Se coerência, nos dias de hoje, é uma pedra rara, difícil de encontrar, sempre o foi, quando as pessoas vão se ocupar altos cargos, tanto que surgiu o dito português ” se queres conhecer o vilão, põe-lhe na mão o bastão”, deliciosamente traduzido, se a memória não me trai, por Luiz Paulistano para o ofício de escrever: se quer conhecer o caráter de um jornalista, dê-lhe um cargo de chefia”.
Por isso, este blog – que sempre confessou sua admiração por ele – reproduz a “carta de despedida” do diretor brasileiro do Fundo Monetário Internacional, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., um dos mais brilhantes economistas de nosso país e, acima de tudo, um ser humano que continua a pensar, como sempre, no desenvolvimento brasileiro como algo que não se separa do progresso social. Tudo isso refletido na maneira simples e compreensível de expressar suas idéias – tornou-se antológico o seu “turma da bufunfa” para definir quem tem o dinheiro e o controle da opinião “pública” aqui – perante os leitores de sua coluna – infelizmente hoje quinzenal e em O Globo, depois que a Folha, há cinco anos, o “executou sumariamente“.
Talvez por sua sinceridade e transparência, com a capacidade de não falar economês, Paulo Nogueira não seja hoje o Ministro da Fazenda do Brasil. Como se sabe, um Ministro da Fazenda do Brasil não deve apenas falar inglês; deve pensar em inglês e isso Paulo não faz.
Mas a notícia – e Paulo entra nela mais diretamente que eu – é das melhores.
Ele será o vice-presidente brasileiro do Banco dos Brics. Um belíssimo começo para o banco, onde Paulo, em lugar de ficar tomando pernadas e puxadas de tapete dos “donos do fundo” vai fazer nosso país ser mais que respeitado: ser querido, também, pela qualidade humana de seu representante.
Sobrevivi
Paulo Nogueira Batista Jr.
Há poucos dias, o governo brasileiro, em nota oficial, divulgou a minha designação para vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento. Agora posso falar sobre o assunto. Na verdade, era um segredo de polichinelo; a informação já havia vazado para tudo quanto é lado. Quando veio a nota oficial, a repercussão foi bem modesta.
É sempre assim, leitor. O jornalista sempre quer publicar, de preferência, o que o governo não quer divulgar. O que é of the record ganha manchetes. O que é oficialmente divulgado permanece rigorosamente inédito. Mas, enfim, estou de mudança para Xangai no início de julho, em menos de um mês portanto.
Nelson Rodrigues dizia que brasileiro não pode viajar. O brasileiro, a caminho do Galeão, já na Avenida Brasil, adquire automaticamente um descarado sotaque espiritual. Se o grande cronista tinha razão, a minha nacionalidade deveria estar em avançado estado de decomposição.
Em março de 2007, quando estava preparando as malas para Washington, publiquei um artigo aqui mesmo neste espaço, sob o título “Escrevam, reclamem!”, no qual antecipava as dificuldades que teria no FMI e discorria sobre o adestramento das elites dos países em desenvolvimento na capital do Império ( Washington) — esta cidade de onde ora vos escrevo outra vez, mais de oito anos depois.
Sobrevivi. Não diria intacto, claro. Tive que enfrentar umas barras e tenho as minhas cicatrizes. Mas lutei. Lutei para que o Brasil, aquele Brasil idealizado, que só existe no coração de alguns brasileiros, pudesse se orgulhar um pouco de mim.
Exagero? Só quem passou alguns anos em Washington ou qualquer outra cidade importante no mundo desenvolvido pode ter noção completa das dificuldades com que se defronta um subdesenvolvido quando transplantado para o centro do sistema internacional de poder. A verdade, leitor, é a seguinte: americanos e europeus ainda estão acostumados a mandar, acreditam que têm o direito de mandar, que não há outra solução. E ponto final.
O subdesenvolvido quando chega por aqui se defronta, portanto, com a seguinte disjuntiva: ou adere, sem qualquer restrição e objeção, acompanhando mansamente as diretrizes do Ocidente, ou será considerado um elemento hostil, um estranho no ninho.
Alguém perguntará: mas não há meiotermo? Não, infelizmente não. Conformismo total é o que se espera de um periférico que aporta por aqui. E subdesenvolvido que não conhece o seu lugar é caçado a pauladas, feito ratazana prenhe, diria Nelson Rodrigues (outra vez esse homem fatal!).
Ah, mas o subdesenvolvido que se acomoda, este pode ter uma boa vida por aqui. Depois de um período de experiência, é acolhido como membro leal de um clube confortável, com saunas, piscinas e toalhas felpudas — membro de segunda classe, é verdade, sem direito de decidir, mas membro mesmo assim.
Quero acrescentar um elemento importante a essa pequena fábula. O brasileiro não é dos piores. A subserviência internacional encontra muitos representantes mais entusiasmados e mais convictos. O brasileiro tem os seus escrúpulos, os seus arroubos, os seus surtos de independência. O Brasil, afinal, é um grande país — ainda que nós, brasileiros, não estejamos sempre à sua altura.
14 respostas
“O brasileiro não é dos piores”, embora tenha, neste clube, eminentes representantes, permita-me acrescentar.
Passei a ter admiração do Sr. Paulo Nogueira Batista Jr. que confesso tinha muito pouco conhecimento, felizmente não devemos mais nada ao FMI, de devedores (Tempos do FHC, Sarnei) agora somos credores. Não necessitamos ouvir seus conselhos de arroxo aos pobres e aumento da riqueza dos banqueiros no qual se meteu a Europa. Agora teremos o Banco dos BRICS do qual o Brasil é um dos fundadores e contaremos com o espírito nacionalista de Paulo Nogueira. Realmente o Mundo político e econômico está mudando e a China é a maior protagonista.
No creo en brujas, pero que las hay, las hay… Que beleza de noticia, valeu!
Acho mais importante êle lá, que em Brasília.
Onde está, além dos parcos espaços disponíveis que os abnegados e kamikazes blogueiros “sujos” proporcionam aos homens da estatura moral e intelectual deste patriota Paulo, onde está a mídia alternativa com força e alcance capaz de fazer frente ao PIG? Isto deveria ser divulgado em rede nacional, porque se depender do PIGlobo, necas, morre por inanição e afogamento na imensa maré de lama anti nacional da imprensa vendida.
Somos todos sobreviventes como ele, tentando de todas as maneiras manter a dignidade em meio aos vieses, saindo com cicatrizes mas com integridade. Ele vai para um trabalho muito melhor que espero dê logo benefícios para os países envolvidos.
[FORA DE PAUTA(?!)]
O dia em que a Folha voltou a ser a Folha
DOM, 14/06/2015 – 09:22
ATUALIZADO EM 14/06/2015 – 09:27
Por conspícuo jornalista Luis Nassif
Com dez anos de atraso, a Folha retomou – não se sabe se definitiva ou pontualmente – a saga que a levou a ser, nos anos 70, um refrigério dentro das limitações impostas pela ditadura e, nos anos 80 e 90, um jornal amado.
(…)
Há algum tempo a cobertura do jornal vem mostrando respiros civilizatórios perceptíveis.
Mantem o velho vício do esquentamento de manchetes, muitas vezes indo contra o espírito da reportagem. Exercita idiossincrasias que ficariam melhor no Estadão.
Mas o editorial de hoje – contra os abusos dos presidentes da Câmara e do Senado -, é um marco, tão fundamental quanto o editorial que segurou os esbirros autoritários de Fernando Collor.
Rompe-se a blindagem inexplicável da mídia que, em nome do combate político, aceitou incensar os piores políticos da República, portadores dos mais anacrônicos princípios morais e do mais deslavado negocismo. E, na alma da Folha, a imagem do velho Frias se sobrepõe, finalmente, à de Roberto Civita.
A grande próxima batalha se dará em torno da recondução de Rodrigo Janot ao cargo de Procurador Geral da República. Com todas as críticas que se possa fazer ao seu estilo, sua eventual derrota para um Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Fernando Collor será uma derrota das instituições para o coronelismo mais desbragado.
FONTE [LÍMPIDA!]: http://jornalggn.com.br/notici…
… O Alexandre Garcia “das organizações criminosas Globo” defende – com veemente retórica – a redução da maioridade penal!
Segundo o boçal [pseudo-]jornalista “menores que adentram ao crime são seres irrecuperáveis, já nasceram fadados à delinquência!”
O mesmo ‘reaça’ ex porta-voz da ditadura militar também condena ‘A Lei do Desarmamento’, e prega que os(as) brasileiros(as) repitam os israelenses:
“Em Israel é muito comum as pessoas andarem com fuzis nas costas; as famílias, em restaurantes cujas mesas ficam adornadas por metralhadoras…”
RESCALDO: os Frias deveriam publicar um editorial sobre o papel nefasto do PIG!
Ou não?
Paulo Nogueira Batista Jr, um bom brasileiro.
Boa notícia saber que um homem como ele, com o seu verniz, é que será o vice-presidente brasileiro do Banco dos Brics.
Preferia que ele fosse o nosso ministro da fazenda, mas…..
Sorte e saúde ao Paulo e ao Banco Briscs !!!
Por favor Amigos, divulguem este texto de Paulo Nogueira. Boas ações, bons exemplos, senso de brasilidade, devem ser divulgados a todos os cantos. Temos o dever de fazê-lo, porque a grande mídia não o faz.
E é assim que os “desenvolvidos” agem com os estudantes e professores que vão estudar em suas universidades. Voltam com a cabeça “pronta” para defender com unhas e dentes os interesses deles. Por isso preocupa-me esse programa Ciência sem Fronteiras. É uma faca de dois gumes. Quantos sobreviverão ao assédio dos donos do mundo?
O Brasil agradece a atuação de PNBatista.
O caminho de nosso o país o conduz a Shangai.
Que siga fazendo o mesmo serviço por muito tempo.
Ao contrário de um “ministro” da ditadura que disse: o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.
Aja cara de pau e pouca coluna vertebral.
É a turma da genuflexão que tem em BHC, nova sigla de FHC, seu lider maior.
Ainda existem Srs de valor neste Brasil. Desistir, nunca.
Fernando, obrigado pela apresentação de Paulo Nogueira, que fantástico texto sobre os bastidores do poder mundial.