No golpe de Bolsonaro, papel dos militares é o de ‘leão de chácara’

Jair Bolsonaro é, desde sempre e antes de tudo, um homem que mente.

Se permitem conspurcar o poema de Fernando Pessoa, mente tão completamente que chega a dizer que seus delírios de autocracia são o triunfo da liberdade e da democracia.

Ele não serve ao Exército Brasileiro, nem às outras Forças Armadas. Nunca lhes serviu e, por isso, só o compadrio evitou que se consumasse sua expulsão.

Sua relação é, como sempre foi, a de acenar-lhes com vantagens pessoais – as coletivas, como soldo; as individuais, como cargos.

Sabe requentar as as ambições militares de controle do poder nacional, oferecendo a elas o que já não tinham há décadas, suporte popular para uma aventura autoritária.

Mesmo em 1964, em condições muitíssimo mais favoráveis, eles precisaram arvorar-se em “salvadores da democracia” a socorrer manifestações da direita (as Marchas com Deus) e da mídia (os Basta! e Chega! editorializados pelos jornais).

Compreende que, sem isso, dificilmente elas rolarão seus tanques para mais que fazer fumaça ante os demais poderes da República.

Nas suas contas, porém, acha que pode usá-las como “leões de chácara” de seu esquema de poder, que aparecem para “pôr ordem” na confusão que conta armar com suas milícias diante da ameaça de um resultado eleitoral negativo, hoje quase uma certeza.

Sebe que terá dificuldade de levar os comandos militares a uma agressão direta, que fica a cargo, como vem experimentando há anos, de seus esquadrões políticos e, aqui e ali, de bolsões em quarteis. E que, diante disso, que a alta hierarquia, docemente, vergue-se ao papel de legitimá-las como expressão da “vontade popular”.

Com todos os pendores autoritários que têm, não é possível que não percebam que Bolsonaro, criado para ser uma escada para a restauração do poder militar, transformou as Forças Armadas em degrau para seu poder, pessoal e familiar.

Mesmo depois que fuzilou sumariamente um general e um almirante para tentar livrar-se do desgaste político do preço dos combustível parecem não ver que, como se fossem soldadinhos de chumbo, todos que não lhe forem peças livremente manipuláveis e sacrificáveis, vão derreter na caldeira do inferno em que ele transforma o país.

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