Sérgio Moro está liquidado e se permanecer no cargo de Ministro da Justiça será como um zumbi que aguarda o sepultamento.
Depois das revelações das mensagens publicadas esta manhã pela Veja, a partir das trocas de mensagens entre eles e DeltanDallagnol, o atual ministro virou um cadáver jurídico, mesmo que as hordas bolsonaristas queira continuar carrregando-o num andor.
As provas são numerosas demais, graves demais, escandalosas demais para que qualquer juiz as possa, olimpicamente, ignorar. Nem mesmo Luiz Edson Fachin (dele, “aha,uhu”, dizia Dallagnol, “é nosso”).
Igualmente não adianta apelar mais para o “hacker” e para alegações de que as mensagens teriam sido adulteradas: o comportamento de pop star de Moro o levou a um encontro com o jurista, digo, apresentador Fausto Silva, da Globo, que o orientou em matéria de entrevistas e que – apesar da conversa ser classificada como “curiosidade” na reportagem – tem a importância aguda de, confirmada pelo showman da Globo, atestar a afirmação de que as conversas são reais.
Vou reproduzir a matéria na íntegra, por interesse público que ela tem, à medida em que se trata de uma série de acontecimentos que moldaram a história recente do Brasil.
A seguir, volto com mais repercussão e interpretação do terremoto político que está começando.
Novos diálogos revelam que Moro
orientava ilegalmente ações da Lava Jato
GlennGreenwald, Edoardo Ghirotto, Fernando Molica, Leandro Resende e Roberta Paduan
No material que o Intercept diz ter recebido de uma fonte anônima, há quase 1 milhão de mensagens, totalizando um arquivo com mais de 30 000 páginas. Só uma pequena parte havia sido divulgada até agora — e ela foi suficiente para causar uma enorme polêmica. Em parceria com o site, VEJA realizou o mais completo mergulho já feito nesse conteúdo. Foram analisadas pela reportagem 649 551 mensagens. Palavra por palavra, as comunicações examinadas pela equipe são verdadeiras e a apuração mostra que o caso é ainda mais grave. Moro cometeu, sim, irregularidades. Fora dos autos (e dentro do Telegram), o atual ministro pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem. Além disso, revelam os diálogos, comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com a neutralidade exigida de um magistrado. Na privacidade dos chats, Moro revisou peças dos procuradores e até dava bronca neles. “O juiz deve aplicar a lei porque na terra quem manda é a lei. A justiça só existe no céu”, diz Eros Grau, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, falando em tese sobre o papel de um magistrado. “Quando o juiz perde a imparcialidade, deixa de ser juiz.”
Não seria um escândalo se um magistrado atuasse nas sombras alertando um advogado de que uma prova importante para a defesa de seu cliente havia ficado de fora dos autos? Pois isso aconteceu na Lava-Jato, só que em favor da acusação. Uma conversa de 28 de abril de 2016 mostra que Moro orientou os procuradores a tornar mais robusta uma peça. No diálogo, Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa em Curitiba, avisa à procuradora Laura Tessler que Moro o havia alertado sobre a falta de uma informação na denúncia de um réu — Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, estaleiro que tinha contratos com a Petrobras para a construção de plataformas de petróleo, e um dos principais operadores de propina no esquema de corrupção da Petrobras. Skornicki tornou-se delator na Lava-Jato e confessou que pagou propinas a vários funcionários da estatal, entre eles Eduardo Musa, mencionado por Dallagnol na conversa. “Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da tempo. Só é bom avisar ele”, diz. (VEJA manteve os diálogos originais com eventuais erros de digitação e ortografia.) “Ih, vou ver”, responde a procuradora. No dia seguinte, o MPF incluiu um comprovante de depósito de 80 000 dólares feito por Skornicki a Musa. Moro aceita a denúncia minutos depois do aditamento e, na sua decisão, menciona o documento que havia pedido. Ou seja: ele claramente ajudou um dos lados do processo a fortalecer sua posição.
Em sua defesa após o estouro do escândalo das mensagens, o ministro vem repetindo que atendia tanto os encarregados da acusação quanto os da defesa no dia a dia e tinha conversas com eles, nenhuma delas imprópria, na sua visão. De fato, está na rotina de um juiz receber as partes envolvidas no processo, mas de maneira oficial, sempre com registro, e não por meio de um sistema privado de comunicação. A posição do ex-juiz fica ainda mais difícil de defender diante dos dados analisados pela parceria VEJA/The Intercept. Não eram conversas protocolares entre juiz e Ministério Público. Do conjunto, o que se depreende, além de uma intimidade excessiva entre a magistratura e a acusação, é uma evidente parceria na defesa de uma causa. Os exemplos mais robustos vêm das conversas entre Moro e Dallagnol. Em 2 de fevereiro de 2016, por exemplo, o juiz escreve a ele: “A odebrecht peticionou com aquela questao. Vou abrir prazo de tres dias para vcs se manifestarem”. Dallagnol agradece o aviso. Moro se refere ao questionamento da Odebrecht à Justiça da Suíça a respeito do compartilhamento de dados, incluindo extratos bancários, da empresa naquele país. Grosso modo, a empreiteira tentou impedir que o Ministério Público suíço enviasse dados à força-tarefa. Preocupado com a história, Moro pede notícias a Dallagnol no dia 3. “Quando sera a manifestação do mpf?”, pergunta. “Estou redigindo, mas quero fazer bem feita, para já subsidiar os HCs que virão. Imagino que amanhã, no fim da tarde”, responde o procurador. No dia seguinte, Dallagnol informa a Moro que a peça estava quase pronta, mas dependia ainda da revisão de colegas. “Protocolamos amanha, salvo se for importante que seja hoje. Posso mandar, se preferir, versão atual por aqui, para facilitar preparo de decisão”, escreve. Moro tranquiliza Dallagnol: “Pode ser amanha”. No dia 5, prazo final, por volta das 15 horas, Dallagnol manda pelo Telegram ao juiz a peça “quase pronta”. A situação é completamente irregular. Em vez de se comunicarem de forma transparente pelos autos, juiz e procurador usam o Telegram. Como se não bastasse, o chefe da força-tarefa ainda envia a Moro uma versão inacabada do trabalho para que o juiz possa adiantar a sentença.
Dentro da relação estabelecida pela dupla, chama atenção também o momento em que Dallagnol dá dicas ao “chefe” sobre argumentos para garantir uma prisão. Isso aconteceu em 17 de dezembro de 2015, quando Moro informa que precisa de manifestação do MPF no pedido de revogação da prisão preventiva de José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo de Lula. “Ate amanhã meio dia”, escreve. Dallagnol garante que a ação será feita e acrescenta: “Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém…”. À luz do direito, é tão constrangedor quanto se Cristiano Zanin Martins fosse flagrado passando a Moro argumentos para embasar um habeas-corpus a favor de Lula.
Mesmo entre parceiros com bastante afinidade há momentos de tensão (e que precisam ser resolvidos com uma conversa ao vivo). Em um deles, ocorrido em um chat de 17 de novembro de 2015, Moro dá um puxão de orelha em Dallagnol. O juiz reclama de que está difícil entender os motivos pelos quais o MPF recorreu da sentença aplicada aos delatores Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, Pedro José Barusco Filho, Mário Frederico Mendonça Góes e Júlio Gerin de Almeida Camargo. Dallagnol tenta se justificar, sem sucesso. “O mp está recorrendo da fundamentação, sem qualquer efeeito pratico”, critica o juiz. “Na minha opinião estao provocando confusão.” Para Moro, o efeito prático do recurso apresentado pelo MPF será “jogar para as calendas a existência execução das penas dos colaboradores”, ou seja, postergará o início do cumprimento da pena aplicada aos delatores citados. Mais uma vez, tudo fora dos autos. Dallagnol, resignado, pede um encontro com Moro para a manhã do dia seguinte: “25m seriam suficiente (sic)”.
Peças fundamentais na Lava-Jato, as delações exigem também que o juiz se comporte de forma imparcial e somente após as negociações, conduzidas pelo MPF, pois ao fim do processo caberá a ele decidir se aceita ou não a oferta. Nesse capítulo, Moro cruzou igualmente a linha, a exemplo do caso do ex-deputado Eduardo Cunha. Na noite de 12 de junho de 2017, Ronaldo Queiroz, procurador da força-tarefa da Lava-Jato na PGR, cria um grupo no Telegram com Dallagnol para avisar que foi procurado pelo advogado de Cunha para iniciar uma negociação de delação premiada. Queiroz afirma que as revelações poderiam ser de interesse dos procuradores de Curitiba, Rio de Janeiro e Natal, onde corriam ações relacionadas ao político. Após membros do Rio de Janeiro serem incluídos no grupo, Queiroz posta uma mensagem que dá uma ideia de sua visão de mundo sobre a quantidade de honestos na Justiça e na política (uma visão de mundo compartilhada por muitos de seus colegas da Lava-Jato). Queiroz afirma esperar que Cunha entregue no Rio de Janeiro, pelo menos, um terço do Ministério Público estadual, 95% dos juízes do Tribunal da Justiça, 99% do Tribunal de Contas e 100% da Assembleia Legislativa.
No dia 5 de julho, durante o período da tarde, os procuradores concordam em marcar uma reunião com o advogado Délio Lins e Silva Júnior para a terça-feira seguinte (11 de julho). Naquele mesmo dia, às 23h11, em uma conversa privada, Moro questiona Dallagnol sobre rumores de uma delação de Cunha. “Espero que não procedam”, diz. Dallagnol afirma que tudo não passa de rumores. Ele confirma ao juiz que está programado apenas um encontro com o advogado para que os procuradores tomem conhecimento dos anexos. “Acontecerá na próxima terça. estaremos presentes e acompanharemos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par”, afirma. Moro, então, reitera seu posicionamento. “Agradeço se me manter (sic) informado. Sou contra, como sabe.” Detalhe: isso sem saber o conteúdo.
Como a proposta de delação atingia políticos com foro privilegiado, a palavra final para assinar um acordo de delação com Cunha passou para a PGR. A homologação competia ao ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF. O ex-deputado corria na época para fechar um acordo antes de o doleiro Lúcio Bolonha Funaro assinar os termos de sua delação. Os procuradores envolvidos nas negociações diziam que a dupla falava sobre os mesmos temas, o que tornaria desnecessária a aprovação das duas colaborações. No dia 28 de julho, já com os anexos de Cunha em mãos, Ronaldo Queiroz diz que a ideia é analisá-los em conjunto com os colegas para tomar uma decisão sobre aceitar ou rejeitar a delação. Em 30 de julho, Queiroz diz que o material é fraco. No dia seguinte, uma mensagem do procurador Orlando SP, provavelmente Orlando Martello Júnior, traz o posicionamento de Curitiba — o mesmo de Moro: “Achamos que o acordo deve ser negado de imediato”.
O papel de líder da Lava-Jato em Curitiba é exercido em diversas oportunidades pelo ex-juiz. Em mais de uma ocasião, Moro aparece nos chats do Telegram interferindo na agenda dos procuradores da força-tarefa, outra atitude que gera a suspeição de qualquer magistrado. Em 7 de julho de 2015, por exemplo, um membro da força-tarefa, que a reportagem de VEJA identificou ser o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, escreve o seguinte: “Igor. O Russo (Moro) sugeriu a operação do professor para a semana do dia 20”. Igor (o delegado da Polícia Federal Igor Romário) responde: “Opa… beleza… Vou começar a me organizar”. De acordo com a apuração da revista, o “professor” era o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, da Eletronuclear. Ele acabou sendo preso no dia 28. Em outro episódio, Moro não apenas sugere uma data para a operação como também já fala em receber a denúncia. O caso em questão aparece em um diálogo ocorrido em 13 de outubro de 2015. Nele, o procurador Paulo Galvão, o PG, alerta Roberson Pozzobon, seu colega da força-tarefa, sobre uma orientação do juiz. “Estava lembrando aqui que uma operação tem que sair no máximo até por volta de 13/11, em razão do recesso e do pedido do russo (Moro) para que a denúncia não saia na última semana”, escreve PG. “Após isso, vai ficar muito apertado para denunciar.” Pozzobon concorda com PG e acrescenta: “uma grande operação por volta desta data seria o ideal. Ainda é próximo da proclamação da república. rsrs”.
A partir de um levantamento das operações ocorridas em novembro e das denúncias oferecidas em dezembro de 2015, chega-se à conclusão de que o diálogo trata da Operação Passe Livre, que prendeu José Carlos Bumlai. Ele atuou como laranja do PT, intermediando um empréstimo de 12 milhões de reais do Banco Schahin ao partido em 2004. O pedido de Moro comentado na conversa entre PG e Pozzobon acabou cumprido à risca. Bumlai foi preso em 24 de novembro e denunciado em 14 de dezembro — na última semana antes do recesso da Justiça Federal do Paraná. No dia seguinte, Moro recebeu a denúncia, a tempo de impedir que os crimes prescrevessem no fim de 2015.
Dentro de uma visão simplista, a estratégia parece um golpe de mestre do juiz para não deixar um bandido escapar da Justiça. Mas o argumento de que os fins justificam os meios não pode prosperar numa sociedade desenvolvida. Tal postura de Moro viola o devido processo legal, pondo em risco o estado de direito. “Nesse caso, a sociedade pode aplaudir o juiz, por acreditar que ele está tentando ser justo. Mas ele está infringindo as leis do processo, que o impedem de imiscuir-se em uma das partes e colaborar com ela, e é uma das garantias para que todos sejam julgados da mesma forma”, afirma um juiz, que pediu para não ser identificado. “Imagine que todos os magistrados atuem da mesma forma, infringindo uma regra aqui e outra ali para alcançar seus objetivos. Um pode se aliar à defesa para soltar um criminoso; outro pode se aliar à acusação para perseguir um inimigo e, aí, o céu é o limite”, conclui.
Uma das obsessões de Moro envolvia manter os casos da Lava-Jato em seu poder em Curitiba, a exemplo dos processos de Lula do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Nesse esforço, o magistrado mentiu a um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ou, na hipótese mais benigna, ocultou dele uma prova importante, conforme mostra um dos diálogos. A conversa em questão se refere ao caso de Flávio David Barra, preso em 28 de julho de 2015, quando presidia a AG Energia, do grupo Andrade Gutierrez. Sua detenção ocorreu na Operação Radioatividade, relacionada a pagamentos de propina feitos por empreiteiras, entre elas a Andrade Gutierrez, a Othon Luiz Pinheiro da Silva, da Eletronuclear, responsável pela construção da usina nuclear Angra 3. Em 25 de agosto, a defesa de Barra pede ao ministro do STF Teori Zavascki a suspensão do processo tocado pela 13ª Vara de Curitiba, alegando que Moro não tinha competência para julgar o caso por haver indício de envolvimento de parlamentares, entre eles o então senador Edison Lobão (MDB-MA).
Diante da reclamação, Zavascki cobra explicações de Moro, que diz não saber nada sobre o envolvimento de parlamentares. Mesmo assim, com base nas informações da defesa, o ministro do STF suspende em 2 de outubro as investigações, o que força o então juiz a remeter o caso de Curitiba para Brasília três dias depois. Seu comportamento perante Zavascki foi impróprio, como evidencia um diálogo registrado no Telegram dezoito dias depois entre o procurador Athayde Ribeiro Costa e a delegada Erika Marena, da Polícia Federal. Costa diz precisar com urgência de uma “planilha/agenda” apreendida com Barra que descreve pagamentos a diversos políticos. Marena responde que, por orientação de “russo” (Moro), não tinha tido pressa em “eprocar” a planilha (tradução: protocolar o documento no sistema eletrônico da Justiça). “Acabei esquecendo de eprocar”, disse. “Vou fazer isso logo”, completa.
Na pior das hipóteses, Moro já sabia da existência da planilha quando foi inquirido por Zavascki e mentiu ao ministro. Em um segundo possível cenário, igualmente comprometedor, Moro teria tomado conhecimento da planilha depois da inquirição de Zavascki e pediu à delegada para “não ter pressa” em protocolar o documento. Tudo indica que a manobra tinha como objetivo manter o caso em Curitiba. “Um juiz não pode ocultar provas, e, se o diálogo tiver a autenticidade comprovada, estamos diante de uma conduta bastante problemática”, afirma o advogado Gustavo Badaró, professor de processo penal da USP, que analisou a pedido de VEJA o episódio. Na primeira leva de mensagens divulgadas pelo Intercept no mês passado, Moro já aparecia reclamando de um delegado da PF que havia incluído rápido demais todos os elementos da investigação no sistema eletrônico, o que obrigaria o juiz a enviar parte do processo ao STF.
A relação entre Moro e Dallagnol era tão próxima que abre espaço para que eles comemorem nas conversas o sucesso de algumas etapas da Lava-Jato, como se fossem companheiros de trabalho festejando metas alcançadas. Em 14 de dezembro de 2016, Dallagnol escreve ao parceiro para contar que a denúncia de Lula seria protocolada em breve, enquanto a de Sérgio Cabral já seria registrada no dia seguinte (o que de fato ocorreu). Moro responde com um emoticon de felicidade, ao lado da frase: “ um bom dia afinal”. A proximidade rendeu ainda lances curiosos. Em 9 de julho de 2015, Dallagnol saúda o colega: “bem vindo ao telegram!!”. Cinco meses depois, dá dicas ao juiz de como usar o programa no desktop, enviando no chat um link para o download. “Se puder me mandar no e-mail, agradeço. O tico e o teco da informática aqui não são muito espertos”, responde Moro. Em março de 2017, Dallagnol escreve ao juiz para tirar uma dúvida: ele assina o primeiro nome com ou sem acento? O motivo é que o procurador estava revisando um livro sobre Moro. “Não uso normalmente o acento”, responde o juiz. Em julho de 2018, Dallagnol atua como assessor de imprensa, perguntando a Eduardo El Hage, um colega do Ministério Público Federal no Rio, detalhes de um pedido de participação de Moro em um programa do canal fechado HBO: “Eles contataram o Moro aqui e ele queria ter o contexto e informações que possam ser úteis pra ele decidir se atende”. Em um dos períodos mais tensos da operação, o que se seguiu à ação do juiz que torna público o famoso trecho do grampo telefônico em que Dilma Rousseff envia o “Bessias” para entregar a Lula o termo de posse em seu ministério, Dallagnol combina em um dos chats com procuradores uma nota de apoio a Moro e repassa ao grupo uma sugestão do próprio juiz para o texto. Na mesma época, Moro também recebe um afago e conselho de um interlocutor no Telegram (tudo indica, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima). “O movimento seria nas sombras, como você mesmo disse”, escreve, referindo-se ao convite de Dilma para Lula. “O seu capital junto à população vai proteger durante um tempo. As coisas se transformam muito rápido.”
As conversas entre membros do Ministério Público Federal assumem várias vezes o tom de arquibancada, com os membros da força-tarefa vibrando e torcendo a cada lance da batalha contra os inimigos. Em 13 de julho de 2015, Dallagnol sai exultante de um encontro com o ministro Edson Fachin e comenta com os colegas de MPF: “Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”. A preocupação da força-tarefa com a comunicação para a opinião pública era constante. Em 7 de maio de 2016, Moro comenta com Dallagnol que havia sido procurado pelo apresentador Fausto Silva. Segundo o relato do juiz, o apresentador o cumprimentou pelo trabalho na Lava-Jato, mas deu um conselho: “Ele disse que vcs nas entrevistas ou nas coletivas precisam usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão. Disse que transmitiria o recado. Conselho de quem está a (sic) 28/anos na TV. Pensem nisso”. Procurado por VEJA, Fausto Silva confirmou o encontro e o teor da conversa entre ele e Moro.
Curiosidades dos bastidores à parte, o que vai definir mesmo o destino de Moro à luz das revelações dos chats são os trechos nos quais fica evidente seu papel duplo de juiz e assistente de acusação. A Lava-Jato foi assumidamente inspirada na Mani Pulite, a Mãos Limpas da Itália, que desbaratou um gigantesco esquema de corrupção na década de 90, resultando em 2 993 mandados de prisão nos dois primeiros anos de operação. No caso do sistema de Justiça do país europeu há a figura do magistrado que trabalha no Ministério Público — mas ele não atua nos julgamentos. A melhor explicação para o comportamento irregular do atual ministro é que ele tenha se inspirado nessa figura para pautar suas ações na Lava-Jato. “O Moro confundiu totalmente os papéis”, afirma o jurista Wálter Fanganiello Maierovitch. “O magistrado que investiga nunca é o que julga, nem na Itália nem em nenhuma outra democracia do planeta.”
No Brasil, o papel duplo do juiz viola o artigo 254 do Código de Processo Penal, que proíbe que o magistrado aconselhe uma das partes ou tenha interesse em favor da acusação ou da defesa. Essa atuação pode, de fato, provocar a revisão de atos de Moro. No caso da condenação de Lula, por exemplo, o STF adiou a discussão para agosto. Será uma decisão complexa e delicada para a Suprema Corte. Ali, mesmo que alguns ministros já tenham criticado excessos da Lava-Jato, é difícil qualquer prognóstico. Um dado, porém, é certo. Fiscalizar o que Moro fez enquanto juiz não significa pôr em risco os avanços contra a corrupção no Brasil, como sugerem as manifestações recentes nas ruas das cidades do país. A sociedade brasileira não vai abrir mão do processo que resultou, pela primeira vez na história, na prisão de políticos e empresários poderosos.
Na terça 2, Moro (que, por sinal, não faz mais parte da Lava-Jato) ficou sete horas no Congresso respondendo a parlamentares sobre o caso. Repetiu o que tem dito nas últimas semanas: os diálogos divulgados foram fruto de um roubo, podem ter sido editados e, mesmo verdadeiros, não apontam nenhum tipo de desvio. A cada nova revelação, fica mais difícil sustentar esse discurso. Na sentença em que condenou Lula, o ex-juiz anotou que “não importa quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você”. A frase cabe agora perfeitamente em sua situação atual. Levado ao Ministério da Justiça para funcionar como uma espécie de esteio moral da gestão Bolsonaro, ele ainda goza de grande popularidade, mas hoje depende do apoio do presidente para se manter no cargo. Independentemente do seu destino, o caso dos diálogos vazados representa uma oportunidade para que o país discuta os excessos da Justiça e o fortalecimento dos direitos do cidadão. Um país onde as instituições funcionam não precisa de nenhum Super-Homem.
Nota da redação: procurados por VEJA, Deltan Dallagnol e Sergio Moro não quiseram receber a reportagem. Ambos gostariam que os arquivos fossem enviados a eles de forma virtual, mas, alegando compromissos de agenda, recusaram-se a recebê-los pessoalmente, uma condição estabelecida por VEJA. Mesmo sem saber o conteúdo das mensagens, a assessoria do Ministério da Justiça enviou a seguinte nota: “A revista Veja se recusou a enviar previamente as informações publicadas na reportagem, não sendo possível manifestação a respeito do assunto tratado. Mesmo assim, cabe ressaltar que o ministro da Justiça e Segurança Pública não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido adulteradas total ou parcialmente e que configuram violação da privacidade de agentes da lei com o objetivo de anular condenações criminais e impedir novas investigações. Reitera-se que o ministro sempre pautou sua atuação pela legalidade”.
Colaboraram Leandro Demori, Victor Pougy, Nonato Viegas e Bruna de Lara
30 respostas
Continuo com a minha ladainha : Moro é VENAL,SALAFRÁRIO,HIPÓCRITA,DESCARADO,DESQUALIFICADO,ESCROQUE e um grandessíssimo PULHA !
A cada revelação do The Intercept Brasil, me vejo na obrigação de acrescentar mais adjetivos.
Só não vá fazer como um sujeito que respondeu um comentário meu com uma única palavra: “Viado”. Bela argumentação, não concorda? É isso mesmo, se esgotar o vocabulário em português, parta para outra língua.
Acorda, Moro… a Veja tem pelo menos 650.000 mensagens em mãos… que tipo de ser humano consegue falsificar mais de MEIO MILHÃO de mensagens? Xeque mate, parça.
Como dirá p Moro , tudo isso é normal e comum no judiciário brasileiro , Não é ministro Fachin ?,
E impressionantes que os Tribunais Superiores ainda não tenham tomado nenhuma providência..
A imagem do Brasil, no exterior tá mais baixa que amortecedor de sapo….
A indignação a cada minuto que o presidente Lula fica preso só aumenta.
Impossível até comentar essa nojeira em que se transformaram as instituições brasileiras, onde a perseguição e desrespeito a nossas garantias individuais viraram regra.
Lula Livre JÁ
Pessoalmente, e espero estar errado, creio que o Judiciário, STF incluído, vai sempre dar um jeito de empurrar com a barriga e impedir a libertação de Lula.
Ou isso ou o golpe acaba.
E, aquo, no fechar de contras, não vejo diferença significativa entre os interesses da grande mídia, Veja incluída, e os dos representados prlo juiz-ladrão.
No máximo, detalhes, e, como cantou Roberto Carlos, “detalhes são detalhes, nada mais”.
““O juiz deve aplicar a lei porque na terra quem manda é a lei. A justiça só existe no céu”, diz Eros Grau, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, falando em tese sobre o papel de um magistrado. “Quando o juiz perde a imparcialidade, deixa de ser juiz.””
Ainda que possam argumentar que os diálogos são falsos ou adulterados, é possível verificar, por exemplo, a data em que o documento x foi apreendido e quando foi inserido no sistema, já que o “chefe da lavajato” avisou para não ter pressa, ou seja, não ajudar a defesa. Aquele PowerPoint do Dallagnol bem caberia com Sérgio Moro no centro e delegados e procuradores na periferia praticando atos de corrupção à lei e à dignidade da Justiça.
Grande dia!!!!!!
Fernando eu como você participei de gestão pública pela primeira e única vez, esse departamento de propina só muda de nome, em algumas nome é “relações institucionais” todas com o mesmo sentido.Se tiver provas contra Lula que ele fique na cadeia,mas a justiça federal não tribunal de ética política, com um detalhe na minha gestão a ética constava pois era ideológica ,c denúncias das fraudes,mas Lula tem direito ao julgamento justo, como Moro também
Seria ótimo que todos fossem demitidos a bem do serviço (e justiça) público!
Aguardo ansiosamente o dia que mostrarão mensagens sobre o TRF4 e isso será o mais importante.
” Procurado por VEJA, Fausto Silva confirmou o encontro e o teor da conversa entre ele e Moro.” Será que li direito ou , discretamente, a famíglia está aderindo à fritura do Moro? Após toda a entrega que já ocorreu, das riquezas do país, todo o roubo à luz do dia já perpetrado, ainda restam escombros para pilhar, que precisem da figura deste ser desprezível? Logo criam outro super homem para substituí-lo. LULALIVRE somente nas ruas, com imensa massa de gente protestando.
Ainda resta a Sérgio Moro uma esperança: ser juiz de futebol de várzea.
O que não deixaria de ser um senhor insulto à garotada da periferia!
E aqui jaz o estado de direito o sistema judiciário brasileiro foi totalmente corrompido pela República de Curitiba acabou
A mim, que chamo a Fraude a Jato, desde que foi deflagrada, em março de 2015, pelo que É e SEMPRE FOI – uma ORCRIM INSTITUCIONAL a serviço do alto comando internacional do golpe, que são o Deep State estadunidense, a finança transnacional e as oligarquias – a revelação desses crimes dos lavajateiros não surpreende nem causa qualquer euforia ou frenesi, ao contrário.
Está mais do que clara a pseudo-luta do consócio PIG/Intercept, capitaneados pelo falcão anti-socialista Glenn Greenwald, este financiado pelo bilionário franco-estadunidense Pierre Omidyar, sobretudo quando vem a lume essa “parceria” com a revista de esgôto, que PHA chama carinhosamente de “detrito sólido de maré baixa”. Infelizmente grande parte dos que se dizem “esquerdistas” e “progressistas” (e para minha profunda tristeza até mesmo o bravo Fernando Brito, editor deste Tijolaço) estão reproduzindo esse material, que ao contrário das manchetes, levantam suspeitas contra o Ex-Presidente Lula e já dão como certa a condenação do Ex-Presidente Operário no TRF-4, no caso do sítio de Atibaia.
Notem os leitores que o penúltimo parágrafo é um desagravo à ORCRIM Fraude a Jato e um “clamor” para que as condenações e prisões – usando de métodos ilegais e criminosos descritos ao longo do texto – não sejam revogadas, sobretudo a perseguição, condenação e prisão política do Presidente Lula. Enfim: trata-se de mais uma maçã envenenada, de mais um cavalo de Tróia, uma pegadinha, bovinamente aceitos pelos que se dizem “progressistas”, esquerdistas e democratas. Ou seja: o Duplo Expresso tem acertado quase 100% das análises e previsões, mesmo que alguns mínions da chamada “esquerda cirandeira”, pela falta de argumentos lógicos válidos, tentem apelar para argumentos ad hominem contra mim e contra outros que fazem críticas e reproduzem aqui na caixa de comentários verdades inconvenientes que eles não gostariam de ver publicadas ou não têm coragem de divulgar aos demais leitores.
João: respeito sua opinião, concordo em grande parte, e devo confessar que para mim é doloroso também ter que receber informações dessa magnitude filtradas pelo “detrito sólido de maré baixa”, como diz PHA. Entretanto a guerra (é disso que se trata) compõe-se de diversas batalhas que são travadas por atores que não têm o mesmo objetivo, e o mesmo nível de informações, como se fosse um simples time de futebol. Isso posto, digo que cabe a cada um de nós, com as armas que dispõe, se posicionar no campo, com boa-fé, acreditando na possibilidade de uma sociedade democrática bem como do estado de direito, mas sem ingenuidade, criticamente, se juntar aos que acreditam nessa possibilidade de sair das trevas em nos metemos. Vejo nesse espaço, nosso companheiro Fernando Brito, que encaro como um irmão mais velho, apesar de sermos da mesma geração, fazer sua batalha diária, que julgo extremamente importante, fazer ponderações sábias, de quem sabe o que faz e em qual direção seguir num momento tão critico para nossa geração pós-68, quando somos atordoados a todo momento com revelações que guardam distância astronômica de nossos piores pressentimentos. Penso que estamos entrando numa trilha, que, não demora, muitos desacreditarão que seja possível uma saída desse impasse por vias pacíficas. O problema é que lidamos com interesses que possuem um poder de fogo e de outros meios dissuassivos extremamente poderosos. Cabe a nós, as pessoas que ainda acreditam que é possível vencer a barbárie, encontrar a melhor trilha que nos conduza à civilização. Esse aqui é um espaço aberto a todos que nela acreditam. Um abraço.
Até os erros de conjugação nas mensages são tipicas do Moro. Não cola mais negar a autenticidade das mensagens.
Grande Green – age como um mineirinho esperto: sopa quente se come pelas beiradas.
Eu li a matéria. A veja sustenta a prisão de Lula nesmo com as provas que ela reproduziu em sua “revista”. São canalhas de nascimento. Vão continuar perseguindo Lula.
Sim, quase ninguém lê tudo. Veja sendo o lixo que sempre é. Ela está tentando se apropriar da narrativa, de maneira que fique ao seu próprio gosto. E parece que está conseguindo. Inicia dando-nos porradas estonteantes e vai-nos anestesiando ao final com uma dose cavalar de seu costumeiro veneno feito de dissimulações, em favor de colocar todo mundo na mesma latrina da corrupção e da inutilidade. Porcos são sempre porcos e, como eu sempre digo: aquele que tanta dar lustre a um pedaço de cocô, descobrirá, ao final, que além de não conseguir alcançar seu tento, sairá todo cagado… Glenn, todo cuidado é pouco com essa gente! LulaLivreSempre!
Alguém no país, com no mínimo dois neurônios, não sabia que “o Fachin é nosso”; Já é “nosso” ele e o Fux. Faltam Barroso, Carminha e os 3 Patetas de P. Alegre
Esses irão seguir os mesmos passos de Temer: não largarão do osso até o último suspiro. Quisera que fosse no mais breve tempo, para que se possa atenuar os danos e abusos jurídicos.
Não é hacker russo, e a máfia do russo!
UM CRAPULA SENDO DESMASCARADO NAO TEM PRECO, ESSE BANDIDO TRAIU A CONFIANCA DO POVO, TRAIU A PATRIA NUMA ELEICAO FRAUDULENTA, RASGOU A CONSTITUICAO, E PERVERSO E SOCIOPATA COM UM PERFIL DE TORTURADOR.
Estão falando que o chefe da “coisa” era o Sérgio Moro. Não era. O chefão era quem alertou ao Moro de que faltava um detalhe no documento de acusação do Ministério Público. Daí, Moro reportou esta falta ao Dalagnol, e ele por sua vez chamou a atenção de uma procuradora para que buscasse o tal detalhe e o incluísse na acusação. Os dados vinham de cima para baixo.
o ministério não devia emitir nota alguma. estão usando a estrutura do estado, para defesa pessoal!
Com essas revelações o Presidente Lula deveria de ser solto imediatamente. Mas infelizmente só vou acreditar em sua liberdade quando o ver saindo da cadeia. É revoltante a situação em que nosso país se encontra. Lula preso e reforma da previdência sendo aprovada.