Conversa da “retomada” já não se sustenta nem na mídia

Quando a “musa da retomada econômica”, Miriam Leitão, começa a admitir dúvidas sobre o “agora a coisa vai” é bom assumir uma postura de precaução.

Em sua coluna de hoje, diz que o Banco Central assumiu um discurso confuso para justificar a queda nos juros, que fez isso para responder não só à pressão do mercado, mas também por conta dos fracos sinais da atividade econômica.

Está aí, ao que parece, a jogada arriscada do governo em meio a uma expressiva fuga de capitais do Brasil, porque ninguém mais que o BC tem os dados em tempo real do que está acontecendo.

José Paulo Kupfer, jornalista econômico de muito maior credibilidade, aponta justamente para o problema das informações que saem dos gabinetes do governo, que estaria praticando um “apagão de dados” e reduzindo a confiança no que sai nas estatísticas.

“São fortes os indicativos de que o governo Bolsonaro está sofrendo um apagão de informações estatísticas. Pesquisadores acostumados a coletar dados de diversos setores do governo têm denunciado a paralisação ou redução de qualidade e quantidade na divulgação pública de dados. As falhas estão afetando, entre outras, informações previdenciárias, tributárias, de pessoal no serviço público federal e de programas sociais, como o Bolsa Família. Também há problemas no registro de outras informações econômicas, caso das contas externas, e falta de transparência na divulgação de metodologias de construção de indicadores. “

Isso significa que o “radar” do dinheiro pode ficar confuso, apesar da farra da Bolsa, enquanto o BC “manda” legiões de pequenos poupadores para a aventura, empurrando para baixo os investimentos de renda fixa.

É como se gritassem “corra para a Bolsa” e o conhecido “efeito manada” já levou perto de um milhão de pessoas para o cassino acionário, completamente desligado da produção real de valor.

Todos fingem não escutar o gongo de alarme que ressoa na China. “Cata-se” informação, como a que dá hoje o Valor, de que os embarques de conteineres nos portos chineses já caiu 20%. Só na imprensa estrangeira fica-se sabendo que eles, os maiores compradores de soja no Brasil, reduziram as tarifas cobradas da soja norte-americana, para cumprir o acordo com os EUA. Automaticamente, nossa soja fica “mais cara”, em preço relativo.

O efeito disso demora, porque os navios que estão carregando no Brasil saíram da China antes da explosão do coronavírus. Lembrem-se que hoje faz apenas duas semanas que se decretou o bloqueio da cidade de Wuhan, acionando as sirenes de uma grave epidemia. Naquele dia eram 547 casos; hoje são mais de 28 mil e com quase 600 mortes.

A verdade é que não se pode adivinhar o quão grave isso será para o Brasil. Ou melhor, se será grave, gravíssimo ou desastroso.

 

 

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

6 respostas

  1. A declaração mais importante do ano foi feita semana passada, pelo gestor Luiz Sthulberger, um dos mais sérios do mercado. Em evento de especialistas em investimentos, em SP, disse (e teve imediatamente alta repercussão na mídia tradicional) que a bolsa brasileira vive uma bolha. Os sucessivos cortes nos juros alimentam essa bolha, entre outras perversidades mercadistas. O apagão de dados estatíscos não é “sofrido” pelo governo, como diz o gentil Kupfer. O apagão é promovido pelo governo para nublar corações e mentes enquanto a turma que elegeu Guedes enche as burras em Luxemburgo ou alhures.

  2. se depender das ações da China, as consequências serão graves. Se epender do Paulo Guedes, serão gravíssimas. Se depender do Bozo, serão desastrosas….

  3. Se um estouro de bolha seria desastroso, algum nível de recuo de bolsa seria positivo a meu ver.
    É preciso que a sociedade reaprenda que o dinheiro vem do TRABALHO.
    Esse costume herdado de FHC e PT de que só por ter dinheiro guardado, vc merece rentabilidade é a origem da nossa situação atual.
    Quer ganhar mais dinheiro? Empreenda e trabalhe mais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *