Dia do aprendedor

luzdosol

Peço desculpas  aos professores que marcaram minha vida, a começar dos que tive como pais.

Ele, de memória prodigiosa, professor de Geografia, capaz de desenhar de memória o mapa de qualquer dos grandes países, sem olhar qualquer referência.

Ela, alfabetizadora, que punha a mim e a meu irmão, à noite e nos finais de semana, a imprimir no velho mimeógrafo a álcool, naqueles estranhos azuis, vermelhos e roxos dos carbonos, os exercícios em letra cursiva desenhada caprichosamente.

E à “Dona Leda”. e à “Dona Vilma”, uma severa e generosa, outra liberal e igualmente generosa. Generosa era também a D. Iolanda, pioneira nas minissaias, que ensinou o menino  politicamente incorreto acompanhar encantado as pernas que subiam a escada de escola VI-I-XIII Isabel Mendes, numa ladeira do Méier, nos anos 60, emolduradas pelo xadrez “escocês” então em voga.

A vida já é longa, e foram passando muitos e muitas: O de cavanhaque, de quem não me lembro nome, do 1º ano do ginásio, na aula de francês, largou o livrão do desenxabido Monsieur Vincent  (Cours de Langue et Civilisation Française)e nos ensinou a letra e o sentido da Marselhesa, e os da Escola Técnica – os letrados e os iletrados – que me ensinaram os níveis orbitais dos elétrons e a forjar o ferro em brasa.

Horror a alguns como  o gorducho que queria me fazer decorar (Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá, seno A, cosseno B? seno B, cosseno A) e a outros, como o Belchior  quando jovem,  Carlos Walter Porto Gonçalves, nome de cerâmica e cara de Belchior, com sua fraterna subversão.  Depois, na faculdade, o Ivair Itagiba, que se vocês pensam que tinha como esquisito o nome deveriam ouvir falando de fenomenologia – não, não é uma seita – e da “transcendência da imanência”.

Ou o Nílson Lage, que, apesar do apenas aparente mau humor e exigências só tinha como idiossincrasia absoluta que nós, aspirantes a jornalistas, ainda teimássemos em entregar os trabalhos escritos à mão, como se fossemos crianças, e não à máquina. Era o mais temido e, não há paradoxo nisso, o mais amado, porque o que mais nos aproximava do trabalho que queríamos e, alguns, iríamos ter.

Perdão ainda aos outros professores eventuais, como nas aulas que “filava” de economia com César Maia, na UFF, ou de Maria da Conceição Tavares, ali ao lado da Comunicação, na Escola de Economia.

Perdão, porque acho que que hoje devêssemos comemorar o ensinar, mas o aprender.

O conhecimento não é uma mercadoria, que se compra e daí se passa a ser nossa propriedade.

É uma elaboração, para a qual precisamos, como uma planta, de terra e clima que lhes sejam propícios.

O professor é, neste processo, é a luz que nos permite absorver e sintetizar, fazendo nosso próprio pensamento.

Estes imbecis, fascistas, da “Escola sem Partido” não percebem que professores não “fazem cabeças”, mas abrem cabeças, para que delas brotem aquilo que têm dentro.

Que o professor é, como Caetano diz, “Luz do sol/Que a folha traga e traduz /Em verde novo /Em folha, em graça, em vida, em força, em luz”.

Com todos eles descobri que respirar, comer, vestir tudo isso me faz viver. Mas só aprender me faz brotar.

 

contrib1

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13 respostas

  1. Obrigado, Brito!
    De um cara que é professor (mais de 40 anos) e ainda não perdeu a esperança, nem a crença na educação.

  2. Professor, bela profissão ! Profissão que faz e sempre fará diferença em qualquer país. Dom Pedro II disse certa feira: ” Se Eu não fosse imperador, Eu seria mestre escola.” Parabéns a todos os professores ! Que todos fortalecidos e unidos com outras categorias de boa vontade, lutemos por um país melhor, com mais justiça social e com mais oportunidades para todos.

  3. Em tempos de internete em que a informação, que para cada um de nós, supera muito o que podemos conhecer em toda uma vida e está ao alcance de todos em questão de segundos, dois valores precisam ser resgatados e colocados em prática: a capacidade de escolha e o discernimento (separar na raiz). O conhecimento deriva desta atitude, desta prática. O conhecimento não consegue mais vir antes para “abrir as cabeças”. Somente após escolher criteriosamente o que aprender é que se vai “conhecer” e não antes, porque tornou-se impossível inverter esta equação. Esta excrescência fascista da escola sem partido não permite minimamente a escolha, livre, soberana, e destrói totalmente o discernimento porque traz a ideologia da submissão, do caminho pré-determinado, do “faça o que eu mando e não faça o que eu faço”. Viva os professores no seu dia.

  4. AGENTE ERA FELIZ E NÃO SABIA ( ATAUFO ALVES ). DISSE NELSON SARGENTO : RECORDAR É SOFRER 2 VEZES, UM SOFRIMENTO FELIZ.

  5. Belo texto Brito! Parabéns aos Professores, aos bons e aos ruins, aos amados e aos detestados, todos com sua dura labuta de lidar com alunos, pais, colegas, chefes, patrões. Sempre vigiados e muito poucas vezes bem remunerados.

  6. Legal, Fernando, também fui aluno do Carlos Walter, superprofessor de geografia. Olha, foram muitas figuras admiráveis que tive a felicidade de encontrar na sala de aula. As aulas de geometria do Cláudio Veloso eram de chorar de emoção, dava pena de apagar o quadro negro e naquela época não tinha essa de bater uma foto com o celular para registrar. E o Ernesto Jacob Khein, professor de ciências, ensinando método científico para a molecada no laboratório? A gramática com André Valente descia como literatura. Lemos era intenso, como os livros que nos fazia ler, um por mês: Jorge Amado, Graciliano Ramos, Clarisse Lispector, Rachel de Queiroz, Chico Buarque. Nunca me esquecerei da Ana Cristina nos desafiando aos 11, 12 anos com a interpretação da letra de “Índio” do Caetano. Os olhos da Luiza brilhavam ensinando história, e a gente tinha vontade de virar historiador. Bira de química, Antônio César de física, apaixonado e apaixonante, Marcelo, Bebel e Luiz Fernando de matemática, claríssimos e exatos como convém a bons matemáticos, Dona Therezinha e Dona Vera de francês, meu segundo idioma até hoje. Mestres queridos, gratidão eterna.
    Acho que o mais importante que aprendi com eles foi ser altruísta, como costuma acontecer com quem lida com conhecimento, pois o conhecimento pertence a todos e a ninguém, e quanto mais o professor dá aos outros o que tem, mais rico ele fica. Minha utopia era simples, que todos os jovens pobres desse país também tivessem a sorte que tive de estudar numa escola maravilhosa.
    Essa história de “escola sem partido”? Distopia repugnante, inimaginável há somente alguns anos atrás…

  7. A minha sugestão para os professores que eles divulguem o que aconteceu na revolução Francesa, porque o que o povo paga de imposto para financiar a nobreza ou seja: os políticos e o poder judiciário mais caro do mundo. já é passado a hora de fazermos a nossa revolução, começa com a prisão do Ministério da educação tal Mendonça filho. De resto parabéns a está classe tão valorosa e explorada.

  8. Belíssimo texto e uma homenagem justa para aquele que fazem a grandeza da Nação e seus filhos ilustres a companhia de um professor é a mola impulsora da grandeza da Nação parabéns FB

    1. O modelo preferencial da gazeta do bobo é ensino privado,,, Do ensino $uperior financiado por banco$ nos molde$ americano$ onde o sujeito se forma com uma dívida quase impagável. Um do$ grande$ parceiro$ da gazeta do bobo e parceiro em eventos e show de artista$ do PIG o grupo po$itivo. Ambos grupos atuaram ma$$ivamente pró golpe. Apoiadores do P$DB golpista.

  9. Não podemos esquecer a insegurança a que os professores sempre estiveram submetidos, muito mais agora, pós reforma trabalhista dos golpistas. Terceirização na educação em breve pode significar o fim dos professores singularmente iluminadores e a massificação dos mais lucrativos Prestadores de Serviço de ensino, vinculados primeiramente a Empresas ganhadoras de licitações em escolas privadas ou públicas, como já demonstra a presença hoje em dia de Organizações Sociais ou Fundações (sem fins lucrativos, generosos, e sem impostos!)dentro de muitas escolas municipais e estaduais de todo o Brasil. Se o a manutenção e equilíbrio do corpo docente das escolas importará menos que o demonstrativo do orçamento, importará mais o aluno, ou a comunidade de estudantes? Contra a mercantilização da educação, contra a transformação do professor em mercadoria, contra a imposição do ensino religioso, contra o fascismo da escola sem partido, podemos e devemos lutar, sem culpas, cidadãos. Abaixo o golpe!

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