Uma velha raposa do Congresso, o deputado Tales Ramalho, nos anos 70, criou a expressão “flores do recesso” para falar das “ideias geniais” que surgiam no afastamento dos deputados e senadores do plenário. E expressão acabou se tornando sinônimo das ideias boas, mas inexequíveis.
É evidentemente salutar que magistrados sejam blindados de que seus próprios apetites eleitorais façam suas decisões buscarem a notoriedade e o aplauso fácil das condenações feitas pelo clamor, antes da turba e, agora, da mídia.
Como é evidente que a decisão mira Sérgio Moro, mais pronto e acabado exemplo disso.
Justamente por esta evidência, não creio que tenha chance de prosperar – um pouco mais na Câmara e bem menos no Senado – algo que, embora correto, fica marcado pelo casuísmo.
Quem pretende cortar a exploração de prestígio vergonhosa do juiz paranaense não pode, tal como ele próprio fez.
Primeiro, porque dificilmente lhe seria aplicável, tendo deixado, há mais de ano e meio, a magistratura, dificilmente seria atingido por ela e ainda faria palanque de uma eventual disputa eleitoral pelo direito de candidatar-se.
Em segundo lugar, porque é preciso ter a coerência e a coragem de enfrentar Moro no campo moral, ético e legal, pela sua escandalosa parcialidade e pela relação de promiscuidade – contubérnio, como dizia Brizola – que manteve com a Força Tarefa do Ministério Público, que misturou e fez uma só coisa de acusação e julgador, tonando sentenças um jogo de cartas marcadas, ao qual o TRF-4, a segunda instância, fez carimbo e coro.
Algo de que todos os juízes, procuradores (como Augusto Aras) e jornalistas da grande mídia sabiam, sem nenhuma dúvida sobre os abusos que ocorriam.
O que isso denota, porém, tem isso reflete uma situação política no Supremo Tribunal Federal, onde Moro se tornou um cadáver problemático, à espera do embate sobre a decretação de sua parcialidade num julgamento se suspeição, a esta altura absolutamente demonstrada.
Transformar Moro, o perseguidor, em perseguido, só a ele ajuda.
Moro jamais foi vítima; sempre foi algoz.
E um algoz que vai ser destruído pelo monstro que ele criou, Jair Frankenstein Bolsonaro.
2 respostas
Perfeito ! Mas confesso que tenho tanta repulsa por esse cara, que acharia ótimo um casuísmo que o impedisse. É o maior canalha da história do Brasil, na minha opinião.
Podemos combatê-lo nos campos ético, legal e moral. Já no eleitoral…
O Bolsonaro já provou que há algo muito errado com o sistema democrático liberal. Enquanto vamos acreditando nesse clichê de que ruim com ela, pior sem ela, vamos vendo a destruição irreversível do país e de dezena (rumo à centena) de milhares de pessoas.