Haverá um moleiro no Supremo?

O Moleiro de Sans-Souci,  conto do escritor francês François Andrieux, narra a história do confronto entre um monarca – Frederico II,  O Grande, da Prússia – e um anônimo moleiro, cujas terras eram lindeiras ao do soberano.

Frederico queria expandir seu palácio e o moinho o impedia. Ofereceu ao moleiro mil ducados, mas este não o quis vender. Frederico sugeriu que poderia tomá-lo à força, para expandir o seu Palais de Sans Souci (sem preocupações, em francês).

O moleiro retrucou ao Rei que ainda haveria juízes em Berlim que o impediriam.

Frederico, que foi a origem do termo “déspota esclarecido”, amigo de Voltaire e outros intelectuais, recuou de seus planos e o moinho ainda está lá, como monumento do Direito contra o poder.

Os jornais de hoje, Folha à frente, cumprem o dever óbvio de condenar as grosserias destemperadas de Joaquim Barbosa mas, todo o tempo, acabam por justificá-las.

Os ministros do Supremo são livres para julgar, diz o coro da mídia, desde que julguem de uma maneira determinada e rápido.

De forma indireta e “polida”, acusam o Ministro Ricardo Lewandowski do mesmo que, com modos equinos, acusou Joaquim Barbosa: de estar patrocinando chicanas jurídicas em favor dos réus.

A Folha, com arroubos de pedantismos, o faz assim:

Sem nenhuma pressa, por sua vez, Lewandowski –contra o entendimento de todos e até contra o seu próprio voto na ocasião do julgamento– perdia-se em minúcias extemporâneas, raspava palimpsestos de doutrina, emaranhava-se em revisões filiformes.

Como o leitor merece respeito, palimpsestos são pergaminhos apagados e reescritos e filiforme é frágil, débil , fraco.

E o que exigem os nossos Frederico II: que a pressa em definir coloque uma pressão sobre as decisões.

Ou seja, que qualquer ministro que ouse dissentir da vontade do Rei o faça antes de 7 de setembro, para quando preparam a ressurreição das ruas, hoje reduzidas a pequenos grupos de contestação aos governadores de  estado, como Cabral e Alckmin.

Mas, ao contrário de Frederico, os déspotas de nossa mídia não são esclarecidos e nem reconhecem ao moleiro o direito de recorrer aos juízes.

Talvez porque temam que ali no Supremo algum juiz seja tão altivo quanto o moleiro e não se vergue às vontades despóticas.

 

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7 respostas

  1. Excelente texto apresentado por Fernando Brito. Pena, que mais de 80% dos brasileiros sequer entendem e não sabem interpretar esse texto, nem outros. Cultura e entendimento ao alcance de poucos; mas, mesmo assim valeu a esperança que haja um moleiro no STF

  2. Excelente texto apresentado por Fernando Brito. Pena, que mais de 80% dos brasileiros sequer entendem e não sabem interpretar esse texto, nem outros. Cultura e entendimento ao alcance de poucos; mas, mesmo assim valeu a esperança que haja um moleiro no STF

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