Há um homem à procura de uma porta de saída e ele é o ex-todo-poderoso Ministro da Economia, Paulo Guedes.
Está plantando nos jornais que considera deixar o posto, que já não é Ipiranga, se Jair Bolsonaro sancionar sem vetos o Orçamento, como quer o Centrão.
É o que faz, hoje, na capa do Estadão, em reportagem cheia de offs.
Guedes é um homem de temperamento e práticas autoritárias, incapaz de articular-se politicamente.
Conseguiu ter problemas na reforma da Previdência até com Rodrigo Maia, talvez o deputado mais alinhado com os cortes de direitos sociais que o ministro pretendia.
E, sem fazer esta composição relativamente fácil com o ex-presidente da Câmara, acabou por largar Jair Bolsonaro na bandeja da direita mais fisiológica e bandida no trato com o Executivo.
É evidente que, se houver possibilidade de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro não será por eventuais “pedaladas fiscais”.
Como, é claro, não foi por isso que ocorreu o impedimento de Dilma Rousseff.
Perde-se mandato por perda de base parlamentar e apoio popular, e isso é algo que até Jair Bolsonaro sabe, daí depender hoje, respectivamente, da agitação de sua massa de fanáticos e da trupe de parlamentares que negocia seus votos por seus negócios, tanto os eleitorais quanto outro, menos evidentes.
O que dependia de Paulo Guedes, o correto dimensionamento do dano que uma segunda onda pandêmica como a que temos, fracassou: atrasou-se o auxílio emergencial, achataram-se seus valores de olho num “teto” de despesas absolutamente inviável, deixaram-se de fora do Orçamento programas de manutenção do emprego e de crédito barato e alongado para a sustentação das empresas afetadas pela recidiva econômica da Covid.
As expectativas de crescimento econômico do país baixaram à casa dos 2% e poucos descartam que caiam para 1%, sem horizonte de recuperação até meados do segundo semestre, pelo menos. A inflação, embora contando com a queda da demanda para refreá-la, vai seguir empurrada por câmbio, por energia (petróleo e eletricidade) e por, até agora, uma conjuntura de exportações rentáveis, pela reação do mercado mundial de commodities.
A CPI da Covid, que cria necessidades extras – e grandes – de acertos com a base parlamentar pode criar a oportunidade de que Guedes se vá como o “mártir da austeridade”.
É como se os ratos abandonassem o navio. Navio pirata.