A Lei é para todos, dizia o malsinado filme promocional da Lava Jato.
Vê-se, pela última revelação do The Intercept que não.
Fica nítido que se usam falsas investigações sobre Fernando Henrique Cardoso apenas para dar esta impressão.
E que isso merece a reprimenda de Sérgio Moro não apenas por ‘melindrar’ alguém ‘cujo apoio é importante’, mas porque as doações feitas ao Instituto FHC eram semelhantes em tudo às feitas ao Instituto Lula, com apenas uma diferença: no caso de Lula as palestras e eventos de fato haviam se realizado.
Mas há algo pior, muito pior do que isso.
É que a imprensa brasileira consegue receber os fatos que estão sendo revelados sem qualquer indignação.
Aceita que o debate seja redirecionado para a fonte da informação e, ainda pior, sobre o caráter e os objetivos do jornalista que lidera a equipe que os está revelando.
Nem falo da canalha estupidificada que recorre a argumentos xenofóbicos ou homofóbicos para isso.
Refiro-me a parcelas da “nata” do jornalismo – inclusive do jornalismo investigativo, este pleonasmo a que só a torpeza da imprensa dócil poderia dar origem – e das instituições, inclusive as judiciais.
A regras, num sistema judicial, não são uma formalidade, são parte da essência daquela afirmação de que “a lei é para todos” indispensável a que não se caia no desvio para a exceção, onde a lei é para alguns, mas não para outros, conforme o arbítrio dos que a aplicam.
Sérgio Moro comparece daqui a pouco ao Senado como “ministro convidado”, não como ex-ministro investigado, o que aconteceria em qualquer democracia digna deste nome.
Porque, antes de julgarem-se culpas criminais – e isso provavelmente nem ocorrerá – está em jogo a garantia social de que os comandantes das máquinas de repressão judicial deste país não a conduzem segundo ódios e favoritismos políticos.
A imprensa, que se moveu também por esta bússola construiu a falsa legitimidade da Justiça do “vale-tudo” que vai sendo revelada.
Aquela onde os ritos, as leis, a imparcialidade, a isenção não vale nada.