A situação está, para usar gíria de antigamente, de vaca não reconhecer bezerro.
O repórter Rodrigo Rangel, do Metrópoles, publicou há pouco que o delegado federal Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre o corrupção no Ministério da Educação e que mandou prender o ex-ministro Milton Ribeiro, pediu à ministra ministra Cármen Lúcia — relatora do caso no Supremo Tribunal Federal, a prisão de integrantes da cúpula da Polícia Federal que, segundo ele, teriam interferido na ação policial, impedindo que Ribeiro fosse levado a depor na sede da PF.
Isso já tinha sido objeto de trocas de mensagens internas na Federal e Calandrini, nelas, reclamava que a negativa de meios para a condução de Ribeiro ao depoimento era mero estratagema para que ele ficasse em silêncio até obter um habeas corpus, depois que interceptações telefônicas com autorização judicial revelaram que haveria um aviso presidencial – traduzido pelo “pressentimento” de que se faria uma busca – para que o ex-ministro se precavesse.
Rangel, para quem não se recorda, foi quem trouxe à luz o “furo” sobre os casos de assédio sexual do presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães.
Não são apontados na reportagem quais dirigentes da PF tiveram a prisão pedida, porque o processo corre em sigilo, nem se o pedido foi enviado a parecer da Procuradoria Geral da República. Mas se trata de algo, pelo que possa me lembrar, de algo inédito na história: um delegado federal pedindo a prisão de seus superiores hierárquico e logo os mais altos.
O clima na Polícia Federal está pesado, com grande descontentamento da área operacional com a direção da instituição pelo que entendem ser uma atrelamento de sua ação aos interesses de Jair Bolsonaro. Até a equipe que faz a proteção a Lula – como a todos os demais candidatos presidenciais – entrou em conflito pelo que alegou ser ser a retirada de sua autonomia em pedir apoio das unidades locais da PF durante as viagens do candidato.