Mourão transita fácil na aversão à política de Bolsonaro

Há muitas análises – corretas, em geral – sobre a movimentação cada vez mais desenvolta do General-Vice Hamilton Mourão, que procura se despir da farda do “linha-dura” que usou na caserna e  durante a campanha eleitoral.

E quase todas esbarram em algumas coisas que, por enquanto, não podemos saber com certeza: sua ambição de substituir o ex-capitão, que pode escorregar pelo lamaçal aberto pelo caso Flávio-Queiroz ou até tomar um espaço de “chefe” do setor militar do Governo, hoje entregue ao também general Augusto Heleno.

Existe algo, entretanto, que não tem merecido muita atenção: como que usando seus conhecimentos militares, Hamilton Mourão avança por uma área que Jair Bolsonaro deixa desocupada: a da política, ainda que não – por enquanto – a partidária.

A notória aversão do ex-capitão ao diálogo político – até porque notoriamente incapaz de algum diálogo, falando chavões aos arrancos – deixa um campo livre no qual, como noticia Monica Bergamo, na Folha, no qual Mourão realiza verdadeira blitzkrieg: a mídia, especialmente a estrangeira. E não é demais  emprega ali, sem dúvida, o fator “elemento surpresa”.

Afinal, não é surpreendente que o general tido como mais “gorila” entre todos apresente-se como um homem civilizado, sem expressão razões e posições absolutas, abrindo conversas com os “inimigos do rei” e se sujeitando, sem temor, ao ódio babugento dos fanáticos do bolsonarismo – vejam as reações de Olavo de carvalho a Mourão – porte-se assim?

Planejada, como parece, ou não, o fato é que Mourão ocupou os espaços que Bolsonaro deixou vazios e mesmo não havendo reações expressas do entorno de Bolsonaro, basta o silêncio de seus áulicos para denotar o mal-estar que o vice causa quando aproveita o vazio da política que o ex-capitão abre com sua opção por “tuitar” suas posições.

Tão importante quanto as ousadias de Mourão são os espaços que Bolsonaro deixa desertos por sua natureza de solitário, tão forte quanto a de demagogo.

A história recente do país ensina aonde leva a inapetência pela política.

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18 respostas

  1. esse é outro que perto do traste virou um democrata que acabamos preferindo no lugar do outro – a que ponto chegamos

  2. Na Republiqueta de Bananas não haveria de acontecer outra coisa! Em nome da Democracia assumo o poder. O jagunço tá todo ouriçado! Haja golpes!

  3. Comparado a Bolsonaro, Mourão é uma versão mais aprazível de um veneno igualmente mortal!

  4. Revisitemos um episódio do genial O Bem Amado, onde o Odorico contrata um marqueteiro para reverter sua impopularidade. Coloque o ‘Mouco’, digo, vice do mico na fantasia adotada e tenha boas risadas. Né não?

  5. O Morao pode vir a ser uma especie de Konrad Adenauer brasileiro reconstruindo e repacificando o Brasil apos esta tempestade perfeita que esta sendo o (des)governo BozoNazi. O desastre Bolsonaro para o mundo eh muito maior do que tem mostrado a midia Brasileira.

    O Mundo esta muito preocupado com o que esta acontecendo no Brasil e a razao eh a Amazonia, que ainda eh o principal pulmao do mundo. Ja existe inclusive um estudo para aplicar light sanctions contra o governo brasileiro. O veneno na soja eh o primeiro passo de outros que virao contra as commodities brasileiras.

    Os europeus, incluindo Russia, Arabes e China, tentarao isolar economicamente o Brazil do BozoNazi e o Mourao certamente tem estas informacoes e esta trabalhando neste pressuposto dando entrevistas a mainstream midia como Bloomberg, Reuters e outros. Os contactos intergovernamentais de paises europeus e do BRICS com o Brasil do Bozonazi sera o minimo, apenas protocolar.

    Alias a Argentina podera lucrar muito com a miseria brasileira e poristo o Macri esta tambem em uma charming offensive com os europeus e chineses.

  6. Diante do vácuo causado pelo autoritarismo totalmente desprovido de conteúdo, o vice virou um gênio político, um tolerante. Do jeito que sambaram pra encontrar alguém que topasse a parada de vice, é uma das surpresas mais desconcertantes do tal autogolpe. É aquele cara que sabe que um bloco quadrado não passa pela abertura circular via marreta e a gente fala “ooooh!”

    Ninguém é ingênuo (não tanto assim), mas é engraçadinho notar que algumas coisas por demais indigestas não são páreas para a seleção natural.

    1. Parece que Mourão pôs em marcha sua tal estratégia de “aproximações sucessivas”.
      Para ele e para quem ele represente, poderá dar certo.
      Para o Brasil, para o brasileiro médio, é outra história. Basta ver que não apresenta divergências com Paulo Guedes em relação a questões econômicas. Ao contrário, caso o miliciano seja transformado em “decorativo” (um Temer titular mas igualmente inepto e sem poder), Guedes, ao que tudo indica, continuará no comando da Economia.
      Sem a anulação dessa “fake”-eleição, restam ao Brasil duas alternativas: correr ou ficar.
      Num caso, o bicho pega; no outro, o bicho come.

  7. fazer discurso conveniente nao faz de ninguem um bom politico (ou um politico menos ruim), o vice ja’ mostrou algum servic,o? Como disse o Jose’ Dirceu, a cadeira de presidente queima, sera’ que ele aguenta o fogo?

  8. Mourão é hoje o “mal necessário”. Explico, ele não é o bem que eu gostaria para o nosso país pois divirjo de muitos de seus pensamentos. No entanto, eu o vejo como alguém preparado que pode pacificar o país apaziguando os anti-Lula e, ao mesmo, tempo mantendo um debate civilizado com a oposição. É preciso ver como se daria essa transição do Bozo para ele. Será por um auto-golpe ou por aproximação sucessiva, como ele mesmo citou certa vez.Talvez leve algum tempo mas que se dará não resta dúvida.

  9. O movimento frenético na superfície hipnotiza nosso olhar, desviando nossa atenção para os movimentos subterrâneos e profundos que de fato movem as águas. Os homens de negócio do “Mercado Econômico” negociam com os homens práticos do “Mercado Político”. Mas são os primeiro que decidiram o Golpe com seu projeto de país e de poder excludente; os gendarmes das forças da (des)ordem na esfera política e burocrática do Estado operacionalizaram o Golpe, negociam e lutam por sua parte no botim e seu lugar na dança das cadeiras de um poder que já nem se preocupa em esconder suas intenções autoritárias e antidemocráticas.”Às favas,…, todos os escrúpulos de consciência.” continua mais uma vez valendo como uma das principais regras não escritas das nossas “regras do jogo”. Os dois golpistas, os do Mercado e os das instituições do Estado, desconfiam das capacidades de um e do outro de oferecer a mínima estabilidade para um domínio inconteste do projeto comum de país. Mas estão nessa aventura para o que der e vier. Não têm alternativas. Contam com nossa paralisia, inação, desorganização e incapacidade de reagir. Nisso por hora acertam.

    1. Só diria que eles, os homens do Mercado Econômico e os do Mercado Político, não têm um projeto comum de país, porque nenhum deles tem um projeto de país. Eles têm um projeto para o país, o que é muito diferente. Um projeto de enriquecer o mais que possam aqui e agora, sem pensar no futuro do país. Um projeto de bloquear a inclusão social e o progresso econômico dos brasileiros mais pobres, e de constranger ao máximo os trabalhadores, levando-os à situação de penúria extrema para sugar seu esforço físico e intelectual em troca de migalhas, escarnecendo ainda deles com um sádico “é pegar ou largar”, ou “é melhor um emprego ruim do que nenhum emprego”.

      1. Então “eles” (apud Lula in entrevista a Mônica Bergamo) têm um projeto. Aliás o Brasil é o projeto acabado desses “homens práticos” (apud Lima in Bruzudanga) que negam o ócio e uma vida digna a todos menos a si próprios. Fim de citas.

  10. rumo a ditadura militar/neopentecostal!!! o que tem que ser feito é dividir o brasil em dois paises um de direita e outro de esquerda é a melhor solução por se continuar assim os militantes de esquerda que tem condições financeiras vão abandonar o país e ois militantes de esquerda que não conseguirem ir embora vão viver e morrer numa ditadura!! não existe mais esperança para um brasil unido e soberano a partição é a melhor alterantiva!!!

  11. Duas pequenas notas.
    O protagonismo do brucutu fardado talvez seja a ponta visível de um iceberg ora em curso de colisão com o Titanic nacional, o front aberto entre as duas forças majoritárias do golpe, a pragmática e a ideológica. Já se encontram alinhadas no tabuleiro as peças econômica e jurídica, a favor do pragmatismo, e talvez o que o vice falastrão esteja fazendo é posicionar-se do mesmo lado, deixando à banda subalterna, intelectualmente tosca e miliciana, assumir a posição oposta. Sabemos como isto vai terminar, mas não como decorrerá a luta pela tomada de poder. Poderemos ver o Brasil sangrar como palco de uma guerra de ambições econômicas e políticas. Espero enganar-me.
    Sr. Brito, no quinto parágrafo, parece que houve um deslize no período após a vírgula, transformando o termo “sem expressão” em adjetivo à atitude do vice, que é tudo menos inexpressiva. Parece-me mais claro o uso do verbo “sem exprimir” ou o uso da conjunção “de”, na sequência “sem expressão de razões…”. Se estou enganado, desculpo-me. Não sou um profissional ou esteta das palavras, mas a intenção foi construtiva. Saudações!

  12. As mulheres precavidas costumam dizer que se interessam muito mais pelos atos do q pelas palavras dos seus pretendentes. O general andou se desmarcando do Ernesto, concordando com o direito do Lula e tb emitindo uma opinião civilizada sobre o aborto etc Mas tudo isso no campo da saliva, do lero. Quando sobrou para ele assinar as mudanças na lei de acesso à informação ele não titubeou. E mudar essa lei, como ela foi mudada logo no início do mandato dá bem uma idéia do q vem por aí. Basta ver a voracidade deles na eleição do senado, atropelando e afugentando um macaco velho e craque da sobrevivência como o Renam. E do outro lado não há nada. Nem um grupo ou grupos devidamente organizados para enfrentar o rolo compressor deles que inevitavelmente virá. Quase duas dezenas de deputados petistas não votaram no candidato do partido. De quê adianta ter a maior bancada de oposição com cada um remando numa direção diferente?! Desse jeito o Bozo agradece e manda lembranças

  13. O general cafuso é apenas a outra face da moeda. A junta militar que governa o Brasil pós-golpe usou o Bozo para obter votos e simular uma ‘eleição’ do ex-capitão criminoso, voltando ao poder por meio de um processo fraudulento, mas que até a falsa esquerda aceita como “disputa eleitoral legítima”. O problema maior para o generalato golpista é que a “tigrada”, ou seja, o baixo clero das FFAA, das polícias e do sistema judiciário em geral, cerra fileiras com os bozos e as milícias e ORCRIMs com que sempre estiveram e estão associados. As ORCIMS midiáticas e judiciárias, em associação com os generais golpistas, tentam agora se livrar dos trogloditas que empoderaram. O general cafuso será a continuidade piorada do golpista e quadrilheiro Michel Temer et caterva, porém simulando menos primitivismo que os integrantes do clã criminoso.

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