O trabalho de costura política de Lula para obter uma base – senão sólida, ao menos viável – para seu governo deveria, por si só, fazer o pessoal que clama por “ministro, já” ter entendido duas coisas: a primeira é que as políticas centrais de governo serão decididas, como devem ser, por quem recebeu o voto da população; a segunda, de que Lula não é tolo de fechar, antes da hora, os espaços disponíveis para o quase artesanato que é a montagem da aliança de que precisa.
Por isso, é bom não contar como favas os nomes que “parecem” certos para ministérios-chave, nem mesmo, inclusive, os da Fazenda e Defesa, pedras-de-toque na formação do “time” de Lula.
É evidente que a proximidade histórica de Lula com Fernando Haddad, sua experiência de gestão o fazem o nome provável para a economia, mas não se pode descartar que o presidente eleito, versado em futebol, esteja preparando algum “drible da vaca” – aquele em que o jogador toca a bola por um lado do defensor e avança pelo outro – sobre o “mercado”.
Também pode ser José Múcio Monteiro a escolha para a Defesa, para “acalmar” – aliás uma bobagem – aquilo que o ministro golpista do TCU (onde foi colega de Múcio) Augusto Nardes definiu como “um movimento forte das casernas” contra o presidente eleito. Só Lula sabe o que se passa ali e o quanto há de bravatas e de posições radicais lá dentro.
Deve-se ter dúvidas, porém, se o presidente eleito não optaria, neste caso, por alguém em relação ao qual tivesse certeza absoluta da fidelidade.
Lula sabe de cor a frase do nosso interior sobre precipitações: “não se cansa a dama antes do baile”.
Qualquer decisão sobre ministros antes de sua diplomação, no dia 12, será sinal de certeza absoluta – desaconselhável na política – ou sinal de forte preocupação legalista.