Os números aí de cima, produzidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada – órgão do governo brasileiro -, com base na Pesquisa de Domicílios do IBGE – governamental, também – não são diferentes do que já se registrou antes.
Nem por isso deixam de ser chocantes e vergonhosos.
Mais de dois terços das famílias brasileiras sobrevivem com renda do trabalho inferior a R$ 2.471,09 por mês. Delas, quase todas, abaixo de R$ 1.650.
Não há projeto econômico exequível que não ataque esta questão e, sobretudo, não há condições de uma vida civilizada em meio a tamanho grau de exclusão.
Programas de transferência de renda são, sim, essenciais, mas não são o suficiente.
É preciso gasto público em programas sociais e de infraestrutura, que gerem postos de trabalho que voltem a absorver a massa de mais de 14 milhões de desempregados, que estão aí, nas duas colunas da direita do gráfico.
Destruímos todos eles: a habitação, a construção pesada, a agricultura familiar – à qual Bolsonaro acaba de vetar um auxílio para que possam seguir produzindo e fixada à terra – os investimentos estatais de peso e tudo o que podia distribuir renda pela via do trabalho.
Mesmo o que se gasta, gasta-se sem rumo, sem atenção às prioridades nacionais, que parecem ter se transmutado em armas, passeios de moto e disputas permanentes e destrutivas com outros poderes, inclusive os estaduais, e um esparramo de dinheiro em ações descoordenadas e pontuais pela distribuição de emendas parlamentares.
É iso o que está em jogo no processo eleitoral que se aproxima, não um campeonato de “marketing” entre figuras que se digladiam inutilmente.
O Brasil precisa reconstruir sua estabilidade política, evitar as aventuras, planejar e executar o resgate de tudo o que foi abandonado antes e durante a pandemia.
O “teto sagrado’ não é mais importante que reverter este escândalo mundial que se tornaram as condições sociais de nossos país que, por sua vez, estão corroendo uma economia que passou a ser quase que só virtual, onde só o dinheiro produz dinheiro, sem produzir, porque já não há quem possa comprar.
De novo, estão nos levando a ser o país do fogão a lenha e lamparinas, não por nos faltarem gás ou eletricidade, mas porque não há com que os pagar.