Expliquem aos alemães…

Sobre a nota divulgada pelo Deutsche Bank, publicada pelo Valor – e, que eu visse, por nenhum outro “jornalão” – dizendo que há “má vontade” do mercado financeiro com o Brasil, é preciso explicar algumas coisas aos alemães, que vivem num mundo muito certinho e têm dificuldades em compreender as originalíssimas “jabuticabas” de nossa economia.

A primeira delas é que, aqui, os fundamentos da economia são aquilo que os jornais quiserem dizer que são. Nos primeiros tempos do Tijolaço, em 2009, mostramos como se publicava que o Brasil “tinha entrado em recessão” no mesmo momento em que começava a explodir o crescimento do consumo e se desfazia, internamente, a “marolinha” da crise mundial.

De uns tempos para cá, o Boletim Focus, onde os oráculos dos bancos prevêem a evolução dos indicadores monetários, cambiais e produtivos substituiu não apenas o IBGE, mas o próprio raciocínio econômico.

Aqui, as medidas econômicas e o relacionamento com os agentes da economia são feitos por “porta-vozes” do mercado que, como embaixadores da bufunfa, levantam o telefone, como a Miriam Leitão, e ligam para o Ministro da Fazenda e para o Presidente do Banco Central para, em seguida, publicar o que vai acontecer.

No Brasil, não importa que o desemprego esteja baixo, que as vendas sigam crescendo – moderadamente, mas crescendo -, que os níveis da atividade industrial estejam se recuperando. Está decretado que estamos em crise e em crise estaremos. Ponto final.

Temos também uma nova escola econômica. É a escola psicológica, onde é preciso, mesmo contra as regras da ciência econômica, conseguir a estabilidade econômica mostrando que a fé nos juros como panaceia prossegue inabalável, numa espécie de “xiismo jurista” que só pode ser explicado como aquela “Síndrome de Estocolmo”, onde o sequestrado se apaixona pelo sequestrador.

Por fim, deve ser custoso aos alemães entender como uma reversão de fluxo cambial de apenas quatro dias da semana passada, o que não impediu que o resultado de maio fosse o mais positivo em 10 meses, é suficiente para justificar uma isenção de impostos imensa, como a liberação do IOF, que poderia perfeitamente ter sido feita de forma gradual.

Talvez seja mais fácil para nós, brasileiros, que ainda temos na memória recente a ditadura, que políticos não brigam com a Globo nem governantes brigam com o mercado.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

3 respostas

  1. Em 50 anos de vida, adquiri dois grandes medos, digo até pavor: Guerra e desgoverno econômico(inflação/recessão). Só quem nasceu e cresceu no desgoverno, jamais vai querer isso de volta. Sempre que leio, ouço ou enxergo, comentarios econômicos, imediatamente ligo o comentário ao que vivi. Nada pode ser pior para uma nação do que, colocar seu Povo de joelhos, humilhar seu Povo, desacredita-lo, torna-lo motivo de piada e comentários não verdadeiros. Desgoverno econômico, nunca mais.

Os comentários estão desabilitados.