Há um ano, quando não se podia ter ideia da dimensão que tomaria aqulio que se tornou a pandemia do novo coronavírus, aqui pediu-se perdão para os que minimizavam a estranha “doença do mercado de peixes da China” para dizer que estava “claro que a doença tem potencial explosivo para multiplicar-se centenas ou até milhares de vezes .”
Eram, naquele final de janeiro, 16 mortes e três ou quatro mil pessoas infectadas. Nada, perto dos 2 milhões de mortos e mais de 100 milhões de contaminados que teríamos um ano depois, sem falar nas imensas mudanças em tudo, em matéria de política e economia, no mundo e aqui.
Infelizmente, continuamos tratando a Covid como se fosse a tal “gripezinha” da qual Jair Bolsonaro falou.
Vacina-se, se e quando houver vacina, e estará tudo resolvido. No mais, é vida que segue e vamos trabalhar.
Não é e não será assim. Não sairemos disso como num conto de fadas, onde “viveremos felizes para sempre”.
Temos seguramente um semestre, talvez um ano, quem sabe mais que isso de convívio com esta praga e, neste período, só o que crescerá no mundo é o egoísmo, a insensibilidade, a desumanidade e a miséria.
Não há um “novo normal” esperançoso.
Haverá, um “novo normal” de divisão entre os que têm e os que não têm, em todos os campos: no trabalho, na renda, na comida, na saúde e na vacina.
A Organização Mundial da Saúde está fazendo um apelo aos países ricos para “suspender as vacinações contra o coronavírus depois que seus profissionais de saúde e grupos vulneráveis foram inoculados, para garantir uma distribuição “justa” da vacina em todo o mundo”. A sugestão veio depois de uma pesquisa da organização que mostrou que 84 países pobres só terão vacina suficiente depois de 2024 ou…nunca.
Não se sabe se os dirigentes mundiais rirão disso em público ou em particular.