouxeram da Bahia ao Rio. Eu prefiro ficar no significado das lutas que os tempos difíceis e a dignidade dos negros e negras brasileiros o obrigaram a ter e transformaram o Betinho, seu apelido de boa-praça que era nos seus tempos de UNE, no Caó altivo que precisou ser.

 

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11 respostas

  1. Exemplos de vida e luta ficam gravados na memória jamais será esquecido o seu querido Rio que o acolheu e nele descansará.

  2. Viva Caó e sua luta por dignidade de uma gente com quem o Brasil tem uma dívida impagável!

    Aos racistas e sociopatas, aos que espezinham e violam os direitos humanos, a prisão!

    Nenhuma condescendência com eles, nenhuma mesmo.

    Nem em nome de liberdades como justificou a juíza que concedeu aos bolsonazistas desfilarem livremente no carnaval.

    Fecho total com este post e também com este daqui:

    https://www.brasil247.com/pt/colunistas/bepedamasco/340354/Ju%C3%ADza-que-liberou-apologia-à-tortura-deveria-ser-exonerada.htm

  3. Caó merece a homenagem. O processo civilizatório, longo e árduo, avançou muito naqueles memoráveis tempos do também inesquecível Brizola.

  4. O tempo é implacável e nos tem levado alguns grandes companheiros, alguns ainda jovens e outros nem tão velhos, como é o caso de Caó.
    A militância me colocou em contato com Caó por várias vezes num período de uns poucos anos, depois perdi contato. Era não só um dedicado militante com idéias lúcidas e firmes mas acima de tudo um sujeito de agradável convivência.
    Impertigado, como o Fernando o definiu, o vi sê-lo especialmente numa ocasião, em 1979, em que o Centro Brasil Democrático organizou uma reunião das lideranças democráticas dos mais importantes sindicatos do país. Nestes 3-4 dias de reunião no Novotel de Gragoatá (Niterói) conheci de fato seu lado impertigado.
    Obrigado por tudo Caó, você fará falta.

  5. Certamente, o Patrão Velho lá de cima – como dizemos os gaúchos – guardou um lugarzinho dos bons para o Caó.

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