É de uma tolice sem par – ou melhor, de uma crueldade sem limites – a ideia de que uma apressada (e criminosa) volta às atividades normais iria ajudar a minimizar os prejuízos da economia brasileira como se, aliás, pudesse haver normalidade em meio a uma tempestade de doença e morte espalhada por todo canto.
Os dados recem divulgados sobre queda de 6,8% no Produto Interno Bruto da China no primeiro trimestre de 2020 mostram que os desafios econômicos são outros, bem mais complexos. Nosso principal parceiro comercial teve, na verdade, uma retração econômica na ordem de mais de 10%, pois crescia constantemente na mesma casa em que agora cai.
Não será diferente – e provavelmente será pior – com o segundo parceiro, os EUA e com o terceiro, a União Europeia.
Se o desastre é grande no comércio é grande – e isso é terrível para uma economia fortemente dependente da exportação, menos não é noutra grande dependência do país: a do capital internacional. E nisto, onde já vínhamos mal, não há como pensar senão em uma longa temporada de retração quase total, com as economias centrais arruinadas e voltadas, na farinha muito pouca, para os seus pirões primeiro.
Lamentavelmente, não temos um governo e uma elite dirigente capaz de pensar em pontos fortes nos quais o Brasil terá de apoiar-se para enfrentar isso.
Num mundo mais fechado, como em situações de guerra, somos privilegiados por possuirmos dois setores poderosos – a produção agrícola e a mineração – bem pouco atingidos pela pandemia. Temos a oportunidade de substituir importações. Temos a oportunidade de fazer das rendas emergenciais um programa de inclusão de milhões no mundo do consumo. Temos milhares de obras públicas paralisadas que podem ser rapidamente retomadas, gerando centenas de milhares de postos de trabalho. Temos uma quantidade imensa de recursos acumulados, seja em nossas reservas, seja nos carrapatos gordos do sistema financeiro.
Temos, numa palavra, todas as condições de fazer com que o país possa se reerguer e rebrotar numa direção mais afinada com a sua vocação de país líder.
Só não temos, e isso pode nos ser fatal, gente capaz de pensar assim.
Tudo o que lhes ocupa as mentes mesquinhas é a reabertura dos shoppings e a volta da faxineira a limpar suas casas, como se a economia de um país fosse feita de Havans e de aventais, ainda que morram por isso.