Lula “tirou onda” do dito “nervosismo” do mercado, por conta do chilique que sua declaração de que a estabilidade fiscal não era mais importante do que a fome e ainda, de carona, com a indicação de Guido Mantega para um dos postos na comissão voltada para o planejamento orçamentário na transição de governo.
Já disse antes que foi uma “freada de arrumação” no ônibus governamental, porque o presidente eleito deixou claro que não vai emascular seu governo entregando-o a uma completa ortodoxia econômica e sinalizando que seus compromissos sociais é que devem moldar a política econômica, e não a política social ficar de pires na mão ante os donos do cofre.
Simples assim e coerente com o que Lula já aprendeu há muito tempo na arte de governar: se o social tiver de esperar “sobras” do econômico para ser realizado, nunca o será.
Mas não descarto que também tenha sido um teste para as reações dos que podem vir a ser seus escolhidos para tocar a área econômica de seu governo.
Quando era criança, havia uma brincadeira – um tanto bruta – que consistia em tocar o joelho na parte de trás do joelho de alguém e ver se este o dobrava. Dobrou, vinha a gozação: “não serve para ser soldado”.
Tem gente que não serve para ser ministro, porque tem joelhos moles e ansiosos a dobrarem-se ao dito mercado e a seu partido político, a mídia brasileira.
não se trata de fazer “caça às bruxas” ou de exigir adesão total a qualquer posição econômica do presidente eleito, mas de ser, nos ministérios ou em outras posições de mando, um instrumento de realização das ideias sufragadas pela população.
Quando se chega ao governo por convite para executar suas próprias ideias e não aquelas, legitimadas pelo voto, não só se está ludibriando o desejo popular quanto, talvez até sem este desejo, tornando-se um foco de prejuízos ao governante que lhe entregou uma posição de confiança, porque substituir alguém, ainda mais em início de governo, é uma fonte imensa de desgaste e frustração das prioridades da administração.
A vozes mercadistas e midiáticas se apresam em dizer que Lula “tem de trocar o discurso de campanha pelo de governo”, como se isso não fosse o mesmo que mudar os nomes, mas não as cabeças.
É claro que os dois discursos são diferentes, mas não podem ser opostos.
Quem dobra o joelho com um “tostãozinho”, torça na arquibancada ou converse no vestiário. No campo, o combate será bruto e não este momento de confraternização geral que antecede a posse, onde tudo é festa.
Lula pode até dizer que não, mas não creio que vá perder quem apostar que ele está só olhando a reação e, de vez em quando, balançando a cabeça, dando um pequeno sorriso e riscando nomes da lista que carrega dentro de sua cabeça experiente.