O “debate” – bem grifadas as aspas” – terminou no primeiro bloco, porque foi nele que ocorreu o que interessava: o confronto entre Lula e Bolsonaro, fartamente expresso em um duelo de “direitos de resposta” provocados pela agressividade com que o atual presidente chegou ao evento.
E neste choque, Lula se saiu muito bem, rechaçando com energia os ataques e levando Bolsonaro até a gritar, descontrolado, do fundo do palco. Neste início, Lula já tinha ido bem ao desmontar o ataque – previsível e inútil – de Ciro à sua passagem pela presidência, numa “invertida” que foi o único ponto digno de nota do ex-governador do Ceará em sua passagem pelo debate.
Também ajudou Lula, neste início, a saída inteligente que Simone Tebet teve para a tentativa de Bolsonaro em fazer dela escada para a exploração abjeta da morte do ex-prefeito de Santo André (SP): “Eu acho que falta ao senhor coragem de perguntar isso ao candidato do PT, que segundo você está envolvido no caso, que está aqui, por que não pergunta ao candidato Lula sobre esse assunto?”.
Bolsonaro, aliás, não “fez bonito” em momento algum do debate, ora insistindo no mundo fantasioso do sucesso de seu governo (“o Brasil é um exemplo para o mundo”, “o maior programa social do planeta”, “quem estiver com fome é só ir lá se cadastrar no Auxílio”), ora apelando para baixarias de sua “pauta moral”.
A covardia de suas “dobradinhas” com o tal Kelman e com Luiz Felipe D’Ávila era tão escandalosa que se anulava e creio que está se dando muita importância ao fato de que teria sido negativo para Lula ter chamado o falso padre de “impostor” e “candidato-laranja”.
Poderia, de fato, ter se “pilhado” menos, para usar mais o humor trágico que a figura despertava, mas o papel do ajudante de Bozo a que o tal sujeito se prestava era tão escandaloso que ninguém aponta como negativos ou desrespeitosos os vários “tocos” que a ele deu William Bonner nem o “padre de festa junina” com que o rotulou Soraya Tronickle.
Lula é, para mim, o vencedor do debate, porque era um dos dois que corria riscos, e não perdeu.
Igor Gielow, escalado pela Folha para analisar o confronto, diz bem, ao escrever que “Lula venceu por pontos”: “É pouco, mas o suficiente para ele a esta altura do jogo.”
Bolsonaro, por sua vez, precisava ganhar, e perdeu a chance de ampliar seu eleitorado, algo desesperadoramente necessário para encurtar a distância do líder.
Isso é o que realmente cinta, e o resto é espuma. Neste campo, Simone Tebet saiu-se melhor, e bem melhor, do que um Ciro visivelmente zonzo, sem nenhum brilho e enrolado numa necessidade de proclamar-se “o mais preparado” que o embaralhava. Parece ter “conquistado” o quarto lugar.