Contra apagão, só recessão e inflação

Não acredite nestes prognósticos de que não haverá “apagão” em 2021.

Pode até ser que não, mas dependemos, para isso, de um remédio que é um veneno para a sociedade: uma recessão econômica.

Anunciam-se “modelos matemáticos” complexo, embora tudo, ao final, vá resultar numa equação simples: quanta água armazenada temos, quanto entra e quanta sai para produzir a energia que corresponde a pouco menos de 60% da eletricidade que o país consome.

Em 31 de maio do ano passado, os reservatórios de todo o país possuíam água armazenada para gerar 174.981 Megawatt/mês. E, na estação seca, usaram 109.955 MWmês até o dia 30 de novembro, quando a reserva baixou para 65.026 MWmês.

Não é preciso dizer que, por conta da retração da economia pela crise pandêmica, em média, o consumo de energia estagnou, com pouquíssima alta em relação ao ano anterior.

Em 31 de maio deste ano, o volume armazenado nos reservatórios era de 122.341 MWmês. Apenas repetir o consumo do ano passado (e vai subir), com o mesmo regime de chuvas (e este vai cair, concordam todos os especialistas) deixaria um salto final de meros 12.360 MWmês, o que não vai além de 3 ou 4% das capacidades de reservação de água em nossas represas.

Nos reservatórios mais importantes, do Sudeste/Centro Oeste, que respondem por 70% da capacidade nacional, gastaram-se, das reservas, 76 mil MW, 20% a mais do que há lá, hoje.

Não é, portanto, “mais fácil ganhar na loteria do que afirmar hoje quanto teremos de reserva de potência em outubro”, como diz o almirante Bento Albuquerque, Ministro das Minas e Energia.

Não há solução para este “nó”, depois que ele se forma pela falta de planejamento energético. Energia eólica e solar, por representarem baixa geração por instalação, comparados às hidrelétricas, só representam alívio ao longo de anos de implantação. As térmicas, mais rápidas na construção, ainda assim requerem meses de implantação, além de todas as desvantagens de preço da energia (muito mais cara) e de impacto ambiental.

O balanço de reservas energéticas deixa claro que, dentro de semanas, passamos a ter reservatórios que terão de reduzir a produção de energia quase a zero, apenas o necessário para garantir a vazão dos rios, e isso embaralha todo o sistema de transmissão de energia, que passa a depender de transferências de uma linha para outra da energia disponível e leva ao primeiro sinal do “apagão”: os cortes de carga eventuais.

Esta proposta de “deslocamento de consumo” para fora de horários de pico, no curto prazo, é bobagem: seria preciso trocar os medidores domésticos e comerciais a jato . Poderia funcionar com grandes indústrias, mas gerando custos trabalhistas (adicional noturno), logísticos e administrativos (empresa com setores diferentes trabalhando em horários diferentes).

Só o que pode evitar um desastre (porque crise já há) energético é a redução da atividade econômica e a elevação dos preços. Ou seja: contra o “apagão”, só recessão e inflação.

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