Jornalismo de propaganda, reportagens delirantes

CLAMOR

É uma tristeza ter, por dever de ofício, de percorrer as páginas dos jornais e ler supostas “articulações políticas” que, partindo de situações reais, se espalham para o campo do delírio, mais adequado às “tretas” de Facebook que ao jornalismo político.

Hoje, uma delas é imbatível, em O Globo.

A de que, para conservar o foro privilegiado, discute-se o “plano” (ou os planos, melhor dizendo) para Michel Temer ser “nomeado embaixador”, ou ministro do próximo governo (que governante desejará Temer no ministério, só para dar-lhe foro privilegiado?) ou mesmo “candidato à reeleição”.

Possibilidade sobre a qual escreve-se um cordão de “pérolas” do nonsense político, onde grifo:

(…)Temer, independentemente da condição de candidato ou não, deverá aparecer com mais força no contexto eleitoral no ano que vem e será o “fiador” da continuidade do grupo atual no poder.

Os entusiastas de Temer candidato citam a indisposição popular com a classe política – sem se preocuparem com os módicos 3% de popularidade do peemedebista hoje -, um suposto ativo eleitoral da retomada econômica e até um discurso que poderia ser adotado pelo presidente em alterar o sistema político para presidencialista, fortalecendo o Parlamento. (…)

Segundo outro auxiliar, as pesquisas de opinião feitas regularmente pela Presidência já aferem, sutilmente, a disposição popular em aceitar Temer nas urnas, apesar de ser, hoje, o presidente mais impopular desde a ditadura, com 3% e 5% de popularidade, a depender da pesquisa de opinião pública.

Deus meu! Desde quando ser o “fiador da continuidade do grupo atual no poder” é vantagem eleitoral?Grupo atual, leia-se, é Moreira Franco, Eliseu Padilha, Eduardo Cunha, Geddel “51” e daí por diante.

Os módicos (módicos?) 3% a 5% são, desde quando, “a disposição popular em aceitar Temer nas urnas”?

Pode-se alegar que são “fontes” que dizem isso ao repórter, mas quem publicaria , senão como “folclore” político o que uma fonte me diga que 3% de popularidade “aferem, sutilmente” signifiquem “disposição popular” para uma candidatura à candidatura de Temer.

A verdade é que o jornalismo político imita a própria política: é o império dos jogos de elite, onde o sentimento e o sofrimento da população importa pouco, apenas no que significa a possibilidade de manipulá-lo.

Entrega-se, de forma acrítica, a candidaturas de apresentadores de TV, de um novo rico transbordante de ambição e vaidade e, agora, dão ares de candidato a alguém que, por mais medíocre que seja, compreende que é, eleitoralmente (e não apenas nisso), um traste.

 

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6 respostas

  1. Até 2010 eu lia, ouvia e mesmo assistia tudo quanto é noticiário, embora eu já soubesse da linha editorial de cada uma dos veículos da chamada “grande mídia comercial”. Mas a partir daquele ano, com confissão expressa e explícita de Judith Brito, então presidente da ANJ, admitindo aquilo que já havíamos percebido e observado, ou nas palavras dela:

    “- A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo [Lula].”

    Para mim esse foi o ponto de ruptura. Como não sou profissional do jornalismo, a partir daí ignoro solenemente TODOS os veículos do PIG/PPV, não acesso seus portais, não clico em links que lhes dê audiência, não leio suas matérias em qualquer meio, eletrônico ou impresso. Não sinto a menor falta e não me sinto mal informado depois dessa decisão. Lendo os portais e blogs progressistas, além de veículos da imprensa internacional, consegui apurar meu senso de análise e observação, aumentando minha capacidade perceber e antever manobras e articulações político-econômicas, estratégias de marketing e manipulação de massas, ações concertadas entre as ORCRIMs judiciárias, midiáticas e políticas, etc.

  2. Ler a imprensa “oficial” (essa que eles mal denominam independente e que podemos chamar de imprensa da (des)ordem) é dever de todo combatente democrata, é vigiar e estudar os movimentos nas hostes “adversárias” (em época de paz democrática) e “inimigas” (em época de guerra e arbítrio, como a que estamos vivendo atualmente). Saber ler esses movimentos é quase uma arte. Se tivessemos dado importância a esse tipo de atividade de uma forma sistemática (como por exemplo executada pelo Manchetômetro do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública do IPESP) talvez pudessemos, não digo evitar o conflito (que não estava ao nosso alcance) mas pelo menos estar mais preparado para os combates. E esse combate tem sido quase que exclusivamente esforço individual e de resistência (física mesmo pelo que vemos aqui) de Blogs como esse.

  3. Olha Fernando Brito, desculpe o palavrão mas … puta que pariu, é muito cinismo destes trastes! Da empresa (O Globo), do repórter (se é que assim podemos chamá-lo) e desta “COISA” codinome Michel Temer et caterva, todos, tentando nos fazer e dizer na nossa cara: Engulam, idiotas!

  4. Amigos, nao nos esqueçamos quem está sentado na cadeira do STE, O “deus” do Olimpo! Vai que o inomimável resa pra ele?

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