Helena Chagas: Bolsonaro, sem política, se isola na eleição municipal

Helena Chagas, n’Os Divergentes, analisa o “mato sem cachorro” em que está o presidente Jair Bolsonaro no “aquecimento” para a disputa das eleições municipais, sobretudo nas maiores cidades, aquela que mais fortemente repercutem no cenário político nacional.

Não se vencerá, nelas, pela comoção dos gritos e de facadas, mas com capacidade de organizar frentes políticas e oferecer ao eleitor nomes que não sejam aventuras, visto que a última, nitidamente, faz águas e ódios.

No Rio, vai se amarrar em Marcelo Crivella e seu desgaste, porque a matilha não toleraria um apoio – e resto improvável – a Eduardo Paes.

Em São Paulo, nu com a mão no bolso, surrupiaram-lhe o Datena e Paulo Skaf, da Fiesp, quer se guardar para o governo o Estado e precisará ser obrigado ao sacrifício e, talvez, a sacrificar o tucano Mario Covas Neto, se este não ficar pelo caminho na disputa, por problemas de saúde.

Se a resistência do PT a engolir o sapo cor-de-rosa de Marta Suplicy fosse dobrável, a eleição paulistana teria, ao meu olhar, uma favorita.

Leia a avaliação de Helena, é um retrato de um sujeito que, com too o poder na mão, não consegue agregar uma força política além de seus fanáticos e dos robôs virtuais.

Bolsonaro: perna-de-pau
no jogo político-eleitoral

Helena Chagas, n‘Os Divergentes

Os organizadores já jogaram a toalha: o Aliança não vai ficar pronto a tempo de participar das eleições municipais de outubro. Com toda a intempestividade de Jair Bolsonaro, é um espanto. Em tese, um presidente da República em início de mandato tem todos os instrumentos necessários para assegurar, com folga, as assinaturas necessárias para formar um novo partido. Se ele não tem, quem terá?

Aí é que está. Com pouco mais de um ano de governo, Bolsonaro vem se mostrando um tremendo perna-de-pau no jogo político — e não é só porque não conseguiu construir nem seu partido e nem uma base de apoio minimamente sólida no Congresso. O presidente vem mostrando que é ruim de bola nos lances mais básicos da sobrevivência política.

Chegará candidato à reeleição em 2022 sem ter eleito um só prefeito por seu suposto novo partidos este ano. Pior que isso, não tem ainda candidatos fortes nas principais cidades do país, ainda que por outras legendas. Bolsonaro parece estar esperando que esses candidatos, de perfil de centro ou de direita, caiam em seu colo pela força da gravidade nas disputas com representantes do campo progressista.

Pode ser que sim, pode ser que não. Mas, do jeito que vêm, nas horas eleitorais mais complicadas, os políticos vão. Não se sabe ainda se algum prefeito de capital deverá ao presidente da República sua eleição ou a proeza de ter chegado ao segundo turno — e é isso que vale no campo das lealdades políticas.

O apresentador José Luiz Datena, por exemplo, foi citado como um possível nome do bolsonarismo para a estratégica prefeitura de São Paulo. Mas Datena vai se filiar na próxima quarta-feira ao MDB, sob as bênçãos de Rodrigo Maia e de João Dória, provavelmente para ser o candidato a vice na chapa de reeleição do prefeito Bruno Covas. Uma tremenda incompetência da articulação de Bolsonaro.

No Rio, Bolsonaro vem fugindo de um apoio explícito ao prefeito Marcelo Crivella, que anda mal de Ibope. Mas não se articulou o suficiente para ter um outro candidato viável. Eduardo Paes (DEM), com boas chances de disputar um segundo turno com Marcelo Freixo (PSOL), seria uma alternativa. Mas adversários políticos do presidente, como João Dória, o governador Wilson Witzel e Rodrigo Maia, também estarão nesse palanque.

Aliás, a incompetência política máxima de Jair Bolsonaro tomou corpo na recentemente criada frente de vinte governadores dos mais variados partidos e matizes ideológicas. Colocar Dória, Witzel, Flavio Dino, Rui Costa e outros juntos — e contra ele — não é pouca coisa não.

O que se indaga é como alguém em tal estado de desarticulação política pode sonhar com a reeleição.

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