Do Nobel Paul Krugman, para Míriam Leitão, Marina Silva e os “terroristas da inflação”

cultoaomercado

Leiam o artigo que o  Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman escreveu “especialmente” para o Brasil.

“Especialmente”, porque é quase só substituir os personagens que ele cita, o país do qual trata, e os programas sociais que ele procura defender da sanha financista, e teremos um texto quase pronto para responder à onda que se levanta na mídia a partir do “mundo dourado do capital”, que Marina fez ver com sua proposta de retirar do controle público o Banco Central do Brasil.

Até mesmo na devoção “religiosa” com que certos personagens se entregam à crença de que é a ortodoxia fiscal, a impiedade dos cortes dos gastos sociais e a renúncia ao investimento desenvolvimentista as únicas orações capazes de nos livrar do “demônio da inflação”.

A sociedade – leia-se, os pobres – deve pagar o dízimo voraz dos juros altos e  os miseráveis devem jejuar, quase que literalmente, em nome da salvação.

Que, naturalmente, não vem, como não veio a messe senão para o capital financeiro, aquele que não emprega, não produz, não desenvolve.

Mas manda.

O culto à inflação

Como eu queria ter dito a mesma coisa! No começo da semana, Jesse Eisinger, da ProPublica, em post no blog DealBook, do “New York Times”, comparou as pessoas que preveem uma disparada da inflação aos “verdadeiros crentes cuja fé em um apocalipse profetizado persiste mesmo depois que este não se concretiza”. Verdade.

Aqueles que fazem previsões econômicas erram muitas vezes. Eu também! Se um economista jamais faz uma previsão incorreta, isso significa que não está assumindo os riscos que deveria. Mas é menos comum que supostos especialistas continuem a fazer a mesma previsão errada ano após ano, jamais admitindo ou tentando explicar seus passados erros. E o mais notável é que esses sabichões, sempre errados mas jamais em dúvida, continuam a exercer grande influência pública e política.

Há alguma coisa acontecendo aqui. E não está claro exatamente o quê. Mas como sabem meus leitores regulares, tenho tentado descobrir, porque considero importante compreender a persistência e o poder do culto à inflação.

De quem estamos falando? Não só dos apresentadores gritalhões da CNBC, ainda que eles certamente sejam parte do problema. Rick Santelli, famoso por sua diatribe em defesa do Tea Party em 2009, passou boa parte daquele ano gritando que a inflação descontrolada estava por chegar.

Não estava, mas sua linha jamais mudou. Dois meses atrás, ele disse aos seus telespectadores que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) estava se “preparando para a hiperinflação”.

É fácil descartar figuras como Santelli, alegando que elas basicamente são parte do mundo do entretenimento. Mas muitos investidores não parecem concordar com isso. Ouvi de administradores de fundos – ou seja, de investidores profissionais – que a calmaria da inflação os surpreendia, porque “todos os especialistas” haviam previsto uma alta.

E não é fácil descartar o fenômeno do apego obsessivo a uma doutrina econômica fracassada quando você o vê em importantes figuras políticas. Em 2009, o deputado federal Paul Ryan alertou sobre a “sombra da inflação que pende sobre nós”. Ele reconsiderou sua posição quando a inflação continuou baixa? Não, continuou alertando, ano após ano, sobre a iminente “degradação” do dólar.

E há mais: você encontra a mesma história ao estilo “dia da marmota” ao estudar os pronunciamentos de economistas aparentemente respeitáveis. Em maio de 2009, Allan Meltzer, economista monetário conhecido e historiador do Federal Reserve, escreveu um artigo de opinião para o “New York Times” no qual advertia que uma alta acentuada na inflação estava iminente a não ser que o Fed mudasse de rumo.

Ao longo dos cinco anos que se seguiram, o indicador de preços preferencial de Meltzer subiu em ritmo anualizado de apenas 1,6%, e sua resposta surgiu na forma de um novo artigo de opinião, este publicado pelo “Wall Street Journal” e intitulado “como o Fed alimenta a inflação”.

Assim, o que está acontecendo quanto a isso?

Já escrevi antes sobre como os ricos tendem a se opor à política monetária frouxa, percebendo-a como inimiga de seus interesses. Mas isso não explica os atrativos continuados de profetas cujas profecias sempre fracassam.

Parte do apelo é claramente político: existe um motivo para a gritaria de Santelli sobre a inflação e sobre o dinheiro que o presidente Obama dá aos “perdedores”, e para que Ryan alerte sobre uma moeda degradada e um governo que redistribui “dos que fazem para os que aproveitam”.

Os adeptos do culto à inflação quase sempre vinculam as políticas do Fed a queixas sobre os gastos do governo. Estão completamente errados quanto aos detalhes – não, o Fed não está imprimindo dinheiro para cobrir o deficit orçamentário -, mas é verdade que governos cujas dívidas são denominadas em uma moeda que eles podem emitir têm mais flexibilidade, e portanto mais capacidade de manter a assistência às pessoas que dela necessitem, do que governos que não contam com essa capacidade.

E a raiva contra os “aproveitadores” – uma raiva fortemente vinculada a divisões culturais e étnicas – é profunda. Muita gente, portanto, sente afinidade para com os homens que gritam sobre a disparada iminente da inflação; Santelli é o tipo de cara de que essas pessoas gostam.

Em um sentido importante, eu argumentaria, o culto à inflação é um exemplo da “fraude de afinidade” crucial para muitas trapaças, nas quais os investidores confiam no trapaceiro porque sentem que ele é parte de sua tribo. Nesse caso, os trapaceiros podem estar se trapaceando tanto quanto trapaceiam aos seus seguidores, mas isso pouco importa.

Mas e quando aos economistas que aderiram ao culto? Eles são todos conservadores, mas não são também profissionais que deveriam colocar as provas concretas acima da conveniência política? Aparentemente não.

A persistência do culto à inflação, portanto, é um indicador de até que ponto nossa sociedade se polarizou, de como tudo se tornou político, mesmo entre as pessoas que supostamente deveriam se colocar acima dessas coisas. E essa realidade, ao contrário do suposto risco de uma inflação descontrolada, é algo que deveria nos assustar.

 (tradução de Paulo Migliaccio, na Folha)

 

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19 respostas

  1. Logo vão aparecer alguns( aqueles de sempre) dizendo que a matéria do Paul Krugman foi ” comprada ” pela Dilma. Kkkkkkkkkkkkkkkk! É DILMA 13.

  2. Este artigo é um retrato do que se vê todos os dias na “imprensa” brasileira. Só que lá, os donos do dinheiro não querem que a inflação desvalorize o seu capital, enquanto que aqui no Brasil, a ladainha diária sobre a inflação é para forçar o Banco Central a elevar a Selic e, deste modo, aumentar as taxas de juros. Rentista brasileiro morre de saudade da Selic a 45% ao ano…

  3. O que Marina Siuva defende sobre Estado Mínimo é retirar do poder estatal a responsabilidade dom juros, programas sociais de transferência de renda, redução das ações das instituições, como Banco Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES na economia. Controle de juros por banqueiro é muito grave, termina em promover a saga desmedida de grupos com forte poder num tema que mexe com a vida de todos e fragiliza o lado mais fraco que é a população mais humilde.

    1. Ou o BRASIL acaba com a MALARINA SAÚVA ou a MALARINA SAÚVA acaba com o BRASIL !!!

      “O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO – O que passa SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

      1. Aliás, a MALARINA não parece um FORMIGÂO !?!?

        “O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO – O que passa SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

        1. Formigão… é, parece… um pouco. No entanto, preocupa-me o formigueiro que ela habita, pois seu intrincado sistema de canais e túneis subterrâneos, ao que tudo indica [e a História não contesta], são diretamente ligados e comandados pela CIA.

  4. A mídia do final desta semana faz aparecer, de forma muito clara e contundente, a vitimização da candidata Marina e ao mesmo tempo há notória apresentação da mesma em pousar de vítima.
    Tenhamos cuidado.

    1. Pois acho isso muito engraçado e até estranho…Essa vitimização, até por parte dela, só mostra que não tem nem pulso pra controlar o que ouve por aí,sem começar com lenga-lenga, quanto mais pra governar um país! Fora, vítima!! Nós, brasileiros, também já fomos vítimas por tempo demais! Agora que as coisas mudaram, não aceitamos a volta ao chororô!Bom, do nosso chororô, não! Se você quiser continuar…fique à vontade!

  5. Choro mesmo, de verdade, era ver pais e mães de famílias, em dias atras, nas secas que assolavam o Nordeste, ataques de pessoas eram comuns na cidades; este tempo faz parte do passado e não volta mais, a resposta é o Bolsa Família que no chamado Estado Mínimo perde força.

  6. O ‘Medo da inflação’ é a política do terror que os ricos usam como desculpa para manter as políticas de ‘austeridade’ dos Governos e assim barrar a redistribuição da renda e a inclusão social.

    Dessa forma, a ciência e as técnicas podem evoluir e possibilitar a criação da riqueza que for, que a riqueza sempre será apropriada pelas elites terroristas e nunca será distribuída, e sempre haverá desigualdades sociais.

    Aliás, a reprodução das desigualdades sociais é o seu principal objetivo, e quem está em cima manda, OFFSHORE, digo, of course. Capicci !?!?

    “O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO – O que passa SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  7. hahahaha Me orgulho de ter dito tempos atrás que o pessoal devia ler mais as colunas do Paul Krugman… rs

  8. Este artigo tem muito a ver com o Brasil, mas é bom que se tenha algumas questões bem claras para melhor aproveitá-lo. O Brasil reconhece, ou melhor, está a reconhecer nos últimos anos, que seus pobres foram vítimas indefesas de cruéis estruturas históricas de exploração e tenta corrigir isso. Os Estados Unidos não reconhecem isto, lá parte-se do princípio de que as oportunidades foram e são iguais para todos e de que os pobres são, em última análise, perdedores e incompetentes. Enquanto o Brasil pratica uma política de inclusão social em que o Estado trabalha para corrigir as injustiças sociais que provocaram um gigantesco desequilíbrio na distribuição das riquezas, nos EUA este mesmo desequilíbrio aumenta a cada dia, o número dos pobres (e perdedores) cresce sem parar aceleradamente, e quem fica mais e mais rico não é mais o heroico empreendedor, mas sim o especulador financeiro. Este mesmo especulador financeiro não se peja de tentar, no Brasil, obter mais poder para detonar a política de inclusão social do estado brasileiro, já que ele não reconhece a pobreza como fruto de uma injustiça social histórica e embora faça questão de expressar intramuros que odeia pobre, no melhor estilo dos radicais conservadores estadunidenses, disfarçam-se em público com táticas de pregação da “sustentabilidade” e outras. Daí, muitas ideias e até expressões daqueles radicais estadunidenses, como esta questão de falar da iminência de uma desenfreada inflação que nunca chega, são transportadas para a mídia empresarial do Brasil sem retoques.

  9. Exatamente isto: “terroristas da inflação”… é o mínimo que se pode dizer de tais maus brasileiros da direita retrógrada e reacionária. Mas não irão adiante. O povo vai reconhecer o bom governo de Dilma.

    Dilma, coração valente, força brasileira, garra desta gente.
    Dilma, coração valente, nada nos segura pra seguir em frente
    O que tá bom, vai continuar
    O que não tá, a gente vai melhorar (2x)
    Coração valente!
    Com Dilma, a verdade vai vencer a mentira assim como a esperança já venceu o medo (em 2002 e 2006) e o amor já venceu o ódio (em 2010). ****:D:D . . . . ‘Tá chegando o Dia D: Dia De votar bem, para o Brasil continuar melhorando!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . Vote consciente e de forma unitária para o seu/nosso partido ter mais força política, com maioria segura. . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D

  10. A velha política prometia o céu e quando chegava ao poder o povo comia o pão que o diabo amassou em nome da austeridade e de um futuro que nunca chegava, enquanto eles ficavam dando carteiradas por aí. A nova política da Marina e os “bons” que a cercam chama o inferno de céu.

  11. CARAMBA!
    Até nisso os comentaristas da GLOEBELS copiam?
    Repetem feito papagaio o que os seus “deuses do north” falam aos quatro ventos?
    Agora eu sei de onde a dona “PURURUCA” se baseia pra emitir suas análises “abalizadas” que nunca acertam uma.
    Vão ser colonizados assim lá na casa do canário… eu disse CANÁRIO… :0)

  12. Se há uma categoria responsável pelo baixo crescimento deste país em 2014, na minha opinião é essa classe de analistas econômicos e por tabela a nossa velha e conhecida mídia. Seja pré-copa (onde aconteceria o apocalipse) ou após o discurso é o mesmo. Tudo para prejudicar o PT perante seu eleitorado. Parece que não está funcionando.

  13. A nova bíblia da economia, o livro de Thomas Piketty, provou que os que fazem é a maioria de trabalhadores e os que se aproveitam é a minoria dos muito ricos. Piketty provou que o “um por cento” dos mais ricos do mundo estão nessa situação não por méritos, inteligência, criatividade ou eficiência e sim porquê fraudam mais, sonegam mais e furtam mais.

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