Há muita gente que se deixa levar pelos aspectos mais imediatos da política.
O desempenho relativamente fraco do PT e, em geral, de toda o campo progressista nas pouco politizadas eleições municipais que se aproximam diz pouco sobre a realidade do país, mais adiante.
E basta raciocinar com os mesmos elementos quem que antes se considerava imbatível o lulismo no país, escorado por um voto popular amplamente assentado sobre os programas de distribuição de renda, especialmente o Bolsa Família.
Jair Bolsonaro, com o auxílio emergencial, operou um programa de injeção de recursos na camada mais pobre da população que, em valores, representa, neste ano, 10 vezes mais que o Bolsa Família. Dez vezes.
Diante disso, pode-se até dizer que foi tímido o crescimento de sua popularidade, especialmente nos centros urbanos.
Na pesquisa Ibope divulgada ao longo da semana, Bolsonaro tem índices de aprovação iguais ou maiores que sua média nacional de 40% em 12 capitais (Boa Vista, Manaus, Porto Velho, Cuiabá, Rio Branco, Campo Grande, Goiânia, Palmas, João Pessoa, Macapá, Maceió e Curitiba) e só em sete ( Salvador, Teresina, Porto Alegre, Fortaleza, São Paulo, Recife e Belém) registra menos de 30%, pelo menos 11 pontos abaixo daquela taxa de aprovação.
Quando se leva em conta o tamanho das cidades que rejeitam (23,4 milhões de habitantes) e o das capitais que o aplaudem (10,8 milhões) a impressão de apoio, claro, fica minimizada.
Mas se o resultado prático se verá em novembro, é em 2021 que se verá o grau de solidez desta tolerância que Bolsonaro conseguiu , aos trancos, coices e acordos com o Centrão.
É evidente que se um governo, qualquer governo, pudesse simplesmente injetar o volume de dinheiro que se injetou, em 2020, no bolso dos pobres, não só ganharia eleições sempre como teria acabado com qualquer vestígio de oposição.
Não é que se possa prescindir, no Brasil, de programas de redistribuição de renda no Brasil, ainda mais na crise provocada pela pandemia. Mas a simples e óbvia constatação de que não basta crescer para distribuir o bolo (do discursos do regime militar) como não é suficiente distribuir para haver crescimento provocado apenas pelo consumo.
Ainda é politicamente suicida o que faz Rodrigo Maia ao “trancar o pé” contra qualquer prorrogação do auxílio emergencial, mas há – e cada vez mais – pressão para a volta de uma política de cortes fiscais e esta pressão se exerce com grande facilidade no mercado financeiro.
As armas são terríveis: a inflação, os juros, a confiança do empresariado, todos eles voltando a apresentar sinais negativos.
Será neste cenário de confronto entre necessidade social e as “necessidades de mercado” que 2022 vai se desenhar.