Comando só por obediência é só meio comando

Thaís Oyama, no UOL, faz um deprimente relato dos questionamentos e desagrados manifestados pelo Alto Comando do Exército com seu comandante, o general Paulo Sérgio Nogueira, ontem, em que pediam ao comando que não participasse da demonstração patética realizada hoje na Praça dos Três Poderes.

‘”Com maior ou menor eloquência, os generais [do Alto Comando] expressaram seu desagrado à presença do comandante do Exército num evento que, para eles, escancarava a tentativa presidencial de usar as Forças Armadas em seu benefício político — nesse caso, o desejo de intimidar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Alguns se disseram “envergonhados” e “indignados”.”

Nogueira, como se sabe, formou ao lado do presidente para assistir ao fumacento desfile de tanques. Os generais dissiparam de maneira mais discreta a fumaça de seu desagrado, justamente porque não exibem de público o escape de suas frustrações.

O que não quer dizer que o ar esteja limpo e saudável ali.

O comando do Exército, ao mesmo tempo que investe seu ocupante da chefia, não o exime da colegialidade, do exercício da harmonia entre seus pares.

É, aliás, para isso que o Exército, Marinha e Aeronáutica possuem, cada um, seu Alto Comando, para que as Armas sejam dirigidas não apenas pelo comandante, mas também por seus pares mais qualificados e com maiores responsabilidades.

Vai daí a conclusão, óbvia, de que o general comandante do Exército pode, sim, contar com a obediência de seus pares, mas certamente não conta mais com a sua concordância total,

O general certamente sabe que isso é péssimo para um comando: exercer-se não por solidariedade e unidade, mas apenas por necessário dever de disciplina.

E, pior, quando começa a prosperar a ideia de que há mais compromisso com a defesa do posto que da instituição.

O bastão de comando não é uma varinha mágica capaz de substituir a concordância como fonte de legitimidade.

Mas serve para pedir carona no desfile de tanques fumacentos da Marinha e nos arroubos de Bolsonaro e colocar o Exército em uma posição indefensável.

 

 

 

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