Complicação generalizada

O quadro clínico do regime bolsonarista começa a semana com novas complicações e, desta vez, ao menos uma delas é importantíssima.

A entrevista do suplente de Flávio Bolsonaro, Paulo Marinho, relatando que ao Polícia Federal freou investigações sobre o caso Fabrício Queiroz para não prejudicar eleitoralmente Jair Bolsonaro lança, sem dúvida alguma, uma sombra de ilegitimidade na conquista do cargo nas eleições de 2018.

Na verdade, mais uma, porque a cassação da candidatura de Lula, anterior e mais grave, só não é assim considerada porque Sérgio Moro ocupava o trono das virtudes, o qual, a esta altura, transformou-se numa cadeirinha rota, na qual ele já mal se sustenta.

Desta vez, porém, duas questões – já sabidas por muitos – afloram.

Uma, é a politização ‘bolsonárica’ da Polícia Federal, endeusada ao longo de toda a Lava Jato e que não pode, a não ser por imensa mistificação, ser reduzida a um delegado linguarudo que foi avisar do caso Queiroz. Um delegado, solitariamente, não tem o poder de retardar um caso deste tamanho, envolvendo quem envolvia.

Tanto é assim que, ao narrar a situação aos emissários de Flávio, ele diz: “Nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição”.

“Nós vamos”, não “eu vou”, como diria um picareta de olho em recompensas de um futuro governo.

Salta aos olhos que o fato principal não é o vazamento, mas a procrastinação de uma investigação policial para não prejudicar um candidato.

A segunda, como apontei aqui, é que parece difícil “colar” em Alexandre Ramagem, o queridinho de Bolsonaro, a identidade do vazador. Como apontei aqui, Ramagem já estava fora da PF o Rio havia seis meses. Quem a dirigia era o homem que, sob a benção de Moro, continuou até ter atritos com o presidente, o delegado Ricardo Saadi, que foi levado pela nova gestão ao cargo de chefe do “combate à corrupção”, certamente um lugar que não passaria sem a simpatia e anuência do próprio hoje ex-ministro.

Como é também inacreditável que o “freio” dado à investigação tenha prosseguido, já sob a gestão Sérgio Moro- Maurício Valeixo, sem que sequer um comentário tivesse chegado ao ouvido de ambos. Quais foram as razões para que este “segredo” tivesse acabado em guerra entre eles é material para histórias nada republicanas.

Inclusive, quem sabe, para explicar a decisão de Jair Bolsonaro de levar Moro ao Ministério, algo que trazia – como trouxe – muito mais perigos que vantagens ao novo presidente, que não tinha – já eleito – motivo algum para levar o ex-juiz ao Ministério senão o de tirar dele o poder de, sendo a 13ª Vara Federal de Curitiba ter se tornado uma espécie de “juízo universal”, que podia atrair para si qualquer caso que lhe conviesse politicamente.

Um dia, sabe-se lá quando com o controle das instituições por gente fraca a pusilânime, veremos que a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder não foi uma loucura, um delírio, um acaso desastroso, mas o fruto de uma conspiração militar-policial-judicial para empalmar o governo da República.

E fazer dele, afinal, o lixo que estamos assistindo.

 

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10 respostas

  1. Simplesmente esse abafa e o vazamento para o criminoso da investigação foi uma das moedas de troca do JUIZ LADRÃO … juntamente com o vazamento de delações falsas do pullocci, em troca do cargo no MJ…
    Só não atiram um contra o outro porque o crime é comum entre ambos !

  2. Simplesmente esse abafa e o vazamento para o criminoso da investigação foi uma das moedas de troca do JUIZ LADRÃO … juntamente com o vazamento de delações falsas do pullocci, em troca do cargo no MJ…
    Só não atiram um contra o outro porque o crime é comum entre ambos !

  3. A impressão que eu tenho é que Bolsonaro só cai, se sacar uma arma e matar um jornalista na porta do palácio do Planalto. NADA, nenhum crime denunciado, comprovado, evidenciado faz efeito algum sobre o governo. A ditadura é hoje, está aí, as instituições são: metade delas covarde, a outra metade sócia do golpe.

    1. Mesmo dando o tiro, pode alegar forte emoção…Mas a frase importante é “a ditadura é hoje.” Já está instalada. Imagina se fosse acampamento do MST em Brasília e com as pessoas armadas….

    2. Golpe com o supremo, com tudo. Do jeito que as instituições andam, bozo só vai sair da presidência quando morrer. Vai acabar deixando pra dar o golpe definitivo em 2022, acusando as eleições de serem fraude ou coisa do tipo.

  4. A Globo, pelo menos até o momento, não está relacionando as denúncias de Paulo Marinho às eleições de 2018. Ela se refere rapidamente à desculpa apresentada pela PF pelo adiamento da operação policial, adiamento esse que teria acontecido “para não atrapalhar as eleições”. Para o Zé Povinho, esta desculpa até pode parecer razoável. Vamos ver até quando vai durar a enrolação informativa da Globo, que quer detonar Bolsonaro, mas não quer correr o risco de que sejam anuladas as eleições. Seria melhor para a Globo que ela assumisse logo a face verdadeira do caso. E esta face é exatamente a tramoia policial que foi armada para que os Bolsonaro fossem eleitos. A polícia escondeu da população os crimes dessa família, e deixou o povo votar sem saber quem eram de fato aqueles em quem votavam, e o resultado é que hoje está mais do que claro que eles não poderiam, não tinham a mínima condição de governar o Brasil. A Globo não vai ter como esconder isso do povo.

    1. A globo não relacionará mesmo. A globosta quer o Fora Bolsonaro, mas não quer que a chapa inteira caia.
      Por quê? Porque teríamos obrigatoriamente novas eleições, com boa possibilidade do PT vencer.
      A globo quer é que bolsonaro saia, mas que permaneça a politica econômica da privataria do guedes.
      Seria muito mais fácil compor com mourão e receber parcela do patrimônio dilapidado.

  5. Trouxas todos aqueles que ainda creem que a operação fraudulenta montada por empresários, banqueiros, mídia, militares, políticos, juízes, policiais, pastores evangélicos et caterva, aqui e lá fora, a fim de que tão destrambelhada figura fosse eleita, pudesse ter qualquer motivação outra que não fosse o saque do erário em benefício próprio e sugar ainda mais o sangue do povo brasileiro. Follow the money!

  6. Para esmiuçar o quem é o “Nós vamos“:
    Segundo relator da operação Furna da Onça, o desembargador federal Abel Gomes, em nota, a operação não foi adiada para “beneficiar quem quer que seja”, e “sim deflagrada no momento que se concluiu mais oportuno, conforme entendimento conjunto entre o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal e o Judiciário”. Ele ressalta “que a delegada da PF presidente da Operação Furna da Onça foi a Dra. Xênia Ribeiro Soares e não um delegado do sexo masculino”. ? https://static.poder360.com.br/2020/05/nota-esclarecimento-trf-2-abel-gomes.pdf
    Houve um entendimento entre MPF, PF e Judiciário. A mesma coisa aconteceu durante toda a lava-jato. Parece que há um “cimento”, uma liga que unifica nos bastidores essas instituições civis, além de outras; uma espécie de irmandade, um partido informal, secreto, clandestino, dentro das corporações do estado brasileiro. Quando a investigação atinge a candidatura ‘X’, segura; mas quando há algo que atinge a candidatura ‘Y’, vaza.
    Cabe perguntar ao meretríssimo autor da nota, quando é que vai se concluir o tal momento “mais oportuno”, porque até agora ninguém sabe informar o paradeiro do ????ueiroz.

  7. Concordo com você, Brito. Diria que a participação militar foi bem maior do que zomba nossa vã filosofia. Vide o segredo do Bozo com o Villas Boas. Aliás, esse, só faltou pedir bençãos ao Lula, para chegar onde chegou. O PT contemporizou muito. Deixou chocar todos esses ovos: MP, PF, PIG, e promoveu ou colocou em cargos vitalícios, só gente que não comungava em nada com suas idéias. Como dizemos aqui no NORDESTE; deixou correr frouxo. Hoje, estamos colhendo esses frutos. Todos podres, diga-se.

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