Nos nóvos diálogos, a evidência de que Moro agiu para enganar o STF

Pode parecer pouco importante para nós, leigos, mas o que fica revelado, nos novos diálogos revelados na cooperação entre o The Intecerpt e Veja, é que uma das principais obsessões de Sérgio Moro, usando de sua indevida “chefia” sobre o Ministério Público. era a “guerra do juiz natural” e. portanto, a demolição da pedra essencial de um regime democrático, a proibição de tribunais de exceção.

Explico: a primeira garantia da imparcialidade do juízo é a escolha do tribunal competente. Ela deve ser totalmente independente de escolhas prévias, que ajudem a “escolher” qual juiz ou juízes devem julgar um caso, mas assegura a distribuição mediante regras prévias e conhecidas de todos, daa jurisdição.

No caso da Lava Jato, isso não só foi desrespeitado como assumidamente tratado como um “valor jurídico”: “cair nas mãos de Moro” era, para o pelotão de linchadores, a única garantia de que seria feita a “justiça” e haveria punição para os acusados. De outro modo, ah, era aquela “justicinha” da pizza, do “não prende”, do “não confessa”, da impunidade.

Não foi assim que, por exemplo, saudaram a proibição, por Gilmar Mendes, de que Lula assumisse a Casa Civil do governo Dilma e “saísse de Curitiba”?

Isso já havia ficado claro, nas primeiras revelações, quando Deltan Dallagnol se mostra preocupado e depois aliviado com a forma leviana com que foram aceitas as supostas ligações dos triplex com contratos da Petrobras – o que persistiu, aliás, até a sentença de Moro, “suprido” com a delação de Léo Pinheiro sobre uma “conta geral de propinas”. Esta, surgida já no final do processo, é aquela que, em outros diálogos, procuradores dizem nunca terem ouvido falar.

Agora, os diálogos explicitam que Moro agiu para negar ao Ministro Teori Zavascki elementos do processo, que já eram de seu conhecimento e implicariam na mudança de foro. Exatamente como fez na revelação dos diálogos entre Lula e a então presidenta Dilma Rousseff que, sabidamente, escapava à sua jurisdição.

Vasculhe a sua memória e veja se acaso você se lembra do nome de algum juiz, exceto ou ou outro do Supremo, em todos os anos de sua vida.

O que apontam como mérito de Sérgio Moro, o de ter se tornado um juiz “diferenciado” foi, como se está a ver agora, a sua ruína e, possivelmente, a ruína de boa parte do “maior caso de combate à corrupção da história do Brasil”.

Procure com atenção e você verá que o único elo entre a Lava Jato (nome tirado de um posto de gasolina que lavava dinheiro em Brasilia) e o Paraná é o fato de que um dos doleiros, Alberto Yousseff, um dia havia operado em Foz do Iguaçu e era, coincidentemente, “cachorrinho de delação” de Moro em outro processo, do qual o juiz o havia livrado do xilindró.

Além dos prejuízos que Moro causou à administração da Justiça por sua ânsia de poder político, há o criado pela “escolinha do Moro”, uma penca de juízes aspirando à condição de “herói” que teve o medíocre maringaense, inclusive apelando para espetáculos deprimentes de posar com fuzis ou com halteres.

O moralismo, que por estas bandas virou “morolismo”, sempre foi e continua sendo a maior fábrica de imoralidades que pode haver numa sociedade.

 

 

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16 respostas

  1. Deus ajude que o emérito e impávido jornalista Glenn Greenwald libere logo os seguintes áudios:
    1- as tramoias dos canalhas ‘mor(T)o’, DD &$ Cia com os congêneres do TRF-4 PATETAS;
    2- as sujeiras com o glutão suarento do STJ – e sócio benemérito da [infame] ‘panela de Curitiba’;
    3- os vazamentos do ‘mor(t)o’ e do “DD evangélico de puteiro” para as máfias da Rede Globo e do ANTAgonista;
    4- os achaques contra o dias toffoli, o ‘sFACHINhador’ da Constituição, a cármen (IN)Lúcida et caterva suprema;
    5 – *”o acidente” que matou o ministro ‘Teori(a) da Conspiração Zavascki’
    *além de ter cevado a vida de mais quatro vítimas dos nazigolpistas;
    6- a êxtase pelo sucesso (sic) do ‘sFAKEamento’ do Bozo!
    (…)
    E muito mais!

    Deus é Bom!
    E pelos justos!

    E as orações do Santo Papa Francisco são generosas e fortes!

    1. O Glenn deveria fazer um mutirão só de gente confiável para selecionar o que tem importância jornalística. Selecionar por assunto: TRF-4, Lula, STF, etc.. Não se pode confiar totalmente em revistas e jornais do mainstream, porque eles têm interesses que não poderão deixar de tentar proteger.

    2. O Glenn deveria fazer um mutirão só de gente confiável para selecionar o que tem importância jornalística. Selecionar por assunto: TRF-4, Lula, STF, etc.. Não se pode confiar totalmente em revistas e jornais do mainstream, porque eles têm interesses que não poderão deixar de tentar proteger.

    3. E por falar em DD evangélico de puteiro, ninguém vai investigar quem (que garotada, o mais provável) morava nos dois apartamentos do “minha casa minha vida” que ele comprou, confessadamente, e o que faziam lá? Para que DD quis dois apartamentos baratinhos com os salários, mimos e comissões milionárias que ele recebe mensalmente?

  2. Nas democracias plenas da América do Norte e da Europa – onde há o Estado de Direito como princípio fundamental – as revelações de Veja/Intercept levariam ao desmanche dessa quadrilha hoje mesmo. Impossível viver cumprindo leis e regras constitucionais num país onde esse chiqueiro podre vem a público com todas as confirmações apuradas.

  3. Lava Jato e Inquisição – PARTE VI
    Inquisição e cristãos-novos
    Os cristãos-novos constituíam a presa apetecida dos inquisidores. Não é possível separar a história da Inquisição da história dos cristãos-novos [em Lúcio de Azevedo, em António José Saraiva e outros historiadores]
    A Inquisição perseguia os cristãos-novos por serem cristãos-novos ou apenas aqueles que viviam segundo a lei de Moisés? Melhor ainda: não perseguia a Inquisição somente os marranos, aqueles que se mostravam cristão por fora e eram judeus no coração?
    Em princípio, os marranos é que constituíam o cibo [o alimento] desejado dos inquisidores. Só que na sua ótica os cristãos-novos eram, no mínimo potencialmente, judeus escondidos. Só faltaria a prova. Por isso, a inquirição-inquisição. Os olhos e os ouvidos estavam continuamente assestados sobre a gente da nação dos cristãos-novos ou simplesmente gente da nação.
    Os cristãos-novos tiveram dificuldade em [enquadrar-se] em despir-se, recusar os seus símbolos, os seus gostos, os seus gestos, os seus cheiros, abafar a sua própria consciência coletiva e assumir externa e internamente a alheia. Tal mudança não se podia fazer sem largo sofrimento e tragédia.
    (…) ver bela citação de Espinoza.
    A criação da Inquisição em Portugal visou reduzir os marranos ou judaizantes secretos que viviam como cristãos-novos. E a atividade prática dos diferentes tribunais (…) parece demonstrar a verdade dessa intenção. Evidentemente, tudo quanto cheirasse a heresia e a blasfêmia mobilizava os agentes inquisidores. Quanto a repressão sexual, agregada mais tarde pelos inquisidores, constituía uma atividade subsidiária que servia muitas vezes para melhor fazer a cama às vítimas, usando técnicas que um moderno serviço secreto não desdenharia.
    Mas a tarefa iniciada pelos inquisidores na década de 40 do século XVI nunca mais tem fim. Como a Hidra de Lerna, a cada cabeça cortada, novas e múltiplas cabeças se erguem heréticas, afrontando e maculando a pureza do ideário e do sangue cristão-velho.
    (…)
    Não podemos vestir esta nudez. Os protagonistas, os mártires, os escarnecidos e comoventes heróis ou vítimas desgraçadas destes autos-da-fé são, na quase totalidade, cristãos-novos acusados de judaizarem em segredo.
    É difícil abandonar a religião do berço
    Ao longo dos séculos XVI e XVII, muitos cristãos-novos, mesmo entre aqueles que tinham consciência da sua origem, eram já cristãos. (…)
    No entanto, como escrevemos atrás, nos começos da perseguição ainda há quem leia em hebraico, quem possua livros em hebraico, ainda há praticantes da Lei Velha.
    No que respeitava à crença: a recusa da Trindade implicava a recusa de Cristo como Deus e como Messias, negavam também a virgindade de Maria, ridicularizavam as romarias, culto das imagens e dos santos.
    No capitulo das práticas: guardar (as ocultas) os sábados, recusar comer animais proibidos e conservar os ritos de matança pela Lei Velha, guardar a Páscoa, cumprir jejuns de segunda e quinta-feira, o jejum de três dias oferecidos a rainha Ester….
    Mas, à medida que o tempo passa, a velha consciência vai-se adulterando. (…)
    Agora o que se perseguia não era o judaísmo como ideologia organizada, mas algumas ideias e práticas dispersas, também inculcadas pelos próprios inquisidores através do Edito da Fé e das sentenças dos autos-da-fé. O que se perseguia agora era mais a recusa, a diferença, marcada diária e cruelmente pelos inquisidores e a própria sociedade: cristão-novo, homem da nação, da nação da “raça” hebreia.
    A pregação contra os luteranos, os luteros, fizera dos luteros, na consciência pública o nome dos maus. Agora os inimigos dos clérigos, para lhes chamarem de maus, chamam-lhes luteros.
    Os cristãos-novos que no século XVII morreram em Évora como judeus e conheciam a lei hebraica vivem fora e vieram de fora…Os outros relaxados, na quase totalidade, morreram como católicos.
    I.S. Révah pretende que, se os cristãos-novos morriam como católicos, era por medo do fogo, era por preferirem o garrote ao caminhar das chamas pelo corpo ainda vivo. A nosso ver, esta ideia não conforma inteiramente com a paz dos últimos momentos de muitas das vítimas. Ainda se poderia pensar que pretendiam defender as famílias do labéu de judaísmo mas, em geral, já toda a família passara pelas casinhas inquisitoriais.
    (…)
    Chovem acusações de irreverência, de maus tratos infligidos ao crucifixo e outros objetos sagrados. Tais atitudes revelam mais da contestação à ordem, ao sistema teocrático vigente que à afirmação doutrinal do judaísmo.
    … é abusivo identificar, como faziam os inquisidores, cristão-novo com judeu ou marrano. Não são só muitas das vítimas foram e morreram como cristãs como cristãos foram os largos milhares de cristãos (novos) que desapareceram no corpo social dos cristãos-velhos.
    pp.571-577

    Lava Jato e Inquisição – PARTE VII
    Judaísmo e Reforma
    Situação ideológica em meios ligado ao poder supremo (“Mercadoria espiritual” de João de Barro) as travas mestras deste diálogo filosófico suporta o combate aos três graus de heresias que, segundo João de Barro, levavam as almas à condenação eterna:
    1. Duvidar da eternidade da alma;
    2. Duvidar da pena e da glória no outro mundo e
    3. Questionar sobre a lei mais justa
    Dois graus em três das heresias sustentavam doutrinas fora de qualquer lei:
    1. As que não há mais que nascer e morrer,
    2. As que de que as almas fenecem com os corpos, e, portanto, não há glória nem pena no Paraíso, no Purgatório ou no Inferno.
    É a Lei Velha ou Lei Judaica as leis cujo combate se demora João de Barro. E embora ironize com cáustico sarcasmo a atividade dos judeus, enaltece a força da organização judaica e a simplicidade da sua lei. Atreve-se mesmo a comparações que colocam a Lei Velha em plano mais favorável que a Lei Nova. (por exemplo, o monoteísmo radical versus a trindade e os santos, e o “incentivo” bem mais seguro da vinda do novo Rei ou do Messias que os virá libertar de cativeiros e opressão do que a promessa do paraíso depois da morte para cristãos e mouros). A lei dos cristãos e dos mouros tem da Lei Velha a maior parte.
    Não nos interessa saber se é esta a opinião de João de Barros ou tão-só uma opinião que circulava em certos meios dirigentes a que pertencia.
    A contestação ideológica ao sistema não toma em Portugal a forma organizativa das reformas europeias. São insignificantes os números dos processos movidos a reformados das seitas europeias, calvinistas e luteranas. Os números [objetivos] concordam com a opinião dos inquisidores.
    sobre um incidente sacrilégio-provocação os inquisidores afirmam não foram mouros “porque os não há neste reino”; reformados também não “ porque são gente humilde, pobre e de pouco porte que se não podiam atrever”, segue-se que só poderia ser obra dos judeus, isto é, dos cristãos-novos “espalhados por todo o reino”.
    Os “erros” da Reforma eram assumidos em Portugal com a defesa da Lei Velha, pela torrente judaica ou judaizante. Atribuem-se a Erasmo “erros” que os inquisidores atribuem aos errores judaicos. Assim o judaísmo português (e porventura o peninsular) constituía o veículo privilegiado da entrada e propagação das ideias da Reforma em Portugal.
    Entramos pela via larga dos Reformados mas o esqueleto, o fundo, é retirado da crença hebraica.
    Houve Reformados em Portugal mas contam-se pelos dedos da mão: 24 processos de luteranismo e calvinismo, 0.3% dos processos da Inquisição de Évora no período de 1533-1668.
    As ideias da Reforma passavam em Portugal pela palavra dos seguidores ocultos da Lei Velha.
    Separação e gueto.
    Doutrinal, ideológica e cultural é a diferença entre católicos apostólicos romanos e judeus. Já a distinção cristãos-novos e cristãos-velhos não revela a doutrina, publicamente assumida, mas de um gueto social, importo por pressão religiosa, política, penal e social.
    O Rei de Espanha forçou os judeus a abraçar a religião do Estado ou a exilar-se, os que abraçavam a religião tinham todos os direitos dos espanhóis de raça e fundiram-se tão bem com os espanhóis que pouco tempo depois nada deles subsistia nem mesmo a recordação. As coisas foram muito diferentes com aqueles a que o rei de Portugal obrigou-se a converter-se. Continuaram a viver separados porque eram excluídos de todos os cargos honoríficos.
    As propostas de abolição das distinções social entre cristãos-novos e cristãos-velhos e de aplicação de penas e multas por infamar, na ausência ou na presença, com o nome de judeu, cristão-novo ou outro qualquer era rechaçadas pelos inquisidores sob a alegação a igualdade nos foros e nos ofícios e benefícios e a abolição da tal distinção não é possível porque “muitos homens da nação são judeus encobertos”.
    A distinção social cristãos-novos/ cristãos-velhos é defendida pelos inquisidores nas palavras e nos atos por meios políticos usando pretextos religiosos.
    Que interesses impulsionavam a Inquisição a manter a distinção social cristãos-novos/cristãos-velhos, a ponto de fabricar judeus e quantas vezes conscientemente a frio? Seria somente porque se alimentava do seu sacrifício? Ou seria também e sobretudo porque os círculos clericais e nobiliárquicos, devoradores de rendas e que ocupavam os mais altos cargos públicos tinha necessidade, para se conservarem no Poder, de manter no gueto, de segregar forças mais dinâmicas da sociedade portuguesa?
    pp. 581-586

    Lava Jato e Inquisição – PARTE VIII
    Cristãos-novos e homens de negócio
    Na guerra de classes, o nome cristão-novo tende a identificar-se com o grupo detentor do capital comercial.
    Para este inquisidor, (…), os cristãos-novos são identificados como homens que têm casa … nos melhores bairros de Lisboa, ostentando os melhores cavalos e liteiras com cortinados de damasco; arrendatários das sisas [Imposto de transmissão; imposto aplicável a transações de propriedades imobiliárias, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/sisas [consultado em 28-06-2019]; açambarcadores de cereais que depois vendiam com altos preços [Reter tudo ou quase tudo para si. = ABARCAR, ABRANGER, MONOPOLIZAR, “açambarca”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/a%C3%A7ambarca [consultado em 28-06-2019]; arrendatários dos bens da regatia que é o mantimento dos pobres; arrendatários da alfândega e dos contratos régios; compradores dos papéis da dívida pública por metade e um terço de seu valor a órfãos e donzelas e viúvas; arrendatários do contrato dos negros da Guiné. Nem uma só palavra dirigida à religião, nenhuma acusação concreta de judaísmo.
    Não se trata de uma posição isolada. Os próprios cristãos-novos se assumem como homens de negócio.
    (…)
    … o padre António Vieira no Relatório de 1643…identifica os homens nação portuguesa espalhados pelo mundo com homens de grandíssimos cabedais.
    (…)
    Muitos outros documentos confirmam a identificação homens da nação/homens de negócio, embora estes não se esgotem totalmente nos primeiros.
    (…)
    Como caracterizar estes homens de negócio?
    (…)
    Estes homens de negócio podem ter “dinheiro pronto em qualquer parte do mundo e inteligências secretas em todos os reinos, tão necessários ao bom governo”. Bastam somente as suas cartas “para acreditar ou desacreditar um reino” [padre António Vieira]
    As informações caminham pelos conventos e com os eclesiásticos para Roma e daí para diferentes pontos da Cristandade. Mas as mercadorias são mais céleres e passam por todas as fronteiras levando as notícias consigo: notícias, papéis e livros.
    (…)
    As “forças da contratação (são) maiores que o poder das armas”, escrevia Duarte Gomes Solis [feitor de canela na Índia]. E a excelência de Lisboa “que é um reino por si” assentava no “comércio das suas conquistas” cujas malhas passavam pelas forças da contratação.
    Duarte da Silva, um entre outros assentistas de Lisboa [Fornecedor de mantimentos para as tropas, mediante quantia assentada.], desenvolvia o seu movimento comercial e financeiro no espaço onde se movimentavam as forças principais que impulsionavam a riqueza na Europa dos meados do século XVII. Da sua sede em Lisboa mantinham ligações com correspondentes que se espraiavam pelas seguintes regiões: [Portugal e Ilhas, Brasil e América, África, Ásia, Europa Mediterrânea e do Norte].
    As comunicações deste empório são marítimas. Que senhor feudal poderia ufanar-se em Portugal de tão vastas ligações e poder?
    (…)
    Compreende-se agora por que é que duas mil famílias – certamente poucas poderiam ombrear com Duarte da Silva – incomodava tanta gente. Incomodavam porque tinham grande poder econômico, nacional e internacional, e este poder tendia a apropriar-se do poder político e ideológico que, no estado teocrático da monarquia ibérica, estava, em última instância, nas mãos do alto do clero e do seu instrumento do Poder – o Santo Ofício das Inquisições.
    A luta desencadeada pelos inquisidores contra os cristãos-novos configurou uma terrível guerra social e de classe que corroía as altas esferas do Poder, organizando antagônicos “bandos que destroem tudo” [Duarte Gomes Solis].
    Não são apenas os bens dos cristãos-novos o que os inquisidores cobiçam, embora se alimentem deles, como vimos. A sua intenção máxima é impedir a sua ascensão e a ascensão das ideias novas que esta gente traz consigo. Para isso vale tudo: sequestro, confisco, desonra, humilhação, fabrico de judeus, isolamento com o epíteto de judeus no corpo das cidades e vilas, afastamento por lei dos principais cargos da administração e da “nobreza”, liquidação física com a morte mais infame.
    Nesta guerra social, as armas políticas são desiguais mas a força do cabedal é tamanha que os inquisidores e o alto clero impõem no início do século XVII as leis chamadas de limpeza de sangue, penalizando os casamentos entre os cristãos-novos e os cristãos-velhos, impedindo os cristãos-novos a ofícios públicos e dignidades e, consequentemente, travando a sua ascensão aos mais altos cargos do Estado. Vedavam-lhes a profissão de médico, boticário, piloto, entre outras, e a entrada nas ordens religiosas militares. E os penitenciados, além do escárnio do sambenito, ficavam proibidos de usar vestidos ricos, adornos de ouro ou prata, andar a cavalo ou de liteira.
    (…)
    Romper o cerco
    Escrevemos há pouco que os meios dirigentes da teocracia portuguesa e ibérica precisavam de um inimigo ideológico interno, de um bode expiatório, simultaneamente para aplacar a caldeira tumultuária da turba e para travar o avanço social, político e ideológico das forças de contratação e do cabedal.
    Mas a inversa também nos surge como verdadeira. Os homens de negócio, os homens da nação não se reconheciam na ordem teocrática vigente, não abraçavam os valores-modelo que as universidades reproduziam, valores que não favoreciam o desenvolvimento de suas atividades e implicitamente do País.
    O comércio à distância, a colonização e as ligações com o império colonial geravam dia a dia um mundo novo cercado pelas leis, regras e valores do mundo teocrático de cariz feudal. Era preciso romper o cerco, abrir caminho às novas elites e às novas ideias. O terreno estava, pois, propício para o germinar das sementes da Reforma.
    Só que em Portugal, ligada aos homens de negócio, persistia uma ideologia milenar organizada, a da Lei Velha, que ainda por cima bendizia o comércio e o negócio e enricava seus fiéis. Por isso mesmo, muitos homens da nação, praticando publicamente os ritos católicos, enriquecendo com altares e esmolas as igrejas das cidades e das vilas, dirigindo confrarias, deixavam ver no seu coração as palmas do judaísmo, um judaísmo contestação, um judaísmo esquecido dos ritos, da língua e das orações, um judaísmo aberto a ideias capitais dos reformados europeus. Era como um fogo que lavrava ocultamente e nunca se extinguia.
    Não estamos a inventar uma ideologia da contestação. Essa ideologia existia como explicação e domínio do mundo humano, ideologia com raízes antigas, culturalmente muito fortes. Mas mesmo aqueles que tinham abraçado as ideias-chave e os ritos católicos tridentinos, aqueles que encimavam as suas cartas comerciais com “+Jesus Maria José” defendiam no campo econômico e social uma política favorável aos interesses mercantis, uma política que deveria ser liderada pelos homens da contratação.
    (…)
    Podemos sintetizar os tópicos do programa
    Entregue-se a direção da fazenda real aos homens de negócio; favoreça-se com o apoio da lei e da máquina do Estado os homens de contratação e os mercadores que são “os olhos da república”; reestabeleça-se o Consulado em Lisboa e criem-se Bolsas em Lisboa e noutras cidades; organizem-se universidades de mercadores que forjem novos quadros preparados para a vida mercantil e reproduzindo novos valores; desenvolvam-se as artes mecânicas e as manufaturas em Portugal e na Índia; favoreçam-se em privilégios e não se discriminem os homens da nação. Estas algumas das linhas de força advogadas por Duarte Gomes Solis no anos de 1628.
    (…)
    No ano de 1646 os homens de negócio e os seus partidários no aparelho de Estado restringem um pouco mais o programa mas introduzem medidas políticas novas. Além da reforma dos estilos do Santo Ofício com “abertas e publicadas”, isto é, com acesso do acusado do conhecimento da acusação e do acusador, além da exigência de que cesse a distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos, reivindicam e obtêm momentaneamente que o capital investido no comércio fique livre do confisco inquisitorial.
    Mas teremos de esperar pelo século XVIII e o governo do marquês de Pombal para que se acabe de vez com a distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. O inimigo ideológico ganhará então novos contornos: ao judaizante sucede o pedreiro-livre ou mação.
    E quando as Cortes Constituintes de 1821 abolirem a Inquisição e proclamarem a liberdade de pensamento e de culto, afinal judaísmo não havia, tão-só aqui e ali, sobretudos nos pequenos lugares, raros vestígios “arqueológicos” de práticas de uma crença antiga.
    Portugueses da nação.
    Em geral, os historiadores deixam na sombra e no silêncio a comunidade dos cristãos-novos. Quando lhes referem usam muitas vezes a palavra judeus, excluindo-se de certo modo com este epíteto da história e da cultura portuguesas como os inquisidores os excluíam do corpo dos bons portugueses.
    Este caso dos cristãos-novos, marranos ou não, constitui um exemplo flagrante da prática de segregação de uma parte dos portugueses, de uma parte de nosso patrimônio cultural e humano. Certos historiadores assumem assim a visão assumida antanho pelos grupos dominantes, segregando ou deixando na sombra aqueles que eles segregaram, tornando-se quase passivos dos seus valores.
    (…)
    Mas voltando aos cristãos-novos. Nasceram, viveram, amaram, morreram em Portugal. Os que buscaram o exílio declaravam-se e declaravam-nos portugueses. Porque se haveria de recusar a estes homens e mulheres a cidadania portuguesa? Porque se esquecem as suas comunidades derramadas pela Europa, o Próximo Oriente e outros pontos do globo? Seriam godos, cristãos-velhos sem raça de mouro ou judeu todos os portugueses desse tempo?
    Outros aceitam a sua estada e passagem por Portugal mas indicando-os como exilados de Espanha, no que concordam muitos espanhóis. Por certo houve muito exilado de Espanha. Não esqueçamos, porém, que os que cá viviam desde tempos remotos e bem anteriores a própria nacionalidade, ainda não cristãos-novos mas judeus. Andariam por 30.000 os que viviam em Portugal antes da expulsão dos judeus da Espanha. Muito destes portugueses possuíam apreciável fortuna, ciência e cultura próprias e é conhecida a sua contribuição para o estabelecimento da navegação científica por parte dos portugueses.
    E os que vieram de Espanha não se afeiçoaram durante gerações no solo pátrio? Não cantaram na língua portuguesa, apesar do avanço da castelhana? Não estabeleceram gramáticas, não ensinaram na universidade?
    [Muitos nomes de portugueses famosos e ilustres] porque tiveram sangue cristão-novo haveremos de excluí-los, contra os fatos e sua própria vontade, da nacionalidade portuguesa? Nem os inquisidores, que lhes recusavam por certo o caráter de bons, os excluíam da sua qualidade de portugueses.
    E demonstra a participação dos cristãos-novos em todos os acontecimentos marcantes da história portuguesa de aquém e além mar.

  4. Falta explorar as estranhíssimas condições em que ocorreu o “”acidente”” providencialmente sofrido por Teori Zavascki em 19 de janeiro de 2017. As suspeitas e indícios de que foi um atentado continuam vivíssimas. Antes que tirem do ar ou dificultem/impossibilitem a busca, segue a matéria escrita por André Barcinski. Aos mais entendidos sugiro verificar quando foi escrito o PS, no pé da matéria (que omito na transcrição abaixo, mas que pode ser visto em https://blogdobarcinski.blogosfera.uol.com.br/2017/01/20/tragedia-no-mar-de-paraty-os-bastidores-do-acidente-de-teori-zavascki/)
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    Tragédia no mar de Paraty: os bastidores do acidente de Teori Zavascki André Barcinski 20/01/2017 11h55 Às 13h50 da tarde de quinta-feira, quando o avião transportando o ministro Teori Zavascki e mais quatro pessoas caiu no mar próximo à cidade de Paraty, chovia torrencialmente. Por volta de 15h, a chuva parou, e resolvi fazer um passeio de barco com a família. Fomos para uma praia a cerca de dois quilômetros da Ilha Rasa, local da tragédia. Quando retornamos, por volta de 17h, havia um monte de ligações e mensagens da “Folha de S. Paulo” no meu celular. O editor informou o ocorrido. Saí correndo de casa e fui ao local em um pequeno barco de pesca. Nas proximidades da Ilha Ra… – … – Veja mais em https://blogdobarcinski.blogosfera.uol.com.br/2017/01/20/tragedia-no-mar-de-paraty-os-bastidores-do-acidente-de-teori-zavascki/?cmpid=copiaecola

  5. Só vou ficar feliz quando aparcer a figura de Barrozo( funcionario da Globo) nos diálogos!!!!!! O pseudo moralista !!!!!

  6. Mas, os juízes dos tribunais superiores não poderiam ter desconfiado/percebido alguma manobra? Se perceberam, por que ficaram quietos? Por que continuaram com a condenação de Lula? Eita históriazinha “mau-contada”!

  7. Não é só o Fachin que é nosso, Tem o Fux Peruquento, o Tófin, tem aquele que é considerado Operário Padrão da Globo, tem mais alguns no armário etc e etc. Bando de Covardes,

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