Dr. Rodríguez,18 anos aqui, não pôde clinicar. Mas cuidou da saúde de Pedreira-SP

No dia 14 deste mês, o presidente do Sindicato dos Médicos de Campinas e Região, Dr. Casemiro dos Reis, visitou a cidade de Pedreiras, a apenas 135 km de São Paulo. Visitou e gostou:

“A estrutura da Rede de Saúde de Pedreira é uma das melhores que o Sindicato dos Médicos visitou na Região Metropolitana de Campinas “, disse Reis, e acrescentou: “em Pedreira a situação é infinitamente muito melhor do que na maioria das cidades da Região, tanto na eficiência do atendimento, como nos cuidados imediatos ao cidadão”.

Ainda assim, tão perto da maior metrópole da América do Sul e com boas condições de trabalho, só um médico brasileiro quis ocupar uma das quatro vagas abertas ali pelo programa “Mais Médicos”.

As restantes vão terminar com estrangeiros, talvez cubanos.

Cubanos como o Dr. Eduardo Francisco Meste Rodriguez, que veio de lá há 18 anos e, sem poder clinicar pela cegueira corporativo-burocrática foi….chefiar os médicos na implantação do Programa de Saúde da Família, com os resultados que você pode ler nessa publicação da Unicamp.

É de lá que vem a matéria publicada hoje no Estadão, que é, como a boa reportagem pode ser, mais esclarecedora que mil discursos e teses, porque a verdade é a realidade, quando não se a distorce pela ideologia.

** Post atualizado em 27/8: Pablo Amaral, responsável pela Comunicação da Prefeitura Municipal de Pedreira (SP), nos procurou para esclarecer que a Prefeitura ainda não recebeu nenhuma confirmação oficial do Ministério da Saúde sobre a vinda de médicos estrangeiros. Ele informa que nenhum médico inscrito no Programa Mais Médicos escolheu o município na primeira fase do programa. Segundo Amaral, a Secretaria Municipal de Saúde, ao  inscrever-se no Programa, solicitou a contratação de três médicos e que continua querendo  profissionais para ampliar o trabalho no Programa Saúde da Família.

Cidade receberá cubanos pela segunda vez

Pedreira, no interior de SP, tem 41 mil habitantes e trouxe médicos de Cuba em programa dos anos 1990

José Maria Mayrink, enviado especial / Pedreira – O Estado de S.Paulo

Pioneiro na importação de cubanos para a adoção do projeto Médico de Família, há 18 anos, o município paulista de Pedreira, de 41.500 habitantes, na região de Campinas, vai receber mais três médicos vindos de Cuba pelo Mais Médicos. O prefeito Carlos Pollo (PT) se inscreveu no programa depois que só um brasileiro se candidatou a uma das quatro vagas disponíveis no Programa Saúde da Família (PSF).

Rafael Arbex/AE
Bem adaptado. Eduardo Rodríguez se estabeleceu no interior paulista após contrato

O epidemiologista Eduardo Francisco Mestre Rodríguez, que veio de Havana em 1995 para coordenar a implementação do serviço com mais cinco compatriotas – quatro médicos e um dentista – acabou ficando em Pedreira, onde se casou. “Permaneci aqui por razões sentimentais, enquanto meus companheiros voltaram ao fim do contrato”, conta.

Dr. Eduardo, como é conhecido, é uma figura muito querida em Pedreira, onde é abraçado nas ruas, por seu trabalho direto com o povo, dando expediente nos postos da Saúde da Família. “Estou com 56 anos e meio gordo, porque como muito churrasco e feijoada, perfeitamente integrado na comunidade”, orgulha-se entre risadas, falando um portunhol perfeito.

“Minha família já me visitou no Brasil e eu voltei três vezes a Cuba, em férias, sem nenhum problema político”, disse, insistindo que cumpriu uma missão profissional em Pedreira. “Não vim para clinicar, porque a lei brasileira proibia, na época, o exercício da medicina sem revalidação do curso, mas para coordenar a criação de um modelo de atendimento básico, assumido por colegas brasileiros.”

Sem atendimento. Eduardo coordenou o PSF e em seguida foi diretor do Serviço de Saúde Mental em três administrações do ex-prefeito Hamilton Bernardes (na primeira pelo PMDB e nas outras duas pelo PSB), atualmente secretário de Finanças de Campinas. Economista, Bernardes entusiasmou-se com a figura do médico de família em Cuba e adaptou o modelo a Pedreira.

“A chave do programa é levar o médico à casa do doente para ele conhecer a situação em que vive a família, num enfoque clínico, epidemiológico e social, antes de receitar remédios”, explica Eduardo.

A equipe de Saúde da Família tem um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde. “Esses agentes foram um avanço do sistema brasileiro, não existem em Cuba, onde são os médicos que visitam as casas”, observa. Os agentes fazem o levantamento nos domicílios e preparam o diagnóstico para atendimento nos postos.

Na época da adoção do sistema, o índice de internações caiu 30% no hospital de Pedreira e o índice de mortalidade infantil também baixou. O município tem 60 médicos no serviço público, com salários em torno de R$ 10 mil, equivalente ao que o governo federal vai pagar aos estrangeiros. A prefeitura bancará moradia e alimentação.

“Não será muito dispendioso, porque podemos alugar um apartamento por cerca de R$ 400”, anima-se o prefeito Carlos Pollo.

Os cubanos que vieram nos anos 1990 recebiam remuneração de R$ 1.800 mensais. Dois terços do salário iam direto para o governo de Cuba. Com um contrato correspondente agora, os médicos ficarão com cerca de R$ 2,4 mil a R$ 4 mil. “É razoável e é muito mais do que um médico ganha em Havana”, afirma Eduardo, que construiu a vida em Pedreira como contratado da prefeitura.

Tem um apartamento de 90 m2, com três dormitórios e dois banheiros, e um carro Peugeot, de 2009. Depois de deixar a Secretaria da Saúde, no ano passado, passou a fazer consultoria para prefeituras e a trabalhar no Instituto de Pesquisas Especiais para a Sociedade, em convênio com a Universidade Estadual de Campinas.

“Os médicos não devem pensar só em seus interesses, mas na saúde da população”, argumenta Eduardo, repetindo um discurso que, segundo ele, move seus compatriotas que foram atuar em Angola, Etiópia e Venezuela. “Os médicos cubanos estão preparados para trabalhar com a população do Brasil, assim como os brasileiros são bem qualificados”, diz.

Como os três cubanos fornecidos agora pelo Mais Médicos vão clinicar, o prefeito Carlos Pollo diz esperar que o governo federal resolva os problemas legais. Nesta semana, ele começa a procurar apartamentos, de preferência perto dos postos de saúde, para os médicos.

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10 respostas

  1. Pô, tava aqui pensando…será que não dá pra importar de lá alguns magistrados para comporem o STF?
    Sim, porque os daqui…

  2. Li no site 247 a respeito de uma reportagem da revista (in)Veja, de 20 de outubro de 1999, enaltecendo, de certa forma, a vinda de médicos cubanos para Tocantins. Ela enalteceu só porque foi o governo FHC que os trouxe para cá. Agora como é o governo PT, através de Dilma e Padilha, que promove a vinda desses profissionais, a Veja esculacha e fala mal. É muita hipocrisia dessa revista de quinta categoria. Abaixo a Veja, a Eliane Catanhede, Reinaldo Azevedo! Sejam novamente bem vindos médicos cubanos!

  3. Pegou pesado. Eu acho que extrapolou e muito a causa médica. Com certeza temos médicos interessados em melhorar nosso sistema e eu tive o prazer de conhecer vários deles.

  4. Pegou pesado. Eu acho que extrapolou e muito a causa médica. Com certeza temos médicos interessados em melhorar nosso sistema e eu tive o prazer de conhecer vários deles.

  5. Pegou pesado. Eu acho que extrapolou e muito a causa médica. Com certeza temos médicos interessados em melhorar nosso sistema e eu tive o prazer de conhecer vários deles.

  6. tá chegando ao fim este governo, no mínimo ridículo, de Naná.ainda não eve no Brasil presidente igual ao Lula nem melhor governo que o de Lula, desde 1500. Tá na cara que nós vamos ganhar em Minas

  7. Há uma conotação ruim em ‘Homens de bem’. Assim se intitulavam os ‘moralizadores’ de São Paulo na faxina promovida em pleno regime militar (68/69) nos edifícios de São Paulo, especialmente na Liberdade e no Glicério. Liderados por um padre, o tal grupo era composto pela direita radical. Invadiam os apartamentos em nome da moral e dos bons costumes, ‘promovendo’ o sumiço de ‘prostitutas, revolucionários e quem mais fosse inconveniente’… (Mais ou menos o que acontece no Copan ainda hoje…camuflado às custas de muita propaganda).

    Não entendi porque meu comentário foi excluído, não publiquei nada anônimo, apenas relato o fato a vocês, sustento e provo o que afirmo. Tortura, ameaça de morte e espancamento lhes parece normal?

    A questão aqui está na escolha infeliz da expressão ‘homens de bem’ mancha sombria na história recente do país, e me parece que pouco conhecida, ou ainda um tabu.

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